A GPL? E porque não?

Numa altura em que se procuram soluções mais económicas, as versões GPL continuam alternativas viáveis ao gasóleo, em termos de custos de utilização, disponibilidade e sem a por vezes problemática questão dos reabastecimentos, uma vez que a rede está suficientemente expandida em Portugal

bi-fuel

A pouca procura de modelos com solução GPL faz com que de momento apenas exista esta oferta no grupo Renault, mais concretamente da parte da Dacia – que a estende a praticamente toda a gama – e da própria Renault, que a tem disponível nos novos Clio e Captur. Além de ajudarem a reduzir as emissões médias de cada marca, a intenção do construtor francês é disponibilizar uma alternativa ao gasóleo, com um valor de aquisição bastante mais reduzido do que qualquer solução eletrificada, e com custos de utilização qeu conseguem ser inferiores aos de qualquer outra versão. Isto desde que se faça uso do GPL, cujo preço por litro é, em média, cerca de metade do pedido para a gasolina. Estas contas estão explicadas e são fáceis de fazer na página de cada uma das marcas.

https://fleetmagazine.pt/2020/05/09/dacia-bi-fuel/

Pegámos em duas soluções distintas para entender a sua condução e o valor desta oferta. Com posicionamento e de marcas diferentes, porém equiparadas em preço e fazendo uso da mesma mecânica: o novo Renault Clio, mais indicado para a condução urbana, e o sempre surpreendente Dacia Duster, um SUV com imagem e equipamentos renovados, versatilidade e capacidade fora de estrada intocáveis no que se refere ao desempenho.

Renault Clio: a fórmula de sucesso

Pouco há para dizer de novo sobre a gama mais vendida em Portugal nos últimos anos – continuando a ser, em 2020, já só com uma carroçaria de 5 portas – e presença habitual no pódio dos mais procurados ao nível europeu.

A nova geração, lançada no final do ano passado em Portugal, aumentou a qualidade e reforçou a segurança. Não apenas passiva, como aquela que garante uma condução mais segura a quem o dirige; falamos naturalmente das ajudas à condução. Sem conhecer grandes alterações no que toca ao espaço, o interior recebeu um tablier mais moderno e mais funcional, com potencial para  albergar mais tecnologia, nomeadamente de conectividade. Porque só está disponível no nível Intens, a versão bi-fuel do Clio é frugal neste aspeto, embora, opcionalmente, seja possível acrescentar mais equipamento.

A diferença de preço para a versão equivalente com motor somente a gasolina é de 800 euros.

https://fleetmagazine.pt/2020/04/13/gama-bi-fuel-renault/

A utilização do GPL implicou a colocação do depósito para este combustível no lugar do pneu suplente. Se não interfere na capacidade normal da bagageira, significa, portanto, que passou a contar com um kit anti-furo. Há ainda três outras alterações visíveis, partilhadas com o Dacia Duster. À esquerda do volante situa-se o botão que permuta os dois combustíveis e permite aferir a capacidade do depósito GPL através de indicadores luminosos (no painel permanece o da gasolina), o computador de bordo não indica médias de consumo e, no exterior, junto ao bocal habitual, existe um segundo para atestar o GPL.

Dacia Duster: a fórmula que se reinventa

Provavelmente faria mais sentido trazer para estas páginas o Renault Captur. Porém, o Duster continua a ser um fenómeno de popularidade e de reconhecimento quase consensual por parte de qualquer tipo de consumidor: é um modelo descomprometido, acessível que não traja de gala nos materiais interiores, porém capaz de justificar cada euro que custa. E, no género e nas capacidades, não há com preço de aquisição mais baixo.

Em alguns aspetos, certas versões do Duster são até capazes de ir mais longe e superar a concorrência; isso acontece quando deixa o alcatrão para trás e entra em território onde o reduzido peso, a capacidade de manobra, a resistência e maleabilidade do chassis lhe permitem ultrapassar obstáculos mais complicados, explicando a legião de fãs que o aprecia exatamente por causa desta aptidão.

Porém, não é o caso da versão bi-fuel. Apesar de manter alguma competência fora de estrada, ela é praticamente só possível graças à altura da plataforma. Falta-lhe sobretudo binário, força no motor para apuros maiores, ainda que a câmara 360º, com visão lateral, instalada no Duster bi-fuel testado, tenha ajudado a percorrer vias estreitas com mais segurança.

https://fleetmagazine.pt/2018/04/04/o-que-e-gpl-gnv-vantagens/

O depósito de GPL fica também colocado no lugar da roda suplente, neste caso com a estrutura reforçada porque se situa sob o piso. No interior, o mesmo botão para comutação entre os dois combustíveis.

Impressões

Porque não vingou o GPL em Portugal, além da fase inicial? E principalmente nas empresas?

Variadas são as razões apontadas: pelas limitações ao estacionamento (que já não vigoram para as instalações novas a partir de 2013), pela noção errada de insegurança e porque subsiste ainda a ideia de ausência de força do motor e de que a operação de reabastecimento é complexa e perigosa.

Estas e outros fatores fazem também com que sejam penalizados os valores residuais de veículos GPL, encarecendo, por esta razão, as rendas de alguns financiamentos renting.

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Por outro lado, ao contrário do que já acontece com alguns modelos do grupo VW, que são consideradas viaturas GNC, não existem em Portugal nenhum modelo ligeiro de passageiros homologado exclusivamente como viatura GPL. O que se traduz na impossibilidade de acederem aos benefícios consagrados na Fiscalidade Verde – dedução do IVA e redução da taxa da Tributação Autónoma -, desde 2020 já não permitido para empresas, mas ainda válido para empresários em nome individual com contabilidade organizada.

A operação de reabastecimento não é tão complicada quanto pode parecer, ao obrigar à colocação de um adaptador. E tanto no Duster como principalmente no Clio, a permuta entre os dois combustíveis é praticamente impercetível (no limite sente-se numa velocidade mais elevada) e, quando o depósito de GPL fica vazio em andamento, alterna automaticamente para gasolina. O facto de dispor de dois combustíveis aumenta também consideravelmente a autonomia de ambos.

Por fim o desempenho. Os dois partilham, como o Captur, o motor TCE de três cilindros a gasolina, com 999 cc, 100 cv e binário de 160 Nm. Os valores podem parecer escassos para o Duster, mas a verdade é que o escalonamento da caixa de cinco velocidades sabe retirar partido da força disponível e embalá-lo, em estrada ou em cidade, o suficiente para o condutor não desesperar. Já no Clio é mais do que suficiente para uma condução normal e económica como convém.