A Ascendi foi um caso prático de gestão de frota apresentado na 2.ª Conferência Gestão de Frotas realizada em maio de 2024, na Alfândega do Porto. Os oradores do painel com o título desta reportagem, Célio Pereira e Luís Espírito Santo, explicaram a complexidade de administrar uma frota cuja composição, diversidade e abrangência territorial torna desafiante a tarefa de eletrificação de algumas tipologias de viatura. Por isso, estão atentos a outras soluções que, permitindo igual propósito de reduzir emissões, não coloquem em causa a segurança e viabilidade das operações

Fundada em 1999, a Ascendi e uma empresa que desenvolve a sua atividade no mercado das infraestruturas rodoviárias, atuando em três áreas de negócio: gestão de ativos, prestação de serviços de cobrança de portagens e prestação de serviços de operação e de manutenção de infraestruturas rodoviárias.

No ano em que comemora 25 anos de atividade, aceitou o convite da FLEET MAGAZINE para apresentar, no palco da 2.ª Conferência Gestão de Frotas – Porto, o modelo de gestão e eletrificação do seu parque de viaturas que integra veículos e equipamento com características especiais, utilizados para assegurar algumas atividades de manutenção específicas.

Atualmente, a Ascendi é detentora de seis concessões de autoestradas, operando uma rede de cerca de 700 quilómetros e gerindo dez operações de cobrança de portagens.

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Célio Pereira, à direita na imagem, é o Gestor responsável pela frota da Ascendi. Luís Espírito Santo integra a equipa de Gestão de Frota, que é constituída por mais um elemento e que tem vindo a ser reforçada com o crescimento e internacionalização da Ascendi.

Como é formada a estrutura de decisão em relação à frota automóvel? Existem políticas internas de responsabilização de utilização das viaturas?

A Ascendi possui uma Política de Frota que regula os regimes de aquisição, as tipologias consoante a funcionalidade, a alocação e utilização de viaturas assim como a responsabilização pelo uso das mesmas. Dado que a frota é um ativo estratégico, as decisões são tomadas ao mais alto nível da organização.

O que motivou a Ascendi a avançar para a eletrificação?

Existe, por parte da organização, um compromisso de sustentabilidade social e ambiental que levou a definir metas específicas, tendo em vista a redução de emissões. O Plano Estratégico de Energia da Ascendi prevê atingir a eletrificação de cerca de 70% das viaturas ligeiras até ao final de 2030. Neste momento já eletrificámos 21% da frota total, representando 25% das viaturas ligeiras.

Uma parte significativa desta transição foi fortemente alavancada pelos veículos híbridos plug-in, sobretudo nas viaturas de backoffice, que apresentam um perfil de utilização mais urbano. A utilização destes veículos permitiu uma transição e adaptação mais suave por par- te dos utilizadores, mas acreditamos que gradualmente será substituída por veículos 100% elétricos.

Que desafios tiveram de enfrentar nesse processo?

O caminho nem sempre é fácil. A especificidade das nossas viaturas relativamente aos percursos, os pesos brutos, a autonomia, a aerodinâmica e a falta de opções são limitadores da transição em viaturas de frontoffice, onde a eletrificação representa apenas 7%, enquanto que nas de backoffice já atinge 41%.

Todas as viaturas passíveis de serem eletrificadas são alvo de um estudo prévio pormenorizado e individualizado para avaliação do perfil de utilização e sua compatibilidade com as autonomias e infraestrutura de carregamento disponível.

No sentido de potenciar e acelerar a nossa transição energética, temos vindo a expandir a nossa rede interna de postos de carregamento e instalar postos de carregamento em casa dos colaboradores. São postos em regime DPC, cuja utilização, para além de permitir maximizar os carregamentos a custos mais baixos, mitigam as preocupações com autonomia e tornam a utilização dos veículos elétricos mais agradável.

Sabemos, também, que a eletrificação não chegará a todas as tipologias. Por isso mantemo-nos atentos às restantes opções que o mercado nos vai disponibilizando, como é o caso do hidrogénio.

Já é possível fazer um balanço em termos de redução de custos, poupança de emissões?

Desde que iniciámos a eletrificação da frota em 2018, já foram percorridos 1,3 milhões de quilómetros em viaturas 100% elétricas. Com base na informação mais recente, podemos dizer que anualmente deixámos de emitir cerca de 170 toneladas de CO2.

A nível de poupança é bastante significativa, pois temos menores custos de utilização em viaturas que já ultrapassaram os 200 mil quilómetros, sem grandes avarias ou períodos de imobilização.

Que sugestões ou conselhos deixariam para uma empresa que esteja em processo de eletrificação da frota?

Quando se pensa num plano para eletrificar uma frota é preciso ter em conta vários fatores. É crucial perceber que nem toda a frota é eletrificável. A partir desta premissa, há que estratificar e priorizar as viaturas que possam, por via dos percursos realizados, atividade desenvolvida e estrutura de carregamento disponível, serem eletrificadas, sendo fundamental dotar a empresa de uma rede interna de carregamento, idealmente apoiada com painéis fotovoltaicos.

A partir deste ponto, é necessário consciencializar e formar os condutores para esta nova realidade. Algo que procuramos fazer no momento da entrega de uma viatura elétrica e que é reforçado através das formações em condução eco eficiente.

Pool e Ridesharing

A Ascendi dispõe de várias viaturas para partilha entre as diversas áreas, efetuando a sua gestão através de uma plataforma que, além da pool, também gere o Ridesharing. As viaturas estão disponíveis 24 horas, com portaria automatizada em que se efetua a entrega e devolução através de smartphone ou tablet, com recurso a App Mobile. Este sistema também permite a partilha de boleias, conseguindo juntar colegas que, de outra forma, utilizariam diversas viaturas em deslocações para um mesmo local.

A Ascendi possui uma frota muito diversificada e dispersa a nível nacional. Das 356 viaturas, 128 são ligeiros de passageiros, 127 ligeiros de mercadorias com uma idade média de cerca de 3 anos. Conta ainda, com 32 pesados, 31 equipamentos e 38 reboques de apoio às operações

B.I. da frota Ascendi

  • Número de viaturas: 356 unidades
  • Por tipologia:
    Ligeiros de passageiros: 128 unidades
    Ligeiros de mercadorias: 127 unidades
  • Viaturas especiais: 32 pesados, 31 equipamentos e 38 reboques de apoio às operações
  • Idade média da frota: 3 Anos
  • Modelo de Aquisição: Aquisição direta, aluguer operacional, aluguer de média duração, rent-a-car
  • Razão para haver mais do que um modelo de financiamento: Dependente da tipologia da viatura, da funcionalidade a que se destina e do tempo de utilização expectável, podendo variar consoante o custo-benefício das diferentes opções, procurando sempre as soluções de mobilidade mais adequadas e sustentáveis
  • Critérios de escolha: Na análise e seleção de opções, é ponderada a possibilidade e viabilidade de eletrificação tendo sempre presente aspetos como as emissões, autonomia, tempo de carregamento e rede de postos disponível em cada caso. Nas viaturas operacionais a aptidão para transformação, dimensões e capacidade de carga são também fundamentais. Procura constante da melhor relação qualidade- preço,  privilegiando também a fiabilidade e aspetos relacionados com a segurança da operação. Essencial que as marcas possuam uma boa rede de oficinas, com tempos de intervenção reduzidos, uma vez que a frota operacional encontra-se bastante dispersa a nível geográfico e pretende-se tempos de imobilização bastante reduzidos
  • Sistemas de georreferenciação e/ou de controlo/gestão da frota instalados nas viaturas: Utilização de sistemas de georreferenciação na frota operacional de viaturas e máquinas, essencialmente com propósitos de proteção e segurança de pessoas e bens. Também para melhor gestão e controlo das operações na infraestrutura
  • Decoração/Identificação das viaturas: Nas viaturas operacionais, para efeitos de segurança, visibilidade e identidade corporativa da Ascendi