Os veículos elétricos de descolagem e aterragem vertical (eVTOL – electric Vertical Take-Off and Landing), também conhecidos como “carros voadores”, são um tipo de aeronave concebidos para descolar e aterrar verticalmente, como um helicóptero, e possuem geralmente um aspeto de um drone de grandes dimensões.

Os “carros voadores”, durante décadas, têm povoado o nosso imaginário e sido material de ficção científica. Quem não se recorda da série de animação Os Jetsons ou o filme de culto realizado por Ridley Scott, Blade Runner? Mas agora, com os rápidos avanços da tecnologia, estas máquinas futuristas estão mais perto do que nunca de se tornarem realidade.

Embora possa continuar a parecer uma ideia futurista, o sonho de construir um “carro voador” remonta ao início do século XX, com protótipos como o Curtiss Autoplane e o Ford Flivver (o Modelo T voador), desenvolvidos nas décadas de 1910 e 1920. Na segunda metade do século, várias empresas, incluindo a Aerocar e a Moller International, procuraram aperfeiçoar a ideia, contudo, as limitações tecnológicas e os custos elevados não permitiram que estes esforços chegassem muito longe.

Mobilidade elétrica com asas

Nos últimos anos, tem havido um ressurgimento do interesse no conceito, sob a forma de eVTOLs, já que os avanços na tecnologia de baterias e de motores elétricos tornaram possível a construção de aparelhos mais leves, silenciosos e menos poluentes, sendo agora encarados como um possível modo de transporte viável. Estes veículos têm o potencial de revolucionar o ecossistema de mobilidade, fornecendo uma forma rápida, eficiente e sustentável de percorrer curtas e médias distâncias, tanto no contexto do transporte pessoal como em serviços de táxi aéreo.

Porém, existem também várias oportunidades para os eVTOLs desempenharem um papel relevante em outras indústrias, tais como na área da emergência médica, distribuição de encomendas e naturalmente para fins militares. Com uma propulsão limpa e silenciosa, a possibilidade de descolar e aterrar na vertical, não requerendo pistas ou aeroportos tradicionais, torna-os muito flexíveis e versáteis, especialmente do ponto de vista da mobilidade urbana.

Conscientes da oportunidade que este mercado pode representar, conhecidas empresas como a Boeing e a Airbus têm vindo a anunciar planos para desenvolver e comercializar eVTOLs.

Muitas outras empresas têm feito também progressos significativos no desenvolvimento e teste destes veículos. Uma das mais notáveis é a Uber, que tem vindo a trabalhar no seu pro- grama Uber Elevate desde 2016, tendo, aliás, sido recentemente adquirida por uma concorrente sua, a Joby Aviation. A empresa estabeleceu parcerias com a NASA e a Hyundai para desenvolver veículos eVTOL, assim como as infraestruturas necessárias para apoiar a sua operação.

Outro ator importante no espaço eVTOL é a Volocopter, uma empresa alemã que tem vindo a desenvolver os seus táxis aéreos elétricos desde 2011. A empresa completou em 2019 um voo de teste bem-sucedido em Singapura, e planeia lançar serviços comerciais na cidade-estado em 2024.

O Volocopter já está numa fase muito avançada de testes e a despertar o interesse de várias empresas, que vêem na propulsão elétrica e na possibilidade de descolar e aterrar na vertical, como se de um helicóptero se tratasse, uma grande vantagem do ponto de vista da mobilidade urbana

Outras empresas, tais como Lilium e EHang, também estão a fazer progressos nesta área.

Um dos maiores desafios enfrentados pelo desenvolvimento de eVTOLs é garantir a sua segurança e fiabilidade. Para resolver este problema, as empresas estão a investir fortemente em investigação e desenvolvimento, testes e processos de certificação que garantam o cumprimento dos regulamentos das autoridades locais em matéria de aviação.

Uma das ameaças à indústria eVTOL é o custo do seu desenvolvimento e manutenção, bem como o preço elevado para o consumidor, pelo que ao que tudo indica, nesta fase, será privilegiado o modo de utilização partilhado em sistemas de mobilidade aérea urbana. Para além disso, as barreiras operacionais como as que estão ligadas à gestão de tráfego e infraestrutura de aterragem são temas ainda a ser objeto de aperfeiçoamento.

Ao longo da história, a humanidade tem sonhado em voar. Agora, com o eVTOL, podemos transformar esse sonho numa realidade mais corriqueira e numa experiência mais pessoal. Embora ainda haja desafios de monta a serem superados, a tecnologia está a desenvolver-se rapidamente e promete revolucionar a maneira como viajamos.

Com o investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento, o eVTOL tem o potencial de criar um futuro mais acessível, sustentável e eficiente.

E o céu, realmente, pode ser o limite!