POR MIGUEL VASSALO, COUNTRY MANAGER AUTOROLA. É COLABORADOR REGULAR DA FLEET MAGAZINE

Considerada a maior revolução desde a Internet e frequentemente associada à bitcoin e outras criptomoedas, a blockchain tem o potencial de transformar várias indústrias, desde a financeira à saúde, passando claro está pela indústria automóvel e mais genericamente moldar o futuro da mobilidade.

Efectivamente,  primeira utilização prática da blockchain foi para registar e guardar transacções de bitcoin mas não só não são a mesma coisa como as possibilidades de utilização da blockchain são bastante abrangentes.

No fundo a blockchain é uma gigantesca base de dados compartilhada e incorruptível que facilita o processo de registo de transacções e rastreamento de activos.

Praticamente qualquer coisa de valor pode ser seguida e negociada na blockchain, reduzindo riscos e custos para todos os intervenientes.

Esta base de dados não se encontra guardada em nenhuma localização específica, mas sim distribuída por uma rede de computadores espalhada por todo o mundo, tomando a forma de uma cadeia (chain) cronológica de blocos únicos de informação (block) ligados uns aos outros de forma segura através de criptografia.

A blockchain é uma forte candidata para se tornar no sistema operativo onde corre o futuro da mobilidade

A blockchain promete criar transparência e confiança entre os utilizadores, diminuir o risco de fraude e reduzir ou eliminar os custos de transacção.

Esta tecnologia oferece desde logo um enorme potencial para a indústria automóvel.

Logística, manutenção, veículos autónomos e soluções especificas como conta-quilómetros à prova de fraude são apenas alguns dos exemplos de áreas de aplicação.

Não admira, portanto, que vários construtores comecem a unir esforços com o objectivo de acelerar a adoção da blockchain e individualmente a patentear e testar soluções nela apoiadas.

Vejamos alguns exemplos.

A Porsche anuncia ter sido o primeiro a implementar e testar com sucesso a blockchain num automóvel.

Neste caso a sua aplicação aparentemente prosaica incluía trancar e destrancar um veículo em tempo recorde através de uma aplicação e autorização de acesso temporário a terceiros.

Noutra vertente mais disruptiva estuda novos modelos de negócio com base no registo de dados criptografados com os olhos postos na condução autónoma.

Por sua vez a Toyota através do seu Research Institute explora em parceria com o MIT Media Lab as oportunidades da blockchain no desenvolvimento de um novo ecossistema de mobilidade.

Esta iniciativa visa promover um ambiente digital onde os utilizadores (empresas e particulares) possam partilhar dados de forma segura, gerir transacções em carros partilhados e guardar dados sobre a utilização dos veículos que podem por exemplo ser usados para calcular prémios de seguro.

Já a Renault une-se à Microsoft para criar o primeiro protótipo de um livro de revisões digital.

Ao alavancar a tecnologia blockchain, os clientes poderão guardar todas as informações do seu veículo de forma simplificada, segura e inviolável.

Quando abordamos o tema de uma perspectiva mais abrangente, onde o automóvel apenas faz parte de uma realidade maior, a blockchain apresenta-se especialmente apta.

Senão veja-se.

A mobilidade como um serviço (MaaS – Mobility as a Service) só cumpre verdadeiramente a sua promessa quando é capaz de identificar de forma expedita a oferta de serviços de transporte disponíveis a cada momento e combiná-los de forma eficiente resolvendo os problemas de mobilidade em meio urbano.

A blockchain pode promover a descentralização necessária para activar esta realidade em contraponto com o actual ecossistema extremamente fragmentado onde as partes se entrincheiram em silos de dados.

O carácter eminentemente global e descentralizado da blockchain assente numa base de dados programável e segura, desenhada por defeito para proteger a privacidade, apresenta a possibilidade de unir os diversos serviços hoje dispersos e inclusivamente incorporar outros como sejam as infraestruturas (leia-se por exemplo portagens, parqueamento e pontos de carregamento de veículos eléctricos).

Imagine-se um ecossistema de mobilidade activado por blockchain onde vários meios de transporte estão disponíveis, onde podemos facilmente planear a nossa viagem e num só toque reservar, utilizar e pagar.

Ainda que alguns desafios do ponto de vista técnico, social e regulatório tenham de ser ultrapassados a blockchain é uma forte candidata para se tornar no sistema operativo onde corre o futuro da mobilidade.