O relatório sobre segurança rodoviária apresentado pela DEKRA diz que ainda há um caminho a percorrer para manter a tendência de diminuição de fatalidades nas estradas e que todos os operadores devem dar o seu contributo
A DEKRA organizou um evento para apresentar o Relatório para a Segurança Rodoviária 2017, onde estiveram presentes vários agentes de mercado, desde marcas automóveis, rent-a-car, gestoras de frota e outras entidades.
Portugal está na média europeia no que respeita a acidentes rodoviários, revelando uma evolução muito positiva desde há algumas décadas.
Em 2020, por exemplo, o objetivo é ter apenas 41 vítimas mortais. Neste momento (2016), até está a duas fatalidades abaixo do previsto.
Mas a Europa, no seu conjunto, está a desviar-se deste objetivo, pelo que é necessário tomar atitudes mais efetivas do que as que estão a ser tomadas atualmente.
O estudo da multinacional vaio demonstrar que a prevenção rodoviária está ligada à informação disponível sobre os acidentes.
E, em 90% dos acidentes, não se conhecem as causas. Em todo o caso, foram mostrados alguns acidentes-tipo e a causa que os originou.
É a partir do conhecimento destas causas que se definem as melhores-práticas para a redução da sinistralidade rodoviária.
Exemplos disso são a iniciativa sueca “Visão Zero”, medidas de prevenção de colisões contra árvores, a adaptação inteligente dos limites de velocidade, a monitorização automática da velocidade, os controlos direcionados do cinto, os imobilizadores de arranque controlados pela concentração de álcool, os exames psicológicos para condutores com tendência para o consumo de álcool, faixas de emergência em caso de congestionamentos, formações de segurança, campanhas de grande visibilidade e muito mais.
A própria infraestrutura é determinante para chegar aos objectivos preconizados. Ana Tomaz, da Infraestruturas de Portugal, foi mostrar como o conceito de estrada tem evoluído.
Se, em 1975, a estrada era apenas uma via para ligar localidades, hoje em dia temos uma “estrada tolerante”, que previne e antecipa os erros, minimizando as suas consequências.
Pelo meio teve que se passar para uma estrada que liga destinos, aumentar a segurança e o conforto, até se chegar aos 445, o número de vítimas mortais do ano passado.
Mas em primeiro lugar, estão as pessoas.
E o comportamento destas continua a ser a principal causa para os acidentes.
Um dos números mais claros, e sobretudo no que respeita a acidentes mortais, tem a ver com o consumo de álcool. O relatório fala por isso dos dispositivos interlock para álcool, no qual o condutor poderá em sequer conseguir colocar a viatura a trabalhar se estiver alcoolizada.
Na Finlândia, por exemplo, depois de se provar que existiu condução sob o efeito do álcool, o tribunal decreta um “período de vigilância” de um a três anos com o dispositivo de bloqueio em caso de álcool, sendo que cerca de 110 a 160 euros dos custos são suportados pelos afetados.
A ingestão de álcool tem agora um grande concorrente nas causas de acidentes rodoviários.
Na Alemanha, um em cada dez acidentes mortais tem origem na distração com smartphones, sistemas de navegação ou outros elementos de controlo tecnológico no automóvel.
Um exemplo prático diz que se uma pessoa se distrai cinco segundos com qualquer um destes dispositivos, a viatura percorre 111 metros sem controlo a uma velocidade de 80 km/h.
Em algumas frotas automóveis nos EUA, refere o relatório, são instalados sistemas programados para bloquear automaticamente algumas funções do telemóvel durante a condução.
E já existe até um dispositivo da polícia que permite apanhar as pessoas que estão enviar sms durante a condução – os chamados textalyzer.
Do outro lado, existe a evolução tecnológica do mundo automóvel.
Um estudo dos EUA mostra que os cintos de segurança já salvaram mais de 300 mil vidas desde 1960 até 2012.
Ou que os sistemas de proteção lateral (os airbags) já foram responsáveis por mais de 30 mil mortes evitadas.
Todas as estratégias interessam para diminuir o número de acidentes rodoviários.
O relatório coincide com vários especialistas ao dizer que é preciso assumir que uma vida tem um custo e entender estas estratégias em termos de custo-benefício.
E a propósito disso, que o rácio entre o investimento em infraestruturas, por exemplo, e os custos dos acidentes rodoviários pode ser de 1:5 (comparando os impactos no PIB mundial).
Mas como chamou a atenção Nicolas Bouvier, não há uma solução mágica para resolver os problemas da segurança rodoviária.
Todas as acções interessam e o contributo de cada agente deste ecossistema é importante. Incluindo o das empresas frotistas.
O projeto PRAISE (para empresas)
O projeto PRAISE (Prevenção de acidentes rodoviários e ferimentos para segurança dos colaboradores) premia as melhores práticas das empresas a nível de segurança rodoviária.
Sejam os processos ou as iniciativas implementadas, ou a definição e o controlo de objetivos concretos, há vários factores que são tomados em conta para a atribuição destes prémios.
E claro, os resultados. Redução comprovável do número de acidentes, dos feridos e dos danos em viaturas das empresas, são os critérios mais objectivos.
Empresas como a Johnson & Johnson, a Royal Dutch Shell ou a British Telecom já foram vencedoras.
O galardão é atribuído ainda em três categorias distintas: PME (até 250 colaboradores), grande empresa (+250 colaboradores) ou entidades públicas.
Mais informações ou casos de estudo dos vencedores podem ser consultados em http://etsc.eu/projects/praise
As 10 reivindicações da DEKRA
- A disponibilidade dos dados de acidentes tem de ser melhorada ao nível internacional.
- Os impactos das medidas tomadas a nível nacional, regional ou local para aumentar a segurança rodoviária têm de ser avaliadas mais profundamente. Além disso, no plano nacional, há que criar um quadro para experimentar novos conceitos de segurança rodoviária.
- Antes da implementação de uma medida de segurança rodoviária comprovadamente bem sucedida noutro local, há que verificar de forma precisa se esta é transferível para as circunstâncias locais.
- Os sistemas de assistência ao condutor destinados a promover a segurança deverão conseguir uma penetração no mercado ainda maior.
- A funcionalidade dos componentes mecânicos e eletrónicos da segurança dos veículos tem de estar garantida ao longo de toda a vida do veículo.
- O cinto de segurança, enquanto principal “salva-vidas”, tem de ser colocado nos lugares da frente e nos bancos traseiros no início de cada viagem.
- Através de medidas rodoviárias e medidas reguladoras do trânsito rastreáveis deverá ser possível atenuar, tanto quanto possível, potenciais locais de perigo.
- A educação rodoviária contínua é a melhor prevenção. Por isso, deverá abordar de forma diferenciada todos os grupos de utentes da estrada e estender-se até uma idade mais avançada.
- O trânsito rodoviário deve ser entendido como uma interação social e requer, neste sentido, um comportamento consciente, responsável e apropriado por parte de todos os utentes da estrada.
- Infrações especialmente perigosas, tais como o álcool ao volante, a distração com o smartphone ou ultrapassagens além do limite de velocidade têm de ser controladas de modo ainda mais rigoroso e punidas de forma correspondente.
Fonte: Relatório de segurança rodoviária DEKRA 2017 – Melhores práticas