A lei que deixa os carros movidos a GPL estacionar em parques fechados e abaixo do nível do solo trouxe alguma esperança às marcas que comercializam modelos com esta propulsão. Ainda é difícil falar em rendas, mas o interesse já está instalado.
Com uma pequena frota de cinco unidades, todos eles citadinos, a Trovisco Aires & Carmo tem dois Chevrolet Spark ao serviço desde o início de 2012. A “experiência”, que é assim que o responsável pela compra das viaturas na empresa vê este investimento, foi feita a partir de uma sugestão de um amigo sobre os benefícios do GPL. “Tem sido muito positivo”, conta.
Com uma lei publicada a 31 de Janeiro deste ano, os veículos a gás passaram a poder estacionar em parques de estacionamento fechados e abaixo do nível do solo. Além disso, deixa de ser obrigatório um dístico que identifica o veículo como abastecido a gás liquefeito. Os importadores que comercializam estes carros acreditam que esta disposição pode acelerar as vendas destas viaturas.
“Desaparecem os fatores que ainda constituíam entraves para muitos dos potenciais compradores de modelos com este sistema, alargando-se naturalmente o leque de interessados”, diz Nuno Heleno, relações públicas da Chevrolet.
Os defensores da propulsão a GPL dizem que as poupanças podem chegar aos 30 por cento. O despachante de Leça da Palmeira confirma. Com 80 mil quilómetros já percorridos desde há pouco mais de um ano em cada viatura, ele reconhece essa diferença, mesmo em relação a outros veículos diesel da sua frota.
As marcas dizem que os custos de utilização são idênticos aos de outras propulsões. Nos Dacia – outra das marcas presentes com GPL – os períodos e as operações de manutenção são as mesmas dos modelos a gasolina, garante Ricardo Oliveira, Relações Públicas do importador. “Tendo em conta que o custo do combustível é sensivelmente inferior e que a utilização do GPL prolonga a longevidade do motor, estão reunidas as condições para que o TCO seja favorável em comparação com os modelos a gasolina e mesmo a diesel”, diz.
Nuno Heleno aponta ainda outros argumentos. “Para as empresas, uma das grandes vantagens é o facto de o GPL beneficiar do mesmo regime fiscal que o gasóleo, no que respeita aos benefícios associados à dedução do IVA (50%)”, explica.
A autonomia alargada também é referida como um ponto positivo. Como estes modelos são, normalmente de dupla alimentação (gasolina e GPL), as distâncias percorridas podem ser maiores. No caso dos Chevrolet Spark que a Trovisco Aires & Carmo tem ao serviço, todos os dias fazem vários percursos Porto-Aveiro.
A nível de planos de manutenção e de fiabilidade, não há dados que indiquem muita diferença para viaturas a gasolina – a adaptação para GPL é feita a partir destes motores. “O plano de manutenção é exatamente igual”, diz Ricardo Oliveira. “As únicas operações específicas dizem respeito ao controle das válvulas do GPL que se realizam apenas a cada 120.000 km”. O interlucutor da Chevrolet fala ainda da mudança de filtro de gás em intervalos de 15 mil km, com um custo aproximado de 50 euros (incluindo mão-de-obra).
Até agora, o mercado do GPL em Portugal representou, na totalidade, apenas pouco mais de 700 automóveis. Com este histórico, torna-se difícil saber o impacto que o GPL pode ter nas rendas de aluguer operacional e nos valores residuais destas viaturas. A Dacia, por exemplo, admite não ter números sobre isso. “No entanto tendo em conta que a utilização do GPL prolonga a longevidade do motor e que o TCO é potencialmente menos elevado, o impacto é, em teoria, positivo”, adianta Ricardo Oliveira. Nuno Heleno diz que poderá haver é o custo do kit de instalação. Mas também refere que não há histórico suficiente para se fazer uma análise adequada.
As empresas começam a chegar às marcas. As marcas dizem que tem havido interesse da parte dos clientes empresariais. “O número de potenciais negócios em curso é ainda demasiado reduzido para podermos qualificar o cliente-tipo”, diz o RP da Renault. “De qualquer forma, se anteriormente o interesse das empresas era virtualmente nulo, neste momento já há vários pedidos mas, sobretudo, de informação”.
A Chevrolet fala de um “interesse muito significativo”. “Começa de facto a haver alguma apetência no canal empresas, já que com o GPL estas conseguem obter uma redução significativa dos custos de utilização das suas frotas. Não obstante o ligeiro aumento do consumo da viatura, o facto de o GPL ser incomparavelmente mais baixo que o gasóleo compensa largamente”, diz Nuno Heleno.
Para Fernando Carmo há poucas dúvidas. Não só pensa trocar a restante frota por mais modelos GPL, como o poderá vir a fazer com modelos de gama superior.