O mercado elétrico vai trazer desafios à forma como se financiam as viaturas, bem como a todo o negócio automóvel. Nos usados, há importadores que já se começam a especializar.

Tendo por base um dos últimos relatórios publicados pelo Observador Cetelem, a entrevista com Pedro Nuno Ferreira, Diretor Automóvel da financeira, versou sobre a transição energética e novos modelos de financiamento.

“A electrificação é uma coisa boa, que vai acontecer”, diz.

Mas esta transição e os modelos de negócio que a deverão acompanhar vão demorar provavelmente mais do que se julga, sendo que há ainda que considerar uma outra tecnologia, aposta pessoal de Pedro Nuno Ferreira, o fuel-cell.

Mas esta será uma evolução sem prazo conhecido.

“Daqui a cinco anos ainda vamos estar a discutir isto”, diz.

“Teremos os motores diesel e gasolina a não evoluírem mais. Vamos ter uma grande evolução dos motores elétricos, da capacidade das baterias e vão investir em paralelo nos motores fuel-cell” .

O estudo da Cetelem elenca alguns dos horizontes propostos pelas marcas, que sabemos hoje que dificilmente terão correspondência… E diz ainda que as pessoas não compram carro eléctrico porque acham que é caro. A grande motivação continua a ser o preço, embora já seja hoje claro que os custos de utilização podem, de facto, ser mais baixos…

Qual é a variável desconhecida? No carro convencional, sabe quais são os custos. No elétrico, não sabe o que lhe vai acontecer com a bateria e, consequentemente, qual a durabilidade do carro. Há uma incerteza quanto à utilização a longo prazo. No caso do diesel, sabemos que vai valer cerca de 40% do seu valor, mas isso pode não acontecer, como no caso do elétrico.

Qualquer uma das opções é, por isso, arriscada. E é dentro deste quadro que as pessoas têm que escolher. Daí que faça sentido, para os clientes, todos os produtos de financiamento que estão a aparecer, como o renting ou os produtos-balão, já que o risco deixa de ser deles.

Sim, vê-se muitos dos nossos parceiros a importarem carros elétricos semi-novos, quer de luxo ou os outros. E esse mercado está a crescer.

Já se assiste a algum mercado de usados de elétricos?

Sim, vê-se muitos dos nossos parceiros a importarem carros elétricos semi-novos, quer de luxo ou os outros. . Desde sucursais de retalhos dos importadores, concessionários, gestoras de frota ou RaC e importam carros. E esse mercado está a crescer. E há parceiros de usados, especializados na importação de semi-novos, que já estão a fazer a importação.

Como é que vêm o aumento do número de carros importados em Portugal?

Desde que os clientes que os compram sejam bons pagadores, vemos bem. Se esses carros forem verdadeiramente semi-novos, vêm contribuir para a renovação do parque. Para a idade do parque, é positivo. Isso acontece porque em muitos mercados do centro da Europa vendem-se muitos carros sem cliente final.

Sim, mas cá também.

Mas os preços de lá são melhores. Não é necessariamente mau.

A importação de usados não retrai a venda de novos?

Sim, mas se calhar as marcas é que o deveriam fazer.

No relatório, fala também de novos modelos de aquisição.

Temos crédito, leasing, ALD e o produto -balão, com os importadores, quer em leasing ou
crédito. Trata-se de produtos com durações mais curtas e com determinado valor residual, que é assumido pelo importador, num acordo com a marca. Com as diversas variações que tem, vai encurtar as durações dos contratos.

Como é que olha para os modelos de subscrição e novos conceitos de mobilidade?

Temos o exemplo da Cadillac que lançou um modelo desse e acabou por ter de o encerrar. Mas a Volvo está agora a arrancar com um modelo semelhante. E temos ainda a DriveNow. Mas hoje, estes modelos só funcionam se forem altamente subvencionados.

No futuro, como é que vão funcionar?

Ou continuam hiper-subvencionados ou terão que ter rendas muito mais altas.

E qual a lógica de subvencionar?

É uma operação de marketing. É levar os carros à mão dos clientes. Eu coloco no cliente e ele ainda me paga para testar o carro. Está a criar uma habituação e uma relação no mercado. Mas per se, o modelo não é viável. Os preços vão ter que subir. E olhando para esta equação, os preços justos seriam incomportáveis. Ou seja, o equilíbrio entre uma coisa e outra ainda não está encontrado.

E qual o papel das entidades financeiras neste universo?

É de financiar estas operações, junto do dono do stock.

A locação automóvel não é um modelo difícil de passar para o consumidor final? As gestoras de frota já estão há anos a tentar e têm encontrado muitas dificuldades…

A duração média dos contratos está a aumentar. Mas numa transição elétrica, os contratos vão ser muito mais curtos, libertando mais usados. E os bancos também estarão cá para os financiar.