A ADENE – Agência para a Energia tem vindo a trabalhar com algumas empresas e entidades públicas no sentido de desenvolver um projeto de Certificação Energética para as frotas automóveis de uso profissional.

Este processo não tem qualquer obrigatoriedade legal mas é um contributo muito importante para que se possam identificar os campos que merecem intervenção e as ações necessárias a desenvolver para tornar mais eficiente o uso da frota.

O que, facilmente se depreende, traduz-se em menores custos de utilização e na redução da pegada ecológica.

Esta entidade independente está igualmente a avaliar as empresas candidatas ao prémio “Frota Verde” que a Fleet Magazine vai entregar na sua Conferência anual, que este ano se realiza a 9 de novembro no Centro de Congressos do Estoril.

Neste âmbito, tem vindo a  escolher dados e a proceder a entrevistas de que resultará a seleção do candidato cuja frota automóvel desenvolveu ou está a desenvolver iniciativas no domínio da melhoria da eficiência das suas viaturas.

Mas em que consiste exatamente o projeto de certificação energética da frota que a ADENE tem vindo a desenvolver?

Qual a metodologia do processo, os parâmetros analisados e os instrumentos de análise utilizados, que tipo de dados são avaliados?

Paulo Calau, diretor de Indústria e Mobilidade da ADENE dá as respostas:

“O Sistema de Etiquetagem Energética de Frotas (SEEF) consiste num sistema voluntário de certificação que permite a qualquer organização detentora de uma frota de veículos rodoviários (para já, à exceção de frotas de veículos pesados de mercadorias) determinar o seu nível de desempenho energético em termos operacionais.

Assim, analogamente à etiquetagem de aparelhos elétricos para uso doméstico (p.e. frigoríficos, máquinas de lavar roupa, etc.), as diferentes classes energéticas  representam o desempenho energético global da operação da frota, permitindo à  organização comunicar a classificação energética da sua frota numa ótica de  responsabilidade social, associada a poupanças energéticas e de custos.

Esta certificação energética de frotas tem o potencial de contribuir para a redução dos consumos energéticos da frota, através da promoção de comportamentos e políticas energeticamente mais eficientes, introdução de veículos mais ecológicos e, o incremento de atividades de manutenção preventiva”.

Que parâmetros da frota são avaliados e de que forma decorre a recolha dos dados?

O modelo de avaliação criado tem por base uma metodologia que considera os inúmeros fatores que podem condicionar o consumo global energético de uma frota.

Consequentemente é fundamental que exista uma recolha de dados e informações sólida, que deverá contemplar as especificações previamente definidas. A estrutura da certificação energética de frotas, e dos elementos a recolher, pressupõe a sua divisão em duas partes: conformidade processual (A) e indicadores qualitativos e quantitativos (B).

A conformidade processual é analisada através das respostas a um inquérito/auditoria realizado ao responsável pela frota.

Este inquérito foca-se nos seguintes elementos:

  • sistema de gestão de frota e de informação operacional;
  • procedimentos e calendarização da manutenção preventiva e obrigatória;
  • modelos de avaliação de condução e planos de formação em eco condução;
  • inclusão de critérios de eficiência energética na política de seleção e aquisição da frota;
  • comprometimento com outras ações de carácter ambiental, de qualidade ou social, na frota ou empresariais, que possam ter impacto na sua mobilidade.

Que dados das viaturas são necessários, como são obtidos os da sua utilização e como são avaliados?

Os indicadores de consumo energético qualitativos e quantitativos são avaliados através de elementos que devem ser facultados por meio do preenchimento de uma folha em Excel,  com os principais dados de cada veículo, nomeadamente características técnicas, emissões de CO2, consumo de combustível e quilómetros percorridos.

Atualmente, a ADENE adotou uma metodologia de recolha de informação processual e de desempenho das frotas através do contacto direto com as empresas. Mas pretende, a médio prazo, desenvolver uma plataforma online para o registo de toda a informação e emissão dos certificados.

A telemática e a proteção de dados

Qual o peso da telemetria em todo este processo, que risco há de colidir com o RGPD?

A telemetria é extremamente importante para a eficaz gestão dos consumos de energia associados às deslocações. Mas a localização das viaturas por GPS, sendo útil para uma  gestão de rotas eficiente, pode ser a que coloca mais entraves do ponto de vista do RGPD.

Para a ADENE seria importante encontrar um ponto de cruzamento entre o cumprimento do RGPD e a gestão de uma frota de transportes. Eventualmente sem identificação do  condutor, mas, neste caso, perdendo-se a capacidade de formar aqueles que demonstrem mais necessidade para tal.

Quanto tempo deve demorar, em média, um estudo da frota?

Dependendo da dimensão da frota e da qualidade da informação, pode demorar entre 1 a 2 meses. No futuro, com a plataforma será muito mais célere.

Mas que vantagem traz para as empresas, não sendo ainda obrigatório?

Obrigatória ou não, a certificação energética permite às empresas demonstrarem o seu  empenho numa gestão eficiente e sustentável das suas frotas procurando obter níveis de classificação superiores. Outra vantagem a médio prazo é a possibilidade de efetuar  processos de ‘benchmarking’ por tipologia de frotas.

No futuro, associar a certificação energética de frotas a legislação de eficiência energética, com obrigatoriedade de execução de auditorias energéticas, permitirá complementar o  trabalho dos auditores energéticos, bem como incrementar a visibilidade das auditorias e das medidas de melhoria implementadas.

Contudo, há indícios de que possa vir a ser obrigatório? Já acontece em algum mercado europeu?

A ADENE desconhece processos de certificação energética de frotas obrigatórios na Europa e não há indícios de que esta possa vir a ser obrigatória.

Resultados de ações anteriores e o futuro papel da agência

Além do projeto-piloto com a ALD, a ADENE desenvolveu ou está a desenvolver avaliações idênticas para mais empresas?

Para além das empresas no âmbito do projeto piloto com a ALD, a ADENE encontra-se a desenvolver processos de certificação energética com a APA, TST, AVIC e os municípios de Lisboa, Santarém, Viana do Castelo, e Setúbal, bem como os SMAS de Almada.

Já há resultados mensuráveis dos projetos anteriores? Qual o grau de recetividade à introdução de propostas?

O grau de recetividade tem sido elevado dada a curiosidade na temática, na sua metodologia e na futura valência institucional para as empresas.

A ADENE tem procurado fazer um follow-up e, neste momento, verifica que as empresas têm adotado novas políticas internas de compras e de formação de condutores,  identificadas nos Certificados.

A ADENE pretende ser entidade certificadora ou apenas criar um padrão de avaliação?

Neste momento, a ADENE desenvolveu um padrão de avaliação, mas pretende vir a ser a  entidade gestora do sistema, dinamizando o mercado de auditores de frotas de transportes acreditados para o SEEF e as empresas de formação e tecnologias associadas à gestão  deficiente de frotas.

Algumas medidas simples de implementar que ajudam a reduzir gastos energéticos de uma frota

  • Introduzir uma pool de viaturas ou sistema de carsharing;
  • Desenvolver formação em eco condução, associado à avaliação da condução;
  • Cuidar da manutenção preventiva das viaturas;
  • Selecionar veículos com combustível/sistemas de propulsão alternativos;
  • Selecionar veículos com emissões CO2 mais reduzidas;
  • Equipar veículos com pneus acima da classe energética C.

Papel e âmbito de ação da ADENE

A ADENE é a agência nacional de energia,uma associação de direito privado, sem fins lucrativos e de utilidade pública, que tem como missão desenvolver atividades de interesse público na área da energia, do uso eficiente da água e da eficiência energética na mobilidade.

Tem a ambição de promover a transição energética, mobilizando cidadãos e instituições, para uma economia mais competitiva, sustentável e de baixo carbono.

O Decreto-Lei n.º 47/2015, de 9 de abril,veio dar um maior enfoque à atuação da ADENE o domínio da eficiência energética na mobilidade, passando a fazer parte da sua finalidade “a
promoção e a realização de atividades interesse público na área da eficiência energética na mobilidade”.

É neste contexto que a Agência para a Energia está a desenvolver novos projetos  dinamizadores da eficiência energética dos transportes em vários domínios, tendo como  base a sua experiência na gestão operacional de outros processos de certificação.