No momento em que se regista um ponto de inflexão em relação aos constrangimentos que até aqui limitavam a transição energética dos respetivos parques automóveis, o Arval Mobility Observatory 2023 faz um retrato às características das frotas e ao comportamento das empresas portuguesas em relação à mobilidade elétrica
Em 2023, o mercado automóvel em Portugal vai ficar marcado pelo significativo aumento das vendas de carros novos eletrificados, com um volume considerável destes automóveis a ter como destino as frotas de muitas empresas. Uma realidade explicada nas conclusões do mais recente Arval Mobility Observatory 2023, estudo que resulta do habitual inquérito anual realizado pela Arval junto de gestores nacionais com poder de decisão sobre a mobilidade das suas empresas.
Desde 2021, com o surgimento dos primeiros sinais de retoma económica após o período pandémico, que este documento de análise indica a vontade das empresas prosseguirem a aposta na eletrificação das suas frotas, como parte importante da necessidade de melhorar os indicadores de sustentabilidade das suas organizações. Mas não só; o estudo de 2023 revela que estão também subjacentes a esta decisão, a preocupação de virem a ser implementadas políticas públicas que restrinjam a circulação de veículos a gasolina ou a gasóleo, nomeadamente através da expansão de áreas urbanas exclusivas à circulação de viaturas de emissões reduzidas.
Analisemos então alguns indicadores importantes deste estudo sobre as tendências da mobilidade nas empresas portuguesas e como elas se comparam com as suas congéneres europeias, já que este documento também observa as tendências de vinte mercados europeus.
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Manutenção e crescimento da frota
Estes dois gráficos que avaliam o potencial de crescimento da frota ao longo dos próximos três anos mostram que existe um sentimento global para manter o volume atual da frota automóvel (numa tendência superior à média europeia) ou mesmo aumentar. Porém, as grandes empresas sugerem sentimentos mistos; se por um lado são as que revelam maior vontade de reduzir o número de viaturas (superior à média europeia), por outro mostram- se mais predispostas para expandir o parque automóvel atual, em comparação às empresas com menor número de colaboradores (Quadro 1). De resto, como se constata no Quadro 2, que avalia as expectativas de vários países, a nível europeu, as empresas portuguesas estão também entre as mais conservadoras no que se refere à intenção de manter a dimensão da frota atual.
Fatores que motivam o crescimento
O crescimento da atividade da empresa e a necessidade de retenção de talento estão entre as razões mais importantes para justificar o crescimento da frota. Há também um grupo significativo de organizações que revelam intenção de propor veículos a colaboradores que atualmente não são elegíveis para a sua atribuição e para implementar soluções de partilha. Um e outro motivo podem, afinal, relacionar-se com os dois primeiros. Detalhe curioso, os incentivos fiscais, ainda que sejam importantes, não são a razão principal que move as estruturas de decisão. O leasing financeiro e a compra direta representam mais de metade do formato de aquisição de veículos. O renting é escolhido, em média, por 20% das empresas inquiridas em Portugal. Mas comparando com os valores combinados de 2021 e 2022 (12%), este modelo de aquisição regista um crescimento de 66% em 2023.
Penetração da mobilidade elétrica e desafios à eletrificação
O Barómetro do Arval Mobility Observatory 2023 confirma o importante contributo das frotas das empresas para o desenvolvimento da mobilidade elétrica em Portugal.
O inquérito de 2023 revela a intenção das empresas aumentarem gradualmente a dimensão de viaturas elétricas nas respetivas frotas. Antecipando que, em três anos, a penetração dos veículos ligeiros de passageiros eletrificados possa atingir cerca de metade da frota total, 21% dos quais sendo automóveis 100% elétricos.
Esta tendência manifesta-se transversalmente, independentemente da dimensão da estrutura. Isto revela que as empresas portuguesas querem estar preparadas para 2035, momento estimado para o fim da venda de viaturas novas com motor de combustão. A exceção parecem ser as frotas de empresas com entre 10 e 100 funcionários, provavelmente aquelas cujos ciclos de renovação de frota são mais lentos. Se as empresas portuguesas parecem estar ligeiramente à frente da média europeia no que diz respeito à ambição de aumentar a quota de todas as soluções eletrificadas nas frotas ligeiras de passageiros, convém olhar para a importância assumida pelos veículos híbridos plug-in neste contexto.
Mais lento é o processo de eletrificação dos ligeiros de mercadorias. Ambiente fiscal menos favorável do que aquele que existe nos veículos de passageiros, menor oferta de soluções eletrificadas, custos mais elevados e o uso intensivo destas viaturas nem sempre se coadunar com os valores de autonomia e prazos de carregamento, estão seguramente entre as razões.
Alguns dos obstáculos à eletrificação são agora mais fáceis de superar, graças ao maior conhecimento e a uma maior oferta de soluções. O gráfico da direita mostra como nos últimos quatro anos a percentagem de empresas portuguesas com constrangimentos ou barreiras ao uso de viaturas 100% elétricas diminuiu consideravelmente. Face às suas congéneres europeias, as empresas nacionais estão também bem preparadas na oferta de soluções de carregamento aos utilizadores, seja na empresa, seja a nível doméstico. Ainda assim, cerca de um quarto das empresas portuguesas planeia instalar postos de carregamento elétrico nos próximos doze meses.
O barómetro Arval Mobility Observatory 2023 avalia um conjunto significativo de outras questões importantes, nomeadamente as razões que motivam as empresas a implementar soluções alternativas de mobilidade e quanto ao uso da telemetria enquanto ferramenta de gestão de frota.
Esta é uma versão bastante resumida do estudo. O acesso ao documento completo e respetiva ficha técnica pode ser feito através do seguinte link.