ricardosilvaRicardo Silva é director comercial adjunto de business development na LeasePlan Portugal

Por: Ricardo Silva, Leaseplan

No final do ano passado, o número de empresas abrangidas pela obrigatoriedade de realização de uma auditoria energética aumentou significativamente. A entrada em vigor do Decreto-lei nº68-A/2015, transpõe para a legislação Portuguesa a estratégia Europeia para dar resposta aos seguintes desafios:

– Escassez de recursos energéticos e necessidade de contenção das alterações climáticas

– Dependência energética (importação)

– Superar a crise económica

A solução aponta a eficiência energética como instrumento precioso para vencer estes desafios e o caminho começa com o mapeamento e responsabilização pelos consumos energéticos das grandes empresas. Deste modo, estão agora sujeitas a uma auditoria energética as empresas não PME cujos consumos energéticos agregados das suas instalações, frotas e edifícios sejam iguais ou superiores a 250 TEP (Tonelada Equivalente de Petróleo).

De salientar que as empresas que tenham implementado um sistema certificado de gestão de Energia (SGE) ou do Ambiente (SGA) estão dispensadas da realização desta auditoria, desde que respeitem os critérios mínimos presentes no anexo IV do Decreto-lei supra identificado.

Em que consiste uma auditoria energética?

A auditoria energética é um procedimento através do qual se obtém um conhecimento adequado sobre as características de consumo energético de uma frota, por via da correta identificação dos consumos de combustível e respetivas emissões de gases poluentes para a atmosfera. A auditoria deve ser realizada de forma independente por técnicos devidamente habilitados e renovada a cada quatro anos.

Para a realização de uma auditoria energética as empresas deverão disponibilizar as características técnicas dos veículos em frota, registo quilométrico e os consumos de combustíveis reais de cada veículo. As auditorias energéticas devem ainda possibilitar cálculos detalhados e validação das medidas propostas, a fim de fornecerem informações claras sobre as potenciais economias e dados utilizados.

Processos a desenvolver

Caso a sua empresa se encontre abrangida por este novo decreto-lei, deve desenvolver as seguintes ações:

1. Aceda ao website da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG) e registe a sua empresa em http://www.portalservicos.dgeg.pt;

2. Uma vez registado, selecione um parceiro certificado pela DGEG que realize a auditoria energética e um plano de racionalização dos consumos;

3. Concluída a auditoria e o plano de racionalização de consumos, deve registar os resultados da auditoria no site da DGEG e atualizá-los a cada 4 anos.

No que respeita ao plano de racionalização de consumos, recomendamos a adoção mínima das seguintes medidas:

1. Seleção dos veículos

Na seleção de veículos, crie limites de emissões admissíveis para os veículos a contratar. A maioria dos fabricantes automóveis tem hoje versões dos seus vários modelos especificamente desenvolvidas para uma maior eficiência energética, pelo que a recomendação passa por considerar estas como primeira escolha.

Avalie a inclusão de veículos elétricos para deslocações pendulares e/ou maioritariamente citadinas. Com os incentivos fiscais e a evolução da autonomia, os veículos elétricos são já uma boa alternativa. Avalie a inclusão de híbridos plug-in para perfis de utilização que envolvam deslocações maiores.

Considere o consumo dos veículos em ambiente real como fator de seleção, por exemplo recorrendo a informação disponível em revistas especializadas, na medida em que existe um desvio significativo entre o consumo anunciado pelos fabricantes e o real (aproximadamente 50%).

2. Utilização dos Veículos

Por muito eficiente que um veículo seja, o fator determinante é, de facto, o tipo de condução/condutor. Deste modo, tenha presente que qualquer boa decisão tomada na seleção dos veículos pode ser anulada pela forma como os veículos são utilizados. Sensibilize os seus utilizadores para o resultado da sua condução nomeadamente com recurso a:

– Um plano de comunicação que promova o envolvimento das pessoas e lhes apresente os números e factos relacionados, estabelecendo mecanismos que premeiem os melhores resultados, garantindo assim que todos estão alinhados com a política de responsabilidade social da empresa.

– Ações de formação sobre condução eco-eficiente, realizando a respetiva análise de retorno do investimento comparando o potencial de poupança obtido com o custo das ações de formação

– Desafie os seus colaboradores a questionar a verdadeira necessidade da deslocação. Sabendo que a presença física junto de colegas ou clientes pode ser indispensável, a verdade é que em algumas situações a videoconferência pode muito bem cumprir o propósito de reunir um conjunto de pessoas durante algumas minutos ou mesmo horas. A tecnologia hoje à disposição de todos permite fazê-lo com algumas garantias e a custos francamente baixos.

3. Monitorização de resultados

Havendo uma relação direta entre as emissões poluentes e o consumo de combustível, uma simples monitorização destes dá-lhe um indicador do consumo energético da sua frota, por exemplo utilizando os relatórios disponíveis nos cartões de frota das gasolineiras e/ou das gestoras de frota.
Caso pretenda ter um papel mais ativo e facilitado, os serviços de telemática são uma ótima ferramenta para facilitar o processo de monitorização da pegada ecológica da sua frota, assegurando-lhe o conhecimento do desempenho e facilitando a identificação das áreas onde deve incidir a sua atenção.

Benefícios de uma frota ambientalmente sensível

Podemos agregar os benefícios em dois grandes pilares, a responsabilidade social corporativa e a redução de custos:

1. Responsabilidade Social Corporativa

A preocupação para com o bem-estar do nosso planeta é uma responsabilidade de todos. No caso das grandes empresas, a responsabilidade acaba por ser maior devido à sua maior exposição perante a sociedade, onde se incluem os seus colaboradores. Podemos ter um papel ativo e ser um exemplo de conduta ou, por outro lado, estar sujeitos ao juízo da sociedade caso não adotemos as melhores práticas.

Naturalmente que a primeira opção é a melhor até porque, uma boa gestão da eficiência energética contribui não só para a responsabilidade social corporativa como também para a redução de custos. Pode também ser uma oportunidade para melhor posicionar e projetar a sua empresa em torno de um bem maior.

2. Redução de Custos

Uma frota ambientalmente sensível é também financeiramente mais eficiente, por via do menor consumo de combustível, do menor desgaste mecânico do veículo, da menor exposição ao risco de acidente dos seus colaboradores (com o consequente impacto positivo nos prémios de seguro) e na menor necessidade de veículos de substituição, entre outros.

Atuando preventivamente por via da eliminação das deslocações pode ainda rentabilizar o tempo dos seus colaboradores e potenciar os aspetos acima mencionados.