Que efeitos vai ter para a indústria automóvel e todos os serviços que dele dependem – comércio, rent-a-car… – a saída do Reino Unido da UE?
Em primeiro lugar, a Grã-Bretanha é tradicionalmente o segundo maior mercado automóvel da União Europeia.
Em 2015 venderam-se mais de 2,6 milhões de veículos no conjunto de estados que compõem o Reino Unido, sendo também o segundo destino das exportações da indústria automóvel alemã (mais de 810 mil unidades no ano passado).
Como consequência, a sua saída da UE e consequente fim do “mercado livre”, gera uma grande incerteza entre as construtoras quanto ao possível regresso de taxas alfandegárias que penalizem os produtos importados.
Sobretudo de fora da Europa, acreditando que possam ser negociados acordos preferenciais de comércio com a UE, num cenário de pós saída do Reino Unido.
O que penalizaria as construtoras japonesas e coreanas.
De qualquer forma, mantendo-se um clima de incerteza económica no Reino Unido, são de esperar alguns efeitos negativos na venda de carros novos no mercado inglês.
Sediadas na Inglaterra, estão também algumas das mais importantes unidades fabris da Europa.
O que torna o Reino Unido no segundo fabricante de automóveis, logo atrás da Alemanha.
Entre as construtoras estão algumas marcas de origem inglesa, produzidas por grupos automóveis de outros países: MINI, Rolls-Royce, Jaguar, Land Rover, Bentley, Aston Martin, Vauxhall…
Mas também algumas das maiores unidades produtivas, na Europa, de construtoras como a Nissan (que aqui produz o best-seller Qashqai, entre outros), Honda (a ultimar o lançamento do novo Civic) e Toyota, por exemplo, as grandes responsáveis pelo reavivar da industria automóvel inglesa nas décadas de 80 e 90 do século passado.
O fim do comércio livre com a Europa poderia igualmente prejudicar as exportações destas fábricas para o espaço europeu, não sendo certo que a desvalorização da libra se mantenha para possa compensar esta quebra de competitividade.
Mais uma vez, confirmado o cenário da saída do Reino Unido da Europa, é vital para todas as partes a assinatura de acordos bilaterais que privilegiem o comércio entre o continente e as ilhas britânicas, a exemplo do que já acontece com outros países que não fazem parte da comunidade europeia: Suíça, Noruega e Islândia, por exemplo.
Daí que, atualmente, a grande questão para os industriais automóveis seja que tipo de acordos comerciais podem vir a ser negociados com o conjunto de 27 países da UE.
Por isso, a hipótese de saída do Reino Unido da União Europeia está a obrigar alguns fabricantes a reequacionaram rapidamente as suas decisões de investimento em futuras linhas para a produção de novos modelos.
Além do receio de que o “efeito-contágio” leve mais países a referendarem também a sua saída da UE.
Brexit: que efeitos para Portugal?
As consequências para Portugal não se medem apenas pelo número de viaturas produzidas no nosso país e exportadas para o mercado inglês.
Apesar desta componente representar menos de 10% do volume de viaturas fabricadas anualmente em Portugal, na indústria de componentes OEM, para automóveis novos, ou de substituição, o peso das exportações para o Reino Unido é mais elevado.
Assim, no conjunto (carros novos e componentes), em alguns anos, o Reino Unido chega a representar cerca de 25% das exportações da indústria automóvel portuguesa.
O retardar de novos investimentos no Reino Unido ou a deslocalização das fábricas para outros países, nomeadamente do Leste, pode assim produzir efeitos nefastos para este sector industrial português.
Desconhecidos são também os efeitos sobre o setor turístico e, consequentemente, na industria do rent-a-car.
Quer pela incerteza quanto à permanência ou termos da saída do Reino Unido, como quanto a uma hipotética maior debilidade económica da Inglaterra com provável desvalorização da Libra.
Sendo o Reino Unido um dos mercados emissores de turistas mais importantes para Portugal, o setor do rent-a-car pode vir a ser afectado sobretudo em zonas como o Algarve.
“Salientamos que o turismo proveniente do Reino Unido em Portugal, sobretudo no Algarve, antecede a adesão de ambos os Estados à então Comunidade Económica Europeia”, salienta, num discurso otimista, a ARAC, associação dos industriais de aluguer de automóveis sem condutor.
“Nesse sentido, não se prevê que, no médio e longo prazo, o número de turistas britânico sofra uma redução significativa. Apesar de, a curto prazo, ser possível antecipar uma diminuição do poder de compra da generalidade dos cidadãos britânicos. Em primeiro lugar, a desvalorização da libra esterlina em relação ao euro, tornará Portugal mais caro para o turista britânico. Depois, o previsível aumento de impostos no Reino Unido, já anunciado pelo governo britânico, poderá conduzir a uma diminuição em termos absolutos dos rendimentos”, alerta a organização.