Ainda que todos os novos veículos vendidos a partir de agora sejam elétricos, Portugal não atingirá as metas de neutralidade carbónica até 2035 e 2050.

Conclusão preocupante do estudo “Mobilidade Elétrica em Portugal: Onde estamos e para onde vamos?” realizado pela Católica Lisbon School of Business & Economics e financiado pelo Grupo Brisa, que alerta para duas realidades atuais do nosso país:

  • A falta de mais automóveis elétricos
  • A falta de medidas de incentivo à instalação de pontos de carregamento

Tendo analisado o sector dos transportes (rodoviário, marítimo, aéreo e ferroviário) e avaliado o peso de cada um destes segmentos em termos de consumo energético, poluição e adesão às formas de mobilidade elétrica, o estudo até conclui que Portugal já tem condições para responder a um aumento da procura de carregamento elétrico, num modelo mais aproximado à existente rede de combustíveis fósseis. De que forma? Adaptando a infraestrutura de pontos de carregamento rápidos e ultrarrápidos para esse efeito, diz o estudo.

Ao mesmo tempo que se deve investir na infraestrutuera de carregamento, deve ser reforçada a transparência dos preços de carregamento e investir em novos modelos de concessão de autoestradas, que permitam ter portagens subsidiadas, sistemas de portagens que permitam reduzir o congestionamento em horas de ponta e o uso de vias prioritárias, como corredores dedicados a transportes públicos, por exemplo.

Para Joana Silva, professora da Católica-Lisbon, é notável o progresso que se assiste no sector dos veículos elétricos em Portugal, mas tal ainda não é suficiente para serem atingidas as metas de neutralidade carbónica até 2035 (36% do parque automóvel deveria ser elétrico) e 2050 (100% do parque automóvel deveria ser elétrico).

Faltam políticas públicas de incentivo

E se a falta de veículos elétricos na estrada é um dos motivos apontados pelo estudo, as políticas públicas de incentivo são também motivo de nota.

O estudo refere países como a Noruega (onde há financiamento público para ter pelo menos dois postos de carregamento rápido a cada 50 km de estrada), a Alemanha, onde foram instaladas nove mil novas tomadas e mil postos rápidos e ultrarrápidos, ou os Países Baixos, onde foi dada prioridade aos táxis e camiões elétricos, reduzindo o IVA para os carregadores públicos.

Faltam carregadores rápidos e ultrarrápidos

Existem apenas apoios públicos à infraestrutura em condomínios, diz o estudo, ficando assim a faltar postos rápidos e ultrarrápidos adequados aos fluxos fora das grandes cidades.

São também necessários “grandes investimentos” em carregadores rápidos e ultrarrápidos na via pública.

E se já há estacionamento gratuito para veículos elétricos em várias cidades, algo que o estudo aponta como positivo, faltam medidas como subsidiação de portagens e acesso a vias prioritárias para esse tipo de veículos, além da já escassa oferta de locais para carregamento público.

Quanto aos subsídios e créditos fiscais para a mobilidade elétrica, o estudo refere que Portugal já implementa medidas do género. Porém, faltam políticas que incentivem diretamente a substituição de carros antigos e poluentes, refere o estudo.

Como agir

Há duas prioridades, segundo este estudo da Católica-Lisbon:

  • Por um lado, incentivar a renovação do parque automóvel, maioritariamente constituído por veículos munidos de motores de combustão interna, para um parque elétrico (que, refere, representa neste momento 3% do parque automóvel nacional) e procurar um melhor equilíbrio entre o transporte individual e o transporte coletivo;
  • Por outro lado, são “precisos incentivos à instalação de carregadores rápidos e ultrarrápidos para viagens de longa distância, um problema que se agrava porque metade dos carregadores do país estão nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e 101 municípios no país não têm qualquer instalação de carregamento rápido”, lê-se.

Criação de maiores facilidades à utilização de veículos elétricos (como o acesso a vias prioritárias, subsidiação de portagens, estacionamento em todas as cidades portuguesas e apoios à aquisição superiores para quem substitui carros antigos e poluentes) é outro dos pontos referidos.

A importância de se tornar o preço dos carregamentos elétricos é outro dos fatores a ter em conta. Permitir o pagamento com cartão bancário em todos os postos é outro dos pontos mencionados pelo estudo da Católica-Lisbon.

Joana Silva conclui, dizendo ainda que “é importante examinar o modelo organizativo do sector, identificando oportunidades para, através de maior concorrência, aumentar a oferta de postos de carregamento e reduzir os preços para os utilizadores, assegurar transparência nos preços de carregamento e permitir pagamento com cartão bancário em todos os postos, equiparando a experiência à dos veículos de combustão, priorizar a instalação de carregadores rápidos e ultrarrápidos para viagens de longa distância, e promover acesso a transportes públicos de qualidade como uma alternativa sustentável ao uso individual de veículos”.

Consulte o estudo “Mobilidade Elétrica em Portugal: Onde Estamos e para Onde Vamos?”