Em 2017, o financiamento renting aumentou no número de novos contratos, embora sem acompanhar o crescimento global do mercado automóvel.

Corroborando os resultados do mais recente Observador Cetelem 2018, e confirmado pelas gestoras de frota, com o contributo de ENI e particulares.

De facto, há cada vez mais empresários em nome individual e consumidores particulares a aderirem ao AOV, não só por culpa da aposta de algumas gestoras, como pelo contributo das próprias marcas automóveis, que veem neste tipo de financiamento uma forma atraente de promoção dos seus modelos.

Veja-se o número cada vez maior de campanhas de carros com rendas atraentes, promovidas pelos importadores e até por cadeias de retalho como os casos da FNAC, Worten ou Norauto.

“O Renting continuará como um produto atrativo para Clientes Empresas e cada vez mais também para Clientes Particulares”, diz a ALD Automotive, empresa que faz a gestão das viaturas das campanhas da Norauto e da Worten, além de assegurar a oferta renting de muitas marcas automóveis.

A gerir 18 mil carros em Portugal no final de 2017 a gestora francesa destaca a importância das cerca de uma dezena de produtos “white-label”, desde o canal bancário a marcas automóveis, para o sucesso alcançado nesse segmento do mercado.

A Leaseplan também vê nos particulares um canal de vendas importante e, além de estar a utilizar meios de comunicação não especializados e a internet para chegar ao grande público, estabeleceu a parceria com a FNAC e vai em breve divulgar mais iniciativas do género.

Por isso, na linha de orientação de proporcionar “qualquer carro, a qualquer hora, em qualquer lugar”, a gestora acredita “a tendência da conversão do leasing e da compra direta em opções de renting vai continuar a crescer em 2018, sobretudo nos segmentos das PME e particulares, que têm maior potencial de crescimento a curto/médio prazo”.

“Em 2017, a atividade de renting voltou a registar um crescimento de mais de 50% na carteira de clientes particulares”, reconhece também a Volkswagen Financial Services Portugal, outra das três gestoras que responderam ao inquérito enviado pela Fleet Magazine.

Em entrevista que pode ler na edição de março de 2018, o responsável da financeira cativa do construtor alemão, que não faz parte da ALF, diz que a empresa vai continuar a inovar na forma de chegar ao grande público.

Como está a fazê-lo com a recente campanha da SEAT e que vai estender a todas as marcas do grupo, dando ao cliente a “oportunidade de simular a sua solução de crédito ou renting, além da típica simulação do carro”.

Contudo, esta contínua digitalização do negócio vem acrescentar mais um desafio às gestoras: a rapidez de resposta na elaboração das propostas.

Grandes frotas continuam a contrair

Com um tecido empresarial muito fraccionado e com grande predominância de PME e empresários singulares, é natural esta apetência por parte das gestoras.

Além de não serem muitas as empresas com frotas acima da centena de unidades, o poder negocial e uma gestão já bastante especializada destas organizações, continua a assegurar algum volume às gestoras mas retira-lhes cada vez mais rentabilidade individual à gestão de cada viatura.

Por outro lado, além de estarem continuamente à procura de outras formas de mobilidade, fiscalmente mais atraentes, algumas das grandes empresas estão a externalizar parte dos seus serviços o que, naturalmente, leva a uma redução da frota própria.

Um outro fator pode ter contribuído para uma evolução menor do renting em 2017 e para a sua contração no segmento dos comerciais: uma conjuntura favorável ao nível do financiamento (mais facilidade de crédito/taxas de juro mais baixas) e a atual força do mercado de usados estão a tornar aliciante a aquisição de viaturas por parte das empresas, por via do leasing ou do crédito.

E uma vez que a assumpção do risco de revenda parece menor, as empresas optam por ter um maior controlo sobre a sempre delicada questão dos recondicionamentos.

Não esquecendo que, quer por parte das gestoras como das próprias marcas automóveis, existe a possibilidade de contratualizar planos de manutenção por períodos bastante alargados.

Renting não acompanha o crescimento das matrículas

Numa análise pura e crua aos valores do renting no final de 2017, ao volume deste financiamento e ao seu desempenho global face aos números totais de venda no final desse ano verifica-se que ele valeu 12,56% do total das matrículas atribuídas no ano passado.

A conclusão é tida com base nos valores divulgados pela ALF e comparada com os números da ACAP, sendo que os primeiros não incluem, por exemplo, os valores da VWFS (a ALF só contabiliza os dados dos seus associados) e os segundos assumem 15 a 20% de auto-matrículas que se estima tenham sido realizadas em 2017.

No global, um crescimento de 2,8% face a 2016, não acompanhando os 7,6% de aumento do mercado. (ver quadros no final)

No caso dos comerciais, verificou-se mesmo uma contração de 5,34% no número de unidades financiadas, apesar do valor do investimento ter crescido cerca de 1%. (ver quadros).

No entanto, a produção total, quer em espécie, quer no acumulado de veículos sob gestão é mais significativo.

No primeiro caso, este sector movimentou mais 204 mil euros face a 2016 (crescimento de 13,96%) e passou a ter mais 7,26% de veículos sob gestão.

A disparidade deste último valor face ao crescimento anémico do número de novos contratos em 2017 pode significar boas perspetivas para os próximos 2 anos.

Leasing e crédito disparam

Dados da ALF e ainda do Banco de Portugal mostram um crescimento bastante expressivo da atividade leasing em 2017 e ainda um crescimento do total de crédito destinado ao financiamento de veículos novos e usados.

As estimativas da associação revelam que o leasing automóvel contribuiu com 1,4 dos 3 mil milhões de euros do total deste financiamento no ano passado, crescendo mais 25% face ao ano anterior.

No que se refere ao crédito ao consumo, o Boletim Estatístico do Banco de Portugal indica uma subida de 14% no número de novos créditos automóveis, entre novos e usados.

Apesar dos quase 199 mil contratos celebrados em 2017 serem inferiores aos  contratualizados noutras áreas do consumo, o automóvel foi, individualmente, responsável pelo maior montante financiado: 2,79 mil milhões de euros, mais 21% face a 2016.

Praticamente 63% deste valor destinado à aquisição de veículos usados.