Faltam 15 semanas para terminar o período de transição do Brexit e as principais associações representantes da indústria automóvel europeia apelaram à União Europeia e ao Reino Unido para que possa ser garantido um Acordo de Comércio Livre (ACL).

Evitar o “não acordo” no final da transição é fundamental para evitar o que poderá custar, em perdas comerciais, num prazo de cinco anos, cerca de 110 mil milhões de euros ao sector automóvel. O “não acordo” pode colocar postos de trabalho em risco, num sector que, atualmente, emprega uma em cada 15 pessoas da União Europeia e do Reino Unido.

Sem um acordo em vigor até ao final deste ano, ambas as partes (União Europeia e Reino Unido) seriam obrigadas a manter relações comerciais sob as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), incluindo uma tarifa de 10% sobre os ligeiros de passageiros e 22% sobre os comerciais ligeiros e camiões, tarifas essas que são superiores às margens da maioria dos fabricantes e que teriam de ser repercutidas aos consumidores. Estas tarifas tornariam os veículos mais caros.

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Mas não seriam apenas os condutores a serem afetados. Também os fabricantes de componentes para automóveis seriam atingidos por essas tarifas. Tal aumentaria o preço de produção e levaria a mais importações de componentes de outros países não pertencentes à União Europeia.

Estimativas da SMMT (que incluem ligeiros de passageiros e veículos comerciais ligeiros), com base na imposição de 10% de tarifa, mostram que em caso de “não acordo” está em risco a produção de cerca de três milhões de automóveis fabricados na União Europeia e no Reino Unido durante os próximos cinco anos.

Coronavírus e o impacto na produção

Antes da crise provocada pela pandemia do novo Coronaívurs (COVID-19), a produção anual de automóveis da União Europeia e do Reino Unido rondava as 18,5 milhões de unidades; Devido à pandemia, esse número já baixou para 14,9 milhões.

No caso concreto dos ligeiros de passageiros e dos comerciais ligeiros, uma redução da procura resultante de uma tarifa de 10% da OMC diminuiria cerca de três milhões de unidades produzidas nas fábricas europeias e do Reino Unido, o que se traduziria em perdas no valor de 52,8 mil milhões de euros para as fábricas do Reino Unido e de 57,7 mil milhões de euros para as fábricas europeias.

Assim, alcançar um Acordo de Comércio Livre UE-Reino Unido com disposições específicas para o sector automóvel é, segundo a AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, “fundamental para o sucesso futuro da indústria automóvel europeia”.

A AFIA acredita que o acordo deve incluir tarifas e quotas zero, regras de origem adequadas tanto para veículos com motores de combustão interna como para veículos alimentados a energias alternativas, bem como componentes e grupos propulsores. É também importante a criação de um quadro regulamentar, “para evitar divergências”.

As empresas devem conhecer de antemão a informação detalhada sobre as condições comerciais acordadas a partir do próximo ano para realizarem todos os preparativos necessários.

Deve também ser criado um apoio específico e um período de introdução gradual que permita uma maior utilização de materiais estrangeiros durante um período de tempo limitado, assegurando que as empresas estejam aptas a lidar com o final do período de transição.

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José Couto, presidente da AFIA, disse que “a indústria automóvel necessita de um acordo que mantenha a competitividade e permita às empresas continuarem a relação comercial com os seus parceiros britânicos. O Reino Unido é o quarto principal cliente dos componentes automóveis fabricados em Portugal”.

São signatárias do apelo à criação de um Acordo de Comércio Livre as seguintes associações automóveis:

  • ACAROM – Romanian Association of Automobile Builders
  • ACEA – Associação Europeia dos Construtores Automóveis
  • ACS – Automotive Cluster of Slovenia
  • AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel
  • AIA – Czech Automotive Industry Association
  • ANFIA – Italian Association of the Automobile Industry
  • AUTIG – Danish Automotive Trade & Industry Federation
  • BIL SWEDEN – Swedish Association of Automobile Manufacturers and Importers
  • CCFA – Committee of French Automobile Manufacturers
  • CLEPA – European Association of Automotive Suppliers
  • FEBIAC – Belgian Federation of Automobile and Motorcycle Industries
  • FKG – Scandinavian Automotive Supplier Association
  • FFOE – Austrian Association of the Automotive Industry
  • ILEA – Luxembourg Automotive Suppliers Association
  • MGE – Hungarian Vehicle Importers Association
  • PFA – French Association of the Automotive Industry
  • RAI – Dutch Association for Mobility Industry
  • SDCM – Polish Association of Automotive Parts Distributors and Producers
  • SERNAUTO – Spanish Association of Automotive Suppliers
  • SIMI – Society of the Irish Motor Industry
  • SMMT – Society of Motor Manufacturers and Traders
  • VDA – German Association of the Automotive Industry