A Câmara do Porto tem a decorrer um processo de aquisição de viaturas elétricas. Será a maior compra deste tipo até hoje realizada em Portugal, mostrando como o setor público tem estado na frente da mobilidade elétrica.
Esta aquisição de frota será também revolucionária por ser uma renovação total de todas as viaturas a combustão, para a qual exista oferta de propulsão elétrica que possa substituir. Ou seja, no final deste concurso ficarão apenas os modelos a combustão para os quais não exista oferta elétrica, uma pequena parte da frota total da autarquia. Mas mesmo estes só aguardam que chegue a altura de haver oferta que os substitua.
Um pensamento claro que permita avançar para uma estratégia destas só pode estar sustentado em dados muito fidedignos. No caso, assente num estudo que a decorre da utilização real das viaturas da autarquia que conclui claramente que a utilização de elétricos é muito mais eficiente. Filipe Araújo é o vereador que tem o pelouro responsável pela frota e que será lembrado por ter sido o primeiro a mudar toda uma frota para elétricos.
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Quais foram as motivações para avançar com a substituição da frota por elétricos?
A frota dos municípios tem alguma especificação. Muitos dos nossos veículos têm que andar em zonas pedonais. Claramente um veículo não poluidor tem outro impacto. Testámos isso há dois anos, com o Canter elétrico, e é completamente diferente do que um veículo de combustão. Contribui para o bem-estar de uma zona. Uma pessoa convive muito melhor com um veiculo destes na zona histórica do que com um veículo que esteja com o motor ligado, a poluir.
Que conclusões conseguiram retirar do estudo que tiveram em curso com a frota atual?
Quando se está a preparar uma frota sustentável uma das coisas que devemos pensar é até que ponto conseguimos garantir a autonomia que precisamos.
No estudo temos informação muito curiosa. Primeiro, mais de 90% das viagens têm menos de 100 km. Outro dado curioso foi saber quanto tempo tínhamos para carregar. Concluímos que 95% dos veículos estão parados mais de oito horas. Isto fez-nos perceber que a grande mudança de paradigma vai ser também na forma como utilizamos o veículo. Por exemplo, deixamos de ter que nos deslocar para fazer o carregamento do carro; podemos fazê-lo em casa.
Que impacto tiveram essas conclusões para a vossa decisão?
Quanto à autonomia, estamos completamente seguros. E quanto ao carregamento, concluímos também que os conseguimos carregar porque temos tempo suficiente.
Perspetivam a renovação total da frota por elétricos?
Sim. Mas neste momento, olhámos para toda a oferta que havia no mercado e concentrámo-nos onde ela já estava comprovada. Por exemplo, a nossa frota tem muitos furgões comerciais e aí a oferta ainda não é suficiente. Mas a nossa expetativa é que nos próximos anos o mercado já tenha todas as soluções que precisamos.
Que impacto esta alteração poderá ter nas rendas?
Estimamos um acréscimo no valor das rendas, mas vamos ter uma redução significativa dos custos energéticos. O aumento poderá ir a um máximo de 20%, mas por outro lado perspetivamos uma redução dos custos de combustível pelos 80%, de acordo com os preços atuais do mercado. Estes números são para contratos a 4 anos, onde as poupanças conseguidas poderão ser de meio milhão de euros. E estes são valores que ainda podem baixar em concurso, de acordo com a experiência que tivemos. Ou o facto de ter os custos energéticos aos preços atuais e considerados aos preços máximos, quando os valores obviamente descem se as viaturas forem carregadas à noite. O ganho é evidente.
Já têm a vossa rede de carregamento preparada para o efeito?
Isso é outro ponto que estamos a considerar. Agora estamos a ver como podemos dotar as estruturas de que dispomos com a possibilidade de carregamento para os veículos que vamos adquirir. Estamos a ultimar todas as questões técnicas para instalar carregadores próprios. Temos que ver onde vamos ter os carros e onde eles vão estacionar para colocar aí os postos de carregamento. Por exemplo, podemos sequenciar o carregamento em vez de ter todas as viaturas a carregar ao mesmo tempo.
Como tínhamos três anos de histórico, sabemos exatamente onde é que cada carro fica. Fomos ver quais são os comportamentos de cada veículo, para adequar as capacidades de carregamento a esse comportamento. Queremos olhar numa perspetiva muito mais holística. Não é na rede pública que vamos ancorar estes carregamentos.
O estudo de frota
O município do Porto monitorizou a frota durante três anos para obter dados para compreender a forma com as viaturas eram utilizadas. E o vereador responsável por esta área cita dois exemplos. “Deu-nos informação como reagira a polícia municipal à utilização destas viaturas. A opinião foi positiva, sobretudo por causa do binário que o carro tem”, explica Filipe Araújo. “O estudo também foi importante para desmistificar certos comportamentos ligados à utilização de viaturas elétricas”.
Renovação total
As viaturas que a CM Porto tem em renting vão ser todas renovadas ao mesmo tempo. Serão seis meses a separar a entrega do primeiro e do último carro. “Recorremos a este sistema por vários motivos. “Quando queremos fazer alguma decoração nas viaturas, conseguimos. E mesmo nesta questão de sustentabilidade, também é muito importante, porque alteramos o paradigma num estalar de dedos”.
BI da frota
340 viaturas entre empresas municipais e câmara municipal
12 elétricos para várias áreas
mais de 200 ligeiros de passageiros e mini-furgões
modelos de aquisição: renting e direto
Contratos de renting: 4 anos, tudo incluido
Estratégia ambiental
“Há uma perspetiva ambiental que é mais visível na frota que vamos agora alterar, mas não que não é deslocada de uma estratégia global de a CM Porto dar o exemplo”, diz Filipe Araújo.
A perspetiva do município sobre estas questões é muito clara. A utilização de autocarros a gás natural ou as experiências que têm feito com comercias elétricos de maiores dimensões são disso exemplo.
O vereador lembra ainda que a câmara tem uma responsabilidade de induzir os seus munícipes a novos comportamentos a nível de mobilidade.