GuillaumeLeobardyHá várias teorias acerca do desenvolvimento das crises financeiras e sobre como evitá-las, normalmente sem consenso generalizado entre os economistas, mas um coisa é certa: os seus efeitos são de extensão variável e muitas vezes imprevisíveis, o que dificulta qualquer previsão sobre o futuro, não menos no mercado de Renting.

No contexto português, tenho infelizmente uma outra certeza: os efeitos a curto prazo que hoje resultam numa enorme pressão causada pelos aumentos sucessivos do “preço do dinheiro”, pela má performance do mercado de usados e pelos aumentos de impostos, devem continuar nos próximos tempos.
Por outro lado, a crise é também um acelerador de mudança de algumas características intrínsecas ao mercado português. A tipologia das frotas está a mudar, tendendo mais para veículos utilitários e menos para veículos de “status”, por força da subida do preço dos carros. A proliferação dos impostos sobre veículos ligeiros referentes às emissões de CO2 na Europa (19 países da UE em 2011 contra apenas 11 em 2007 segundo um relatório da ACEA) tem contribuído fortemente para a alteração do tipo de veículo circulante. Em Portugal, as empresas têm alterado significativamente o perfil dos veículos atribuídos aos seus colaboradores, optando mais pela redução de motorizações do que propriamente pela substituição integral das suas frotas por veículos movidos a combustíveis alternativos – a questão do preço ainda não o permite e a crise não veio ajudar. Somos hoje um país em que a média de idade dos veículos em circulação está ligeiramente acima dos 10 anos, face à média europeia de 8,2 anos.
O mercado dos novos veículos está a sofrer um reajustamento, mas uma frota envelhecida é uma frota com mais custos de manutenção e maior dificuldade de venda no mercado dos usados, pelo que a renovação do parque é inevitável, se bem que a uma velocidade menor.
Estamos prontos para o futuro?
Do lado do produto, se compararmos hoje a evolução dos diferentes métodos de aquisição automóvel, é interessante verificar que a taxa de penetração do renting (cerca de 17% em 2011 vs 13% em 2010) nas vendas de novos veículos tem crescido de forma sustentada, um dos poucos sinais positivos para as gestoras de frota nacionais, e que mostra a resiliência do renting em contextos de crise.
Os serviços de gestão de frotas sem financiamento, tão bem implementados em alguns países europeus e que permitem alargar o leque de oferta das operadoras num contexto de escassez de liquidez, ainda não têm a receptividade local desejada – a questão do financiamento é chave. É importante que a procura acompanhe a oferta e aqui as gestoras de frota têm algum trabalho de “pedagogia” a fazer no mercado.
Do lado dos clientes e face às pressões de redução de custos, eles serão cada vez mais exigentes, não só na fase da negociação mas também ao longo da vida do contrato, por exemplo, em termos de acesso em tempo real à informação de gestão da sua frota, seja para controlar a entrega atempada de um veículo ou para calcular os custos totais da sua frota.
O preço mantém-se hoje o factor de escolha de parceiro, o que coloca em causa relações de fidelidade cuidadosamente cultivadas; serviços não essenciais são pouco valorizados, permanece ainda uma cultura de “eu consigo melhor” – especialmente no segmento das frotas até 20 veículos. Mas o actual contexto obriga à maior concentração das empresas no seu core business, o que significa que o outsourcing continuará a ser a melhor opção para a gestão da sua mobilidade.
Não menos importante é o facto que a necessidade de redução de custos por parte das empresas tem levado a cortes a diversos níveis, tocando também nos recursos humanos e na racionalização de espaço de escritório existente.
Há países onde as empresas têm lugar hoje para apenas cerca de 60% dos seus colaboradores, obrigando ao desenvolvimento de novas formas de trabalho remoto, em casa ou em locais secundários. Esta tendência tem um impacto nos perfis de mobilidade e cada vez mais os colaboradores deixarão naturalmente de ter “carro de empresa”. Se juntarmos a perspectiva desinteressada das novas gerações acerca da questão da propriedade do veículo, a ascensão das tendências de car sharing e car pooling serão cada vez mais uma realidade, embora Portugal esteja ainda a dar os primeiros passos nesta direcção.  
Do lado dos operadores, os gestores de frota vão tornar-se cada vez mais gestores de mobilidade e não tanto “financiadores do mercado”, gerindo a mobilidade global dos seus clientes.
A revolução já em curso em vários países europeus (exemplo da Holanda e Bélgica) baseada em conceitos de car-sharing, na banalização da telemática, dos smartphones com acesso à web e de novas funcionalidades de geo-referenciação, será também uma realidade inevitável no nosso país, onde os maiores operadores já oferecem aos seus clientes, há largos anos, entre outros, excelentes ferramentas web de acesso à informação de gestão das suas frotas.  
Os próximos anos não serão fáceis para o mercado e este deve continuar o seu processo de consolidação (menos sete operadores do que há cinco anos atrás), levando ao incremento da dimensão das frotas sob gestão para atingir necessariamente aquilo a que os franceses chamam “taille critique” (tamanho crítico): a dimensão que uma empresa deve atingir para que possa conseguir o nível de competitividade necessário à sua sobrevivência ou desenvolvimento.
Só as empresas verdadeiramente sustentáveis conseguirão oferecer aos seus clientes o nível de serviços, inovação e sistemas a que o mercado cada vez mais obriga. A tranquilidade e transparência na actuação são os melhores conselhos para ultrapassar esta “tempestade” sem fim anunciado”.

Por: Guillaume de Léobardy