O que esperar da ação da nova Ayvens em Portugal? E do atual momento do mercado automóvel? Em que estágio se encontra a eletrificação no país, nas empresas e na dimensão do negócio da, até aqui, LeasePlan? E de que modo a situação da economia europeia, a instabilidade de preços e a política mundial estão a impactar nas empresas e no negócio das frotas?
É o rosto da nova empresa e tem o desejo de prosseguir o trabalho que colocou a LeasePlan como a principal empresa gestora de frota em Portugal, em volume de negócio e número de viaturas sob gestão.
Nomeado para liderar o plano de integração das duas empresas no mercado português, LeasePlan e ALD Automotive, bem como a estratégia de desenvolvimento da nova marca no nosso país, o diretor-geral da LeasePlan em Portugal, agora Country Managing Director da Ayvens Portugal, diz nesta entrevista que os clientes podem contar com a mesma qualidade de serviço, reafirmando a importância que a modalidade renting assume em cenários de incerteza económica, instabilidade de preços, taxas de juro elevadas e também uma muito acelerada evolução tecnológica.
Consumado o negócio de fusão das duas gestoras e face à forma como ele decorreu em Portugal, a atividade da Ayvens, no nosso país, vai ser uma continuidade do trabalho da LeasePlan Portugal, ou podemos esperar mudanças e que tipo de mudanças?
Diria que será muito na continuidade. Continuamos no mesmo negócio e, se em alguns casos a LeasePlan assumia uma posição mais forte, noutros a ALD tinha uma posição mais destacada. Existe complementaridade nos segmentos de clientes, no tipo de negócio e na forma como ele é originado. Enquanto na LeasePlan houve sempre uma tradição histórica, uma presença muito forte nos clientes internacionais e nos canais diretos de angariação de clientes, a ALD tem uma presença fortíssima nas parcerias com os fabricantes automóveis. Naturalmente a rede de clientes internacionais das duas anteriores entidades vai ficar ao dispor da nova empresa.
Vamos manter as apostas que existem atualmente. A estratégia do Grupo Ayvens, o “Power Up 2026”, não é muito diferente daquilo que era a estratégia do Grupo LeasePlan. Assentam nas mesmas tendências do mercado e da mobilidade, na disponibilidade do mercado automóvel e nas mesmas oportunidades estratégicas. Portanto, estranho seria se fosse uma viragem completa; é a mesma realidade e será a mesma forma de olhar para ela.
Isso significa que, no dia-a-dia das operações da Ayvens Portugal, os clientes podem encontrar a mesma qualidade de serviço, o mesmo atendimento, o mesmo tipo de relacionamento?…
Nada muda. O facto de, em Portugal, por razões que são públicas, não ter havido fusão, faz com que não exista sequer uma disrupção que geralmente se gera quando ocorre a integração de duas empresas. Em Portugal isso não existe, não vai acontecer. Estamos focados em continuar a servir bem os nossos clientes e os seus condutores.
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O “Power Up 2026” é um plano estratégico da Ayvens, ajustado às novas exigências das empresas, como o cumprimento de metas de emissões e de responsabilidade social, que inclui o desenvolvimento de novas soluções de mobilidade ou a integração da digitalização nos processos. Neste âmbito, qual o contributo que pode trazer para as empresas nacionais?
Temos noção da importância, do contributo do nosso trabalho para ajudar os nossos clientes a reduzir as emissões das suas frotas. A própria evolução dos carros eletrificados, na frota da LeasePlan, é uma ilustração disso mesmo. No ano passado, 50% da nossa produção de ligeiros de passageiros foram eletrificados e, metade destes, ou seja, 25% do total, foram 100% elétricos. Isto mostra que levamos muito a sério a missão de ajudar os nossos clientes nesse objetivo. A forma mais óbvia é tentando enquadrar rendas competitivas nos veículos elétricos ou híbridos plug-in.
Por outro lado, como referência que somos no mercado, temos o dever de divulgar uma oportunidade do ponto de vista do custo total de utilização: em muitos segmentos e em muitos perfis de utilização, o veículo elétrico já é a opção que faz mais sentido em termos financeiros. E temos não só de divulgar isso, como também ajudar os nossos clientes a resolver algumas “ansiedades”, nomeadamente as relacionadas com infraestruturas próprias de carregamento. Seja nos seus escritórios, nas suas instalações, como em casa dos colaboradores. Foi para isso que lançámos o “eMotion Plan“, um produto que está sustentado numa parceria com a EDP.
Contratos internacionais anteriormente negociados com a ALD Automotive transitam automaticamente para a Ayvens?
Por definição, os contratos internacionais da ALD Automotive e da LeasePlan têm continuidade na Ayvens. A Ayvens é o resultado da fusão dos dois grupos, portanto, por definição, é assim. Obviamente que nos países, incluindo Portugal, onde houve um desinvestimento de uma das empresas, por razões de concorrência, existe um período de proteção para alguns desses clientes. Porém, a médio/longo prazo, a expetativa é que todos esses clientes migrem para a Ayvens, obviamente.
O facto de a Ayvens pertencer a um grupo bancário com grande capacidade de financiamento é uma vantagem?
É claramente uma vantagem. Fazer parte de um grupo com um banco da dimensão da Société Générale é um fator importante em termos de robustez financeira, capacidade de crédito, etc.. A LeasePlan dispunha de uma licença bancária e sempre tivemos de cumprir com todas as regulações da banca, portanto, nesse aspeto, nada muda, exceto no facto da Société Générale ser um grupo incomparavelmente maior e uma referência no sector do renting.
Nos últimos meses tem ocorrido alguma instabilidade na sequência de conflitos militares que geram pressão sobre os preços, atrasos nos transportes e ainda a perspetiva de alguma instabilidade política. Têm sentido, da parte dos vossos clientes em Portugal alguma reação a este conjunto de fatores?
Sim. E também devido ao aumento das taxas de juros. Neste contexto mais inflacionista há alguma desconfiança e, em Portugal, particularmente também pela questão política.
Sentimos uma retração na procura, não só nos contratos de renting, mas também na venda de veículos usados. Notamos e não escondemos. Era muito desejável e estou ansioso que possa acontecer um início de redução das taxas de juro, porque penso que a economia já está, como se costuma dizer, “a aterrar”.
E se isso impacta diretamente no nosso negócio, impacta também no negócio dos nos- sos clientes. Portanto, tem um duplo efeito no nosso negócio e, muito particularmente, nos usados e na procura dos segmentos particular e PME. Acabamos por ser afetados indiretamente, porque os nossos clientes estão a senti-lo nas suas atividades. Por isso, este início de 2024 tem sido particularmente lento.
O estado atual da eletrificação automóvel em Portugal deixa-o satisfeito? Acha que as empresas estão a fazer um bom papel, uma vez que são, desde a primeira hora, o motor elétrico desta mudança da mobilidade?
Sim. Acho que sim. Obviamente que há países na Europa, nomeadamente no norte da Europa, que estão muito mais adiantados. Mas em Portugal não devemos sentir qualquer vergonha. Não estamos na cauda da eletrificação. Há países, que até são vistos como mais desenvolvidos do que nós, que estão mais atrasados. Por isso, acho que sim. E acho que as empresas estão a fazer o seu papel, porque, de facto, são normalmente as primeiras a adotar o que é novo, a aderir às novas tendências, acabando por provocar um efeito dominó nos veículos usados, nas pessoas, nos consumidores…
O facto de contribuírem para criar um mercado que não existia, até o das infraestruturas de carregamento público, vai criando conforto para que os mais céticos, um dia, também adotem a mobilidade elétrica. E há outro aspeto que tem um contributo enorme para o progresso da eletrificação: o facto de haver uma diversidade de oferta muito grande, modelos elétricos com autonomias e velocidades de carregamento incomparavelmente superiores aos primeiros automóveis que apareceram há 12 ou 13 anos. Gradualmente estão a ser criadas condições para massificar uma tendência que, no início, eram só os mais inovadores que sentiam algum entusiasmo.
Ayvens Mobility Guide 2023: empresas preferem elétricos devido a TCO mais baixo
O ambiente fiscal favorável em Portugal também contribui para isso? Concorda com a frase, “há que aproveitar os benefícios fiscais para eletrificar enquanto eles existem, porque é uma oportunidade que pode não se repetir”?
Quando mostramos que o TCO, em determinados segmentos e em determinados perfis de utilização, já é favorável ao elétrico ou ao híbrido plug-in, se bem que na maioria dos casos ao elétrico, os impostos estão englobados nessa análise comparativa. O custo da energia, também. Faz tudo parte de uma equação que já é favorável aos elétricos em variadíssimos casos. Mas não incutimos nas nossas mensagens qualquer sentido de urgência do género: “olhe, é aproveitar agora porque nós não fazemos ideia o que vai acontecer em termos fiscais nos próximos tempos”. Simplesmente não nos pronunciamos sobre isso e, as nossas análises, que incorporam a componente fiscal, mostram o presente. Mas sabemos que Portugal não é propriamente um país que se possa considerar estável do ponto de vista fiscal.
Qual é a dimensão do parque 100% elétrico da LeasePlan/Ayvens em Portugal?
A nossa frota automóvel inclui mais de cinco mil carros 100% elétricos e cresce todos os meses. Mas se englobarmos os híbridos plug-in andará perto dos 14 mil veículos.
A redução generalizada de preço dos carros elétricos não gera dificuldades para o negócio de uma gestora de frota, uma vez que acaba por ter influência direta sobre os residuais? Como estão a lidar com esta questão?
Qualquer desvalorização de um ativo, que não seja gradual, que seja uma disrupção de um valor estável, para quem cobre esse risco, é sempre uma questão sensível. Mas, se calhar, é a prova de que os clientes que optaram pelo renting fizeram bem, uma vez que esse ónus está do nosso lado.
A eletrificação automóvel é uma tecnologia que ainda não esta madura, há o risco de obsolescência. Por isso, é um mercado que ainda vai sofrer muitos ajustamentos. A redução generalizada dos preços dos automóveis elétricos confirma também que o renting é uma opção que liberta os clientes, além dos aspetos administrativos, escolha e gestão de fornecedores, por exemplo, também dos riscos operacionais, como a desvalorização do automóvel, que fica do lado da locadora.
“Somos a mesma equipa”
Flexibilidade, preço, resposta rápida e aconselhamento contínuo. De forma resumida, quatro desejos que uma empresa espera cumprir quanto opta por uma solução renting e, também de forma resumida, os critérios votados pelo júri dos Prémios Fleet Magazine, que são, todos eles, utilizadores de renting. Em 2023, a LeasePlan obteve a pontuação mais elevada em todas as questões que constavam no boletim de voto, garantindo, pela nona vez, o Prémio “Gestora de Frota”. Isto não cria uma grande pressão à Ayvens em Portugal em 2024?
Todos os anos sentimos pressão. No sentido em que há sempre a expetativa de “será que vai ser possível ganhar outra vez?”. De facto, só houve um ano em que não ganhámos. Pressão, nós sentimos todos os dias para poder entregar e fazer o melhor possível, para ir ao encontro ou até superar as expetativas dos nossos clientes. Se isso depois se traduz de uma forma natural nesta votação… melhor ainda!
E assim vai continuar a ser. Somos a mesma equipa.
Não houve assim tantas mudanças na Ayvens Portugal. Por isso, a nossa forma de estar e de nos comportarmos mantém-se e vamos continuar a melhorar aquilo em que estamos menos bem e a preservar aquilo em que nos destacamos.