Depois das duas primeiras partes da análise ao mais recente estudo do Observador Cetelem terem-se debruçado sobre a subida acentuada dos custos de aquisição e de utilização de um automóvel, movimento iniciado ainda antes de 2020 e acentuado pelos efeitos da pandemia e pela guerra na Ucrânia, esta terceira incide essencialmente sobre a forma como os europeus, e muito especialmente os portugueses, encaram a posse e utilização de carro próprio.

Os europeus estão dispostos a possuir automóvel a qualquer custo?

Os portugueses estão satisfeitos com a compra do seu automóvel?

Em resposta à questão “Estaria disposto a nunca mais ter um carro?”, 72% dos entrevistados europeus detentores de pelo menos um carro e 73% dos condutores portugueses não demonstram vontade de fazê-lo. Curiosamente, estes 1% de diferença face à média europeia devem-se à resposta “Sim, definitivamente”: 7% em Portugal, 8% na média europeia. Também curiosamente, a maior percentagem de respostas “Sim, definitivamente”, 14%, é opção dos condutores do país que é o maior fabricante europeu de automóveis: a Alemanha.

Isto demonstra que há uma larga maioria de condutores europeus e portugueses pouco dispostos a abdicar do carro, apesar de reconhecerem, neste artigo, que a sua posse e os custos de utilização representam um encargo cada vez mais elevado e uma taxa de esforço demasiado alta para os respetivos orçamentos familiares.

Um olhar mais pormenorizado sobre estas respostas, informa o relatório do Observador Cetelem, indica que 77% dos residentes de áreas rurais estão menos propensos a abdicar do automóvel, mais do que os 70% de moradores urbanos. Por faixas geracionais, 34% dos menores de 35 anos inquiridos neste estudo estariam preparados para dispensar a posse de um automóvel, mas apenas 26% dos maiores de 35 anos mostram disposição para fazê-lo.

Para que serve o automóvel particular?

O trabalho aborda também aquilo que pode interessar ou o que os condutores não valorizam assim tanto em termos de equipamento do seu automóvel novo ou usado, enquanto o gráfico seguinte dá resposta às razões práticas (e cómodas…) que levam os condutores inquiridos a desejar manter o seu automóvel.

observador cetelem 2023À questão “diria que usa seu carro…? (…)”Regularmente” ou “Mais frequentemente”, 71% dos entrevistados europeus com pelo menos um automóvel admitem utilizar o automóvel para viagens diárias, incluindo deslocações para o trabalho, 89% por motivos pessoais e para atividades de lazer (compras, atividades desportivas, etc.) e, finalmente, 78% para viagens ocasionais, durante o fim de semana ou em feriados.

Ou seja, o automóvel continua a estar bastante presente na maioria das ações diárias e na vida dos europeus.

Menos uso de carro próprio significa mais utilização de outras formas de mobilidade?

Uma das conclusões do inquérito do Observador Cetelem refere que, quanto maior o país, maior a distância que os inquiridos admitem percorrer anualmente com o seu automóvel.

observador cetelem 2023
Quilômetros que o condutor de cada um destes países percorre com o seu automóvel, em média, anualmente

Ora é curioso verificar que, de acordo com as respostas dos inquiridos, este gráfico mostra que o rácio entre a dimensão do país e o número anual de quilómetros percorridos coloque Alemanha, EUA e Portugal praticamente com o mesmo valor.

Ou que os condutores franceses se encontrem entre os que anualmente percorrem menos quilómetros em carro próprio, referindo o estudo nas suas conclusões, que esta é uma tendência dos últimos 20 anos e apontando “o rápido aumento do trabalho remoto durante a pandemia” como “o fator crucial que explica essa queda significativa”.

“Os próximos anos nos dirão se isso é temporal ou uma grande mudança social”, conclui.

Uma outra razão que o estudo não refere pode ser inferida através da ficha técnica; ao contrário das 800 entrevistas realizadas em 17 países, um dos quais Portugal, em França foram realizados 3.000 inquéritos.

Até porque a questão seguinte conclui que, embora quase metade dos entrevistados admita utilizar formas de mobilidade suave, o transporte público ou o comboio além do automóvel, “em quatro dos países pesquisados, a maioria dos entrevistados prefere usar o carro: Reino Unido, Alemanha, França e, principalmente, Estados Unidos”.

Neste ponto, 48% dos portugueses inquiridos declara pertencer ao grupo daqueles que utilizam formas alternativas de mobilidade, enquanto 44% mantém uma atitude indefectível de utilização de automóvel particular.

Na parte que se segue desta análise ao documento do Observador Cetelem 2023 dedicado ao automóvel e à mobilidade iremos analisar com mais mais detalhe as preocupações dos condutores em relação à subida dos custos de utilização do automóvel (combustível, manutenção…), bem como a forma como os estão a enfrentar para reduzir o impacto. Incluindo a disposição de portugueses e espanhóis para fazerem a manutenção dos seus próprios veículos.

Ter carro está cada vez mais caro. Como e onde os portugueses estão a poupar?

 

FICHA TÉCNICA RESUMIDA: universo de 16.600 entrevistas realizadas entre 23 de junho e 8 de julho de 2022 em 18 países: Áustria, Bélgica, Brasil, China, França, Alemanha, Itália,  Japão, México, Holanda, Noruega, Polónia, Portugal, África do Sul, Espanha, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. Entrevistados com idade entre 18 e 65 anos, selecionados a partir de amostras nacionais representativas de cada país (gênero e idade). 3.000 entrevistas realizadas em França, 800 em cada um dos restantes países.

NOTA: os gráficos utilizados e ilustrações presentes neste artigo foram retirados do estudo original completo do Observador Cetelem

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