Longe de imaginar o alcance que teria em apenas seis anos, a carVertical lançou em 2019 o primeiro registo global de histórico de automóveis. A empresa, sediada na Lituânia, quis na altura elevar o nível de transparência no mercado global de usados e já se conseguiu instalar em mais de 35 países – Portugal incluído

Com relatórios de histórico que recolhem informação de mais de 900 bases de dados internacionais pertencentes a registos nacionais de veículos, companhias de seguros, autoridades policiais e outras instituições, a carVertical usa essas informações para reunir e compilar, de forma simples e de fácil leitura (para quem gosta de mecânica e para quem não sabe nada sobre carros, pode ler-se em carvertical.com.pt), resumos precisos que auxiliam o consumidor na compra de um usado, ao mesmo tempo que o protegem de eventuais fraudes.

Atualmente com mais de 2,4 milhões de utilizadores por ano e mais de 8,8 milhões de veículos certificados, a carVertical atualiza constantemente os dados para fornecer relatórios com dados relevantes e recentes sobre acidentes de tráfico, casos de vandalismo ou danos causados por desastres naturais.

carVertical

Em entrevista à FLEET MAGAZINE, Matas Buzelis, Business Development Manager e Automotive Expert da carVertical, começa por explicar o conceito da carVertical: “incluímos tudo num só relatório que inclui dados sobre todos os países por onde o carro usado adquirido passou”.

A plataforma de histórico de automóveis recebe também dados do veículo em tempo real, explica – uma informação que, segundo o próprio, é “mais fresca e difícil de falsificar”.

A vossa plataforma inclui informações sobre o historial e a manutenção dos veículos? Como é que estruturam esses dados?

Nós não somos proprietários dos dados. Sempre que o relatório de histórico é comprado, ligamos para todas as bases de dados com as quais trabalhamos, quer seja uma solução API ou qualquer outro tipo de transferência de dados, e fornecemos os dados num único local: o nosso relatório de histórico.

Por vezes, se as instituições ou os fornecedores de dados não dispuserem de uma solução API ou se não armazenarem os dados indefinidamente por tempo indeterminado, podemos até comprar os dados em lotes. Dessa forma, os dados nunca se perdem.

Existe algum tipo de recomendação de alerta que a vossa plataforma gere quando identificam padrões recorrentes de avarias em algum veículo específico?

Avarias ainda não. Está mais relacionado com dados que são rastreáveis com o VIN (Número de Identificação do Veículo), especialmente relacionados com informações digitalizadas. Se o veículo estiver ligado, sim, mas no que respeita aos veículos mais antigos, trata-se apenas da informação digitalizada.

A quilometragem, a relação entre a quilometragem e a data (para termos um carimbo temporal dessa quilometragem), os acidentes, os factos de registo, as alterações de propriedade, as inspeções técnicas e as manutenções… tudo isso está disponível. Para coisas específicas como avarias, erros ou enganos, não. Isso está mais relacionado com as oficinas com serviços de diagnóstico. Mas eventualmente poderemos oferecer esse tipo de solução.

De que forma pensa que a transparência no historial do automóvel pode afetar a confiança do comprador (e também do retalhista)?

De um modo geral, a fraude no mercado de veículos usados é um grande problema para a Europa. E não há uma forma rápida de o resolver. É como um comboio de mercadorias que tem tanta inércia que, para o parar, é preciso planear todos os passos com antecedência.

Vemos que os líderes europeus não têm a capacidade de liderar e agir que é necessária. Não oferecem proteção porque os diferentes países não trocam dados sobre os automóveis. Se comprarmos um carro na Alemanha, a autoridade de registo automóvel em Portugal não recebe a informação sobre esse carro das autoridades alemãs. É por isso que existe no mercado a procura de um produto como o nosso.

Desde o lançamento da carVertical, assistimos a uma diminuição, por exemplo, das fraudes com o odómetro. Portanto, há uma tendência positiva na redução da fraude, embora alguns criminosos tentem encontrar uma maneira de contornar a situação e tentem comprar dispositivos especiais que bloqueiam os odómetros.

Por isso, apesar de termos muitas outras soluções que podem mostrar a atividade de quilometragem, podemos indicar isso aos clientes e sensibilizá-los, mas ainda não conseguimos controlar todas as fraudes.

Relativamente ao mercado automóvel, quais são as tendências mais significativas a que tem assistido no mercado de veículos usados, especialmente no canal B2B?

Primeiro, deixe-me dizer-lhe que há uma falta substancial de carros com três a cinco anos.

Depois, posso assegurar que temos uma boa relação com os nossos clientes no B2B. No entanto, todos dizem que é muito difícil comprar um bom carro.

Durante a pandemia da COVID-19, as vendas de carros novos diminuíram, e agora esses carros são usados e a sua quantidade/volume é insuficiente.

Além disso, no que diz respeito a toda a questão da transparência, penso que os concessionários e as empresas que querem investir na sua reputação não se veem sem soluções como as verificações digitais do historial. Isto porque têm de controlar a qualidade do seu inventário e têm de ter a certeza de que os automóveis que vendem estão em bom estado – não querem ter algo que desconhecem.

Relativamente aos automóveis mais modernos, é muito importante efetuar estas verificações. Por exemplo, se os carros forem muito baratos, como os antigos Peugeot ou Renault, não se preocupam com o estado desses carros ou se estão demasiado danificados. Porém, quando se tratam de veículos mais recentes, estas verificações são muito importantes e os concessionários estão a utilizá-las, especialmente quando se trata de carros importados.

Fornecem informações sobre marcas e modelos?

Sim, fornecemos. Temos de o ajustar manualmente. Utilizamos um descodificador de VIN interno – é um processo muito rápido.

Processamos milhões de relatórios sobre o historial automóvel. Por exemplo, por vezes vemos que tipo de respostas vêm de entidades governamentais para um modelo da marca Volkswagen, que pode ser designado de 100 formas diferentes, pelo que temos de as escrever manualmente.

Relativamente ao impacto desta ferramenta na gestão de frotas, como pensa que a utilização de dados históricos pode ajudar a antecipar custos futuros e a otimizar o ciclo de vida do veículo numa frota?

Pode ajudar se o cliente estiver mais consciente quando adquire um usado e souber o que pode acontecer se não investigar o histórico do carro. Se os gestores de frota não se preocuparem com o historial e não controlarem a qualidade destes automóveis, mais tarde terão dificuldade em vendê-los. A liquidez destes veículos pode, por isso, ser comprometida.

Além disso, em alguns casos, podemos até fornecer informações sobre se o carro foi utilizado como táxi ou numa plataforma de TVDE. Imagine comprar um carro que foi utilizado numa plataforma de carsharing: todos os arranques a frio que teve ou algumas más práticas de condução, por exemplo; é importante ter toda esta informação.

A carVertical tem algum tipo de solução específica para ajudar as empresas a melhorar o TCO dos seus veículos?

Penso que tem mais a ver com a liquidez do automóvel e a facilidade de venda. É mais uma ferramenta para ver se é arriscado comprar este automóvel – para revender mais tarde ou não.

Também obriga o gestor da frota a fazer a manutenção adequada do automóvel, porque sem isso não haverá registos históricos de tais coisas: haverá apenas livros físicos, e os livros físicos de manutenção são facilmente fabricados.

Que tipo de outros serviços pode a carVertical fornecer?

Se houver um revendedor português de carros usados que esteja à procura de um veículo de luxo ou que seja difícil de encontrar, mas que tenha sempre mercado, podemos ajudá-lo a entrar em contacto com os nossos parceiros de outros países. Por exemplo, a Roménia pode parecer um lugar mais difícil para encontrar carros mais exclusivos, mas na verdade tem alguns concessionários realmente justos que se preocupam com a sua reputação – historicamente tivemos casos assim; empresas francesas, checas ou suecas que nos perguntam: “sabem quem tem este tipo de veículos?”. Nós podemos colocar estes potenciais clientes em contacto com essas pessoas na Roménia ou em qualquer outro lugar para assim poderem ter acesso a negócios perfeitos.

RGPD: como lidar com isso, uma vez que estamos a lidar com dados privados?

O número VIN é frequentemente considerado como informação pessoal e o próprio RGPD, o regulamento em si, não proíbe a partilha de dados, apenas obriga a controlar os dados de uma forma muito específica e segura.

Temos a certificação ISO27001, pelo que sabemos como tratar as informações pessoais e sensíveis. Também estamos em conformidade com o RGPD, pelo que temos a nossa equipa jurídica interna que trabalha com a justificação do interesse legítimo.

Do ponto de vista jurídico, é mais importante proteger o comprador do carro do que proteger as informações do vendedor. E com todos os certificados de que dispomos, podemos fazê-lo da forma descrita no RGPD.