Questão de património

Há coisas que não mudam: o atual Vitara continua despretensioso, mas também um dos mais eficazes quando chamado para aquilo que foi concebido: andar fora do alcatrão

Antes do nome SUV existir, a Suzuki apresentou um capaz de se encaixar nessa terminologia: o Vitara, nascido em 1988 e aburguesado na geração seguinte, que surgiria uma década depois. Pomposamente designada Grand Vitara, oferecia mais espaço e versatilidade para uso familiar.

O modelo atual é uma renovação da quarta geração lançada em 2015. Renovação ligeira no exterior e diferenciada na iluminação LED, mais incisiva no interior, na melhoria de alguns revestimentos e decorrente da necessidade de introduzir equipamento de segurança e ajudas à condução, em resultado das novas normas europeias.

Pelo preço, entre os seus concorrentes mais próximos estão SUV do segmento B como o Peugeot 2008, o Renault Captur ou o Seat Arona, apesar de as dimensões e habitabilidade levarem-nos muitas vezes a ser comparado com modelos de escalão acima.

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Ora, se face aos primeiros perde em glamour interior ou até em termos da tecnologia digital, facilmente os supera quando a vontade do condutor é a de levá-lo por maus caminhos. A Suzuki parece ter mantido o lado prático e menos exigente do Vitara, mais funcional e, provavelmente também, mais resistente quando submetido a condições mais exigentes: não existem muitos revestimentos suaves ou costuras que impeçam a limpeza rápida do interior sem alterar o seu aspeto, nem abuso de tecnologia que faça correr o risco de alguma deixar de funcionar ao transpor algum obstáculo mais difícil. O conforto também não é referencial em estrada, mas o facto da versão ensaiada dispor de tração integral obriga-a a ter uma suspensão mais firme, para conter movimentos mais bruscos de carroçaria e, dessa forma, protegê-la dos embates quando circular em trilhos mais acidentados.

Somente dois mil euros de diferença entre o preço da versão com tração dianteira e a de tração total, justificam plenamente a opção pela segunda. O que é que se ganha com isso? Em primeiro lugar, o Vitara adquire a versatilidade que lhe deu nome e que ainda hoje reúne uma legião de fãs, naturalmente com menos rusticidade do que a inicial, que precisava de dois manípulos para controlo dos modos de tração. No atual, o sistema “4WD Allgrip” possui comando rotativo para controlar quatro tipos de andamento – incluindo o bloqueio do diferencial central – para ajudar a ultrapassar percursos com menos aderência, ao distribuir a tração pelos dois eixos. E ajudou sempre nas condições em que o testámos.

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Impressões

O atual Suzuki Vitara está disponível em Portugal apenas com motor a gasolina 1.4, com tecnologia mild hybrid, destinada a reduzir consumos e emissões. O facto de só existirem versões a gasolina pode ser um obstáculo por agora; ou não, atendendo à tecnologia hoje necessária (e de manutenção mais exigente e delicada) para manter um diesel dentro das regras do WLTP.

A pouca altura ao solo – 18,5 cm – não colabora para melhores ângulos que permitam transpor obstáculos mais complicados. Porém, contribui para a aerodinâmica e para a vontade de manter os consumos em valores moderados. No final do ensaio, o computador de bordo marcava uma média combinada de 6,5 litros. Curiosamente, não era muito longe do valor anunciado para esta versão, igualmente mais penalizada no CO2 face à de duas rodas motrizes.