Pioneira na Mobilidade Elétrica em Portugal e agente ativa na discussão e promoção de uma mobilidade mais sustentável, nomeadamente com iniciativas como o Fórum da Mobilidade Inteligente, o diretor-geral da Nissan Portugal explica a visão e o trabalho do construtror neste domínio, nomeadamente no apoio à eletrificação do parque automóvel das empresas

A Nissan tem uma incontornável presença histórica na Mobilidade Elétrica e no arranque da eletrificação do parque automóvel nacional e também de muitas empresas. Paralelamente à 7.ª edição do Fórum da Mobilidade Inteligente, que anualmente reúne especialistas, entidades públicas e representantes de empresas ligadas ao sector para debater e partilhar experiência e conhecimento sobre como melhorar a mobilidade nas cidades de forma mais eficiente e ambientalmente amigável, a FLEET MAGAZINE conversou com José Botas, diretor-geral da Nissan Portugal, sobre a atuação do construtor neste domínio e sobre as soluções com as quais as empresas podem contar no processo de transição energética das suas frotas.

Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente 2023: espaço para debater e compreender o novo paradigma da mobilidade

O que é que está e pode ser feito para ajudar as empresas que atuam na distribuição ou realizam intervenções no interior das cidades com recurso a modelos elétricos. Que tipo de soluções é que a Nissan oferece?

Há muitos anos que trabalhamos no transporte de última milha, e acabamos por ter nele um papel fundamental.

No passado tínhamos a e-NV200 e agora a Townstar elétrica. Trata-se de uma solução prática de um automóvel comercial ligeiro de pequena dimensão, mas que serve perfeitamente para as necessidades que existem no mercado, essencialmente para fazer estes últimos quilómetros dentro das cidades; de forma não contaminante, sem ruído e durante o dia ou durante a noite. E sempre com elevada eficiência, porque circula a baixas velocidades e isso garante um quase constante processo de regeneração de carga.

Um bom exemplo disso é o que fizemos há muitos anos, no início da nossa incursão pela mobilidade elétrica, com os CTT [que usaram, durante muito tempo, a e-NV200 para distribuição].

A nível internacional temos algumas parcerias globais com a Amazon, com outro tipo de empresas que já têm como compromisso mudar a sua frota para veículos elétricos indicados para última milha.

Estamos a falar de um furgão compacto. Há num futuro próximo algum plano da Nissan para desenvolver um furgão grande 100% elétrico?

Neste momento não está definido, mas temos a Aliança a trabalhar nisso e estamos atentos e a trabalhar em conjunto com eles.

Naturalmente também estamos sempre atentos ao mercado, ao cliente e também à evolução tecnológica, que permitirá, mesmo com mais peso transportado, continuar a ter uma autonomia que se manifeste interessante, adequada e competitiva para a equação. Não vamos querer oferecer uma solução que permita o transporte de grandes cargas mas que depois ofereça uma autonomia muito curta.

Achamos que o futuro vai fazer com que as cargas sejam cada vez mais pequenas – dimensões ao redor de duas europaletes – e isso já faz a diferença dentro das cidades.

Olhando para as empresas que têm frotas elétricas, em que é que a Nissan pode ajudar para garantir o carregamento de carros elétricos nos edifícios dessas empresas? E de que forma pode torná-los mais eficientes?

A Nissan iniciou agora uma parceria com a Galp em Portugal, mas temos alguns projetos-piloto por toda a Europa, região que acaba por ser o nosso cluster para o desenvolvimento de projetos de mobilidade elétrica, onde já temos soluções que permitem ao cliente adquirir, via fornecedor de parceria local (no nosso caso identificámos a Galp) a aquisição de painéis solares conjuntamente com aquisição ou subscrição de um veículo.

Além disso, as empresas também podem obter um sistema de bateria que vai armazenar a energia captada. Começa assim a ser possível a venda à rede pública. Mesmo numa fase prévia, a Nissan já tinha acumuladores de energia para conseguir obter carga durante o dia e utilizá-la quando necessário nos momentos de pico.

A nível de empresas é diferente: os consumos são durante o dia. Quando há empresas cuja frota fica nas instalações da empresa, os carros podem carregar durante a noite com baixo custo e serem utilizados durante o dia.

José Botas, diretor-geral da Nissan, na abertura do 7.º Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente

Passando agora para o lado da condução inteligente, não será necessária a criação de corredores para veículos elétricos e/ou transportes públicos?

Esse devia ser um caminho intermédio. Vimos esse caso muito nos países do Norte da Europa, onde o peso da frota elétrica é diferente.

Foi uma solução inicial, que agora acontece em algumas outras cidades: por exemplo, Madrid tem corredores que dão prioridade ao transporte público. Na verdade, é um passo intermédio até que muitos outros países adotem esta solução, que acaba por vir mais pelo controlo da frota circulante.

A forma como os veículos podem comunicar entre eles, para evitar a entrada massiva à mesma hora no centro da cidade, pode evitar que uma “má utilização” de um carro venha a provocar uma fila interminável.

Essa má utilização pode também provocar acidentes. Sabendo que o objetivo de qualquer marca automóvel é melhorar a vida das pessoas mas também evitar os acidentes, o que é que a Nissan está a fazer para mudar a consciência do cidadão que ainda não está habituado a carros elétricos e ao facto de, por exemplo, não emitirem ruído de circulação como um carro a combustão interna?

Temos estas novas tecnologias de transição para a mobilidade elétrica, e o e-POWER é uma delas: pode dar uma experiência de condução de um carro elétrico ao mesmo tempo que vai preparando e consciencializando o condutor, além de retirar dele a ansiedade de autonomia. Muitas vezes fazemos 40 quilómetros por dia e achamos que algo que tem uma autonomia de 500 não é suficiente. Isso porque mentalmente temos a nossa cabeça formatada para a ideia de ter entrado na reserva de um veículo de combustão interna quando este ainda consegue circular 80 ou 100 quilómetros.

Por outro lado, a evolução a nível tecnológico e a experiência que já temos ajuda-nos a perceber qual vai ser o caminho. A Nissan já criou sons para que tudo o que seja veículo elétrico a usar a marcha-atrás emita alguns ruídos para avisar as pessoas acerca da presença de um veículo em movimento nas proximidades.

No capítulo da gestão de frotas, a Nissan está a desenvolver algum sistema de gestão de frotas que apoie as empresas e o utilizador? Por exemplo, uma app para telemóvel?

Inicialmente desenvolvemos a ferramenta e já temos a app Nissan Connected Services, que nos permite controlar a temperatura interior do carro, se está trancado ou aberto ou até mesmo abrir a mala para deixar uma embalagem, por exemplo; no futuro isso permitir-nos-á utilizar o nosso automóvel como um ponto de entrega e de receção de mercadoria.

Mas numa ótica de frotas isso é pouco, porque a gestão de frotas vai muito além disso. Temos na Europa um sistema, em fase de testes, que permite aos gestores de frota fazerem uma gestão dos seus carros de forma mais eficiente, uma vez que apresenta uma solução para as empresas que possam e queiram monitorizar e localizar as suas viaturas ou gerir os consumos e a quilometragem, entre outras valências.

Isto já é muito mais do que é requisitado pelo cliente particular. Pode ser utilizada pelo condutor/utilizador, mas é o gestor de frotas que precisa de mais informação, e é nesse sentido que esta app se dirige.

Falou de localização. A app Nissan Connected Services pode ser integrada com algum tipo de solução de outras empresas de telemetria?

Sim. O objetivo é que a app não seja fechada e que possa comunicar. Sabemos que muitas vezes uma frota de média dimensão já tem um sistema implementado e, além disso, as frotas têm várias marcas.