A FLEET MAGAZINE esteve em Marselha, mais concretamente na região de Aix-en-Provence, a conhecer em primeira mão o novíssimo Dacia Bigster, a mais recente aposta da marca romena do Grupo Renault para o segmento C-SUV.

Durante esta estadia, a FLEET MAGAZINE teve a oportunidade única de conversar, ainda que brevemente, com Julien Ferry, New Bigster Program Director, o homem por detrás da criação deste novo C-SUV (e também do Duster).

Julien Ferry

Ao longo da conversa, Ferry falou sobre os principais desafios que a Dacia enfrenta ao tentar incluir este novo modelo num mercado europeu já saturado de propostas SUV, bem como de alguns dos desenvolvimentos tecnológicos que a marca operou no Bigster.

Dacia Bigster à conquista do segmento C-SUV

Quais são, na sua opinião, os principais desafios que a Dacia enfrenta ao tentar inserir o Bigster num mercado europeu já tão saturado de propostas SUV? Quais são os atributos mais importantes que este carro tem para oferecer?

Este carro é a forma de a Dacia tentar conquistar o segmento C-SUV. O principal desafio que enfrentamos é como podemos servir este segmento com o nosso método Dacia. Por isso, o nosso objetivo não é competir com o mainstream, o nosso objetivo é fazê-lo “a la Dacia”. Isto significa que temos de optar pela melhor relação qualidade-preço para o cliente.

Tivemos de perceber o que é que este tipo de cliente gostaria de ter ou precisa. Por outras palavras, tivemos de entender o que é que temos de incluir no carro para que o cliente comece a considerar a nossa oferta.

Portanto, este foi o primeiro desafio, identificar as necessidades nas suas características essenciais, para o cliente que queremos conquistar: as pessoas que compram o segmento C-SUV, o principal segmento do mercado.

Denis Le Vot, o vosso CEO, falava em conferência de imprensa sobre o facto de o Bigster ter sido feito a pensar nos clientes alemães…

Ele diz isso porque, quando olhamos para os números, o maior mercado onde este segmento está presente é a Alemanha. Mas é claro que não fazemos tudo para a Alemanha, fazemo-lo para toda a Europa.

A primeira coisa a fazer foi identificar o que o cliente precisa, por exemplo, em termos de itens tecnológicos, e depois daí partir para pensar como incluir as características necessárias a um custo mais acessível. Foi aqui que trabalhámos muito.

Por exemplo: a porta traseira de abertura automática. Esta característica é bastante comum no Grupo Renault, mas a sua introdução nos nossos automóveis revelava-se muito dispendiosa. Mas a espera acabou – começámos por fazer muitas revisões de design e tivemos muitas conversas com os fornecedores para compreender como este sistema poderia funcionar nos nossos automóveis. A verdade é que tudo isso aumenta os custos. No entanto, tínhamos de perceber qual era a necessidade do cliente, que, sabíamos, quer simplesmente carregar num botão e abrir o porta-bagagens.

Inicialmente, era suposto instalarmos dois motores neste sistema, mas decidimos fazê-lo só com um. Foi um desafio, fizemos alguns testes, falhámos e, mais tarde, encontrámos o sistema perfeito para a forma como a porta traseira é feita. Por isso, temos a funcionalidade a um preço muito melhor e não há problema para o cliente. E agora a Renault (uma vez que fazemos parte do mesmo grupo) está a levar este sistema para os seus modelos.

Este é apenas um exemplo do nosso modus operandi: identificar as necessidades certas para o cliente e trabalhar nos nossos carros por forma a oferecermos um preço justo.

Relativamente à eletrificação. Compreendemos que é fundamental e a Dacia não foge ao compromisso… não acha que este tipo de carro beneficiaria de uma solução a diesel?

Neste momento, como explicou o nosso CEO, somos guiados pelos regulamentos europeus. Se pegarmos nos regulamentos atuais e tentarmos encontrar soluções a gasóleo, deparamo-nos com preços absurdos.

Na mente das pessoas, o gasóleo é bom porque, na maioria dos países, o combustível por si só é mais barato e o custo excedente é contido. Assim, se for um condutor que viaja muito, recupera o seu dinheiro em poucos anos. É por esta razão que as pessoas continuam a comprar gasóleo, mas se o excedente for muito e não for recuperado em quatro anos, por exemplo, então o negócio não é bom.

Ouvimos falar muito das expressões “simplicidade” e “essencial” nas conferências de imprensa da Dacia. Duas palavras inclusivamente frequentemente mencionadas por si. Um dos aspetos que notámos no interior do carro foi o uso de muitos plásticos a bordo. Porquê? Se este é o topo-de-gama da Dacia, porque é que não optaram por mais zonas com materiais de toque suave? Compreendemos que há custos… podemos dizer que esta opção foi para manter a simplicidade e a filosofia essencial?

Digo-o de uma forma diferente. Tentamos ser essenciais – o que significa que queremos trazer para o mercado automóvel aquilo de que as pessoas precisam no seu dia a dia, não 150 definições ou assentos com função de massagem… Queremos sim colocar no carro aquilo de que o cliente precisa. “Simples” na Dacia significa “simples e fácil de utilizar”.

Relativamente à questão dos materiais de toque suave, é preciso fazer escolhas, por isso tentamos melhorar as áreas em que o cliente toca todos os dias: a que está à frente do passageiro, o puxador da porta, etc.. Aí trabalhámos nos materiais. Noutras áreas, achamos que o nosso plástico é suficientemente bom e preferimos investir o dinheiro noutras áreas, onde achamos que acrescentaremos valor (uma melhor suspensão, as características básicas do segmento C, ar-condicionado bi-zona, o ADAS, etc.).

A nova motorização Hybrid 155 está equipado com uma caixa de velocidades automática multimodo sem embraiagem. Porquê esta abordagem num modelo destes?

Este sistema permite-lhe ter um desempenho muito livre naquilo a que chamamos de “energia baixa”. Neste motor, em particular, temos energia a gasolina e energia elétrica e, com este sistema, é muito fácil mudar e otimizar ao máximo o consumo de combustível e, consequentemente, as emissões de CO2, mantendo um preço aceitável. Por isso, no Grupo Renault acreditamos que esta é a melhor opção para atingir este objetivo: os melhores valores de CO2 ao melhor preço.

Há planos para uma versão 100% elétrica do Bigster?

Para já, não. Aguardamos a atualização da regulamentação europeia e, em função do que acontecer, adaptaremos o nosso plano.