As barreiras à penetração de automóveis chineses na Europa não são a qualidade ou a segurança. Enquanto estes aspetos podem ser ultrapassados com trabalho e experimentação, as sucessivas disposições europeias em matéria de emissões colocam aos construtores chineses desafios complexos ao nível da tecnologia envolvida para controlo de emissões e, sobretudo, da legislação e dos custos de produção que este tipo de exigências acarreta.
Este complicado equilíbrio entre capacitação e competitividade é mais fácil de obter com um modelo 100% elétrico, cuja tecnologia motriz é menos complexa, envolve menos componentes e não está sujeita ao escrutínio europeu das emissões de CO2 e NOx. A construção modular, que permite o desenvolvimento de modelos diferentes a partir de uma mesma base e dos mesmos sistemas mecânicos, é mais fácil de implementar, enquanto a eletrónica simplifica parte do trabalho de assistência, já que alguma pode ser feita over the air ou facilmente ser implementada através de agentes nos mercados onde se pretende operar. Idealmente já estabelecidos no sector, para simplificar as intervenções, previstas e não previstas, em áreas mais tradicionais, como o sistema de travagem, iluminação, chapa e pintura, por exemplo.
A compra do veículo pode acontecer através de um processo híbrido, que envolve a aquisição diretamente à marca, por meios digitais, com a presença e entrega das viaturas em espaços físicos dos agentes, ou simplesmente através de grandes retalhistas.
Trata-se de um modelo de aquisição/utilização de um bem que já se encontra há muito difundido para a compra de eletrodomésticos e de outros bens de consumo, por exemplo. A novidade é estar a expandir-se cada vez mais ao comércio automóvel, com cada vez mais construtores, incluindo marcas centenárias como a Mercedes-Benz, a anunciarem a transição para este modelo de negócio.
Esta nota introdutória serve para explicar o caminho seguido pela Aiways para a sua entrada no mercado europeu, chegando a Portugal pela mão da Univex, em Lisboa, e da CAM no Porto.
O primeiro passo
O Aiways U5 é um SUV médio com dimensões semelhantes às do Kia EV6 e ligeiramente maior do que o Volkswagen ID.4.
O motor e tração dianteira permitem libertar espaço para o interior, evidente no que é disponibilizado para os ocupantes do banco traseiro, apesar de os dianteiros poderem deslocar-se bastante.
A instalação da bateria de 63 kWh sob o piso também reduz a interferência no habitáculo, permitindo 477 litros da bagageira, valor aceitável para um veículo elétrico com as dimensões do U5. Há ainda um espaço suplementar debaixo do capot.
Impulsionado por um motor de 204 cv, o Aiways U5 tem autonomia anunciada para 400 km em ciclo combinado.
Pode carregar a 90 kW, o que, em teoria, permite recuperar 20% a 80% da carga em apenas 35 minutos. Mas porque, em Portugal, atualmente a maioria dos postos rápidos debita 50 kW, não foi possível comprová-lo. Em corrente alterna carrega no máximo a 6,6 kW, pelo que, contas feitas, são precisas mais de 2,5 horas para recuperar algo como 100 km de autonomia, se estiver ligado a uma tomada com esta potência.
A condução é prática e muito tranquila. Apenas o modo Sport permite imprimir um andamento mais vivo ao U5 e garantir resposta para uma ultrapassagem, por exemplo. O lado menos positivo é ser também o modo onde dificilmente se conseguem manter consumos que permitam atingir a autonomia anunciada.
Por outro lado, o motor e tração dianteira e a articulação entre o controlo de tração e os pneus utilizados, podem desencadear perdas momentâneas de tração no arranque em percursos inclinados.
Habitáculo
A primeira impressão do habitáculo é boa, sobretudo devido à escolha dos materiais. Porém, há fixações que não inspiram tanta confiança e decisões que fogem aos padrões habituais, como a ausência de um porta-luvas, substituído por pegas disfuncionais.
A intensa aposta na digitalização e na eletrónica torna menos prático o funcionamento de alguns comandos, sendo preciso despender algum tempo à procura de funções.
Na prática, há dois ecrãs centrais: um numa posição mais elevada, pouco intuitivo e com pouca informação relacionada com a condução elétrica; outro, igualmente tátil, instalado na parte inferior da consola e que serve não só para controlar o sistema de climatização, como de tampa móvel para um pequeno compartimento com carregador por indução para telemóvel.
Regular a temperatura do habitáculo obriga a deixar de ver por completo a estrada e, para complicar, os utilizadores de smartphones Android Auto podem contar apenas com uma aplicação que espelha o visor do telemóvel neste ecrã, pouco prática de operar. O Apple Carplay está disponível.
Quanto ao painel atrás do volante, ou painéis, uma vez que se desdobra em três, com as partes laterais voltadas para o centro, disponibiliza informações básicas relativas à condução e os habituais alertas.
Impressões
O U5 é o modelo de estreia da Aiways, uma start-up com origem na China, mas com centros de trabalho na Alemanha, que se aventura como fabricante automóvel. A falta de experiência revela-se na pouca operacionalidade de alguns comandos ou no sistema digital utilizado, bem como em algumas decisões, como a supressão do porta-luvas.
Colocadas de lado estas questões, o U5 é um SUV com um interior espaçoso e agradável, com uma condução simpática embora com pouco espírito, principalmente quando é imperativo não fugir da autonomia anunciada.
Mesmo assim, o consumo médio do ensaio situou-se nos 18,8 kWh/100 km.
O assunto dos custos de utilização ganha importância quando se fala de uma marca jovem, portanto, sem historial. A Aiways entrega o U5 com garantia de fábrica geral de cinco anos ou 150 mil quilómetros, estendendo a da bateria aos oito anos ou 150 mil quilómetros.
Com intervalos de 100 mil quilómetros para a manutenção preditiva, a assistência após-venda, assegurada pela rede da Astara em Portugal, garante a chegada de componentes até três dias, algo que é possível graças à existência de um armazém de peças de substituição nos arredores de Amesterdão.
Custo de aquisição, valores de renting e características do Aiways U5
Custo de aquisição | 51.678 euros |
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Renda 36 meses | 917,43 euros |
Renda 48 meses | 832,77 euros |
Motor elétrico | 150 kW (204 cv) |
Binário máximo | 310 NM |
Consumo | 17 kWh/100 km |
Bateria | 63 kWh |
Autonomia | 400 km (ciclo combinado) |
Tributação Autónoma | Isento |
IVA | Dedutível desde que o uso da viatura se esgote nas atividades que conferem o direito a dedução |
*Valores LeasePlan. Quilometragem anual contratada: 25.000 km – Serviços incluídos: aluguer/IUC/seguro (franquia 4%)/manutenção/gestão de frota/pneus ilimitados/veículo de substituição |