O grupo DPD Portugal encetou um ambicioso plano de descarbonizar por completo a frota própria de distribuição urbana. Depois de Lisboa e Porto, a mobilidade sem emissões estender-se-á ao resto do país, ao ritmo das autonomias permitidas pelos veículos e da evolução das infraestruturas de carregamento elétrico
Ao contrário do que sucedeu com a maioria das empresas nas alturas mais críticas da pandemia, aquelas que atuam na área da distribuição, por razões sobejamente conhecidas, aumentaram o ritmo da sua atividade.
Esse crescimento desencadeou a necessidade de reforçar a frota e o número de rotas (algo a que empresas da área estão habituadas, nomeadamente nas alturas festivas do ano), a que se juntou a necessidade de implementar rigorosos sistemas de controlo sanitário, por causa da COVID-19.
Controlo que decorreu quer no processamento das encomendas em armazém, quer durante as fases de recolha e posterior distribuição.
Facto que, realça Rui Nobre, diretor geral adjunto de operações (COO) do grupo DPD em Portugal, decorreu com poucos sobressaltos e sem nunca interromper a atividade da empresa.
Em movimento continuou também o processo de transição energética da frota.
Consciente do impacto ambiental que um veículo de mercadorias tem sobre o meio urbano (sobretudo, mas não só), a DPD Portugal encetou a renovação dos veículos de distribuição urbana, estando a substituir os ligeiros de mercadorias a gasóleo, que operam na capital, por unidades 100% elétricas.
Sendo uma das empresas que subscreveu o “Compromisso Lisboa Capital Verde Europeia 2020“, que se propõe implementar ações concretas de redução de CO2 no município, a empresa instalou duas estruturas de madeira com diferentes tipos de musgo que serviram para limpar o ar e produzir oxigénio, além de ter contemplado Lisboa entre as cinco cidades europeias que beneficiaram de um programa de diagnóstico da qualidade do ar (Air Diag), através de sensores móveis instalados na frota de distribuição da DPD Portugal e em algumas lojas da rede Pickup, para monitorizar os níveis de poluição em tempo real.
A frota da DPD Portugal fez capa da edição de novembro de 2021 da Fleet Magazine. A entrevista decorreu com Rui Nobre, diretor geral adjunto de operações (COO) da DPD em Portugal.
Em 2019, o grupo DPD assumiu as operações resultantes da fusão das empresas Chronopost e Seur no nosso país, sendo que Rui Nobre já era COO da Chronopost desde 2016. Entre 2009 e 2016 foi igualmente diretor de operações da TNT.
Em junho de 2021 a DPD Portugal, a Mercedes-Benz Vans e a Repsol assinaram um acordo que envolveu a aquisição de 55 eSprinter à Mercedes-Benz Portugal e 55 postos de carregamento para viaturas elétricas à Repsol, num investimento superior a 3,6 milhões de euros. Que motivos levaram a DPD Portugal a avançar para a eletrificação?
Não foi só uma decisão da unidade de negócios em Portugal. A DPD assumiu o compromisso de melhorar a qualidade de vida urbana e, se existem estudos que referem que, na Europa, por ano, há 390 mil pessoas que morrem prematuramente devido a questões de poluição, claramente, não podíamos ficar fora disso.
Tivemos de atuar, conscientes do impacto que a nossa atividade tem nas emissões de CO2 e NOx.
Por isso, definimos um programa a nível europeu, que vai abranger, até 2025, 225 cidades europeias, nas quais vamos descarbonizar totalmente a nossa frota.
Em Portugal, as cidades escolhidas foram Lisboa e Porto.
Estas 225 cidades abrangem mais ou menos 80 milhões de pessoas.
Concretizando: até 2025, todas as entregas da DPD Portugal em Lisboa e Porto vão passar a ser feitas com viaturas sem emissões?
Ou até antes. Sem emissões nestas cidades. Viaturas de mercadorias sem emissões, mas também passa por reformular a estratégia de logística urbana para permitir entregas a pé, de bicicleta, através de veículos elétricos mais pequenos e ideais para o last mile.
Já estamos a introduzir bastantes veículos destes e a boa notícia é que já foi ultrapassado o propósito inicial, o que poderá permitir que 2025 “chegue mais cedo”.
Por exemplo, o plano traçado era descarbonizar a frota em Lisboa em 2022 e a do Porto em 2023/2024. Como acelerámos bastante, conseguimos fazê-lo em Lisboa no final de 2021.
E no Porto, agora em 2022. E vamos começar a descarbonizar, também já este ano, as operações em várias capitais de distrito.
Só não avançamos mais rápido porque a autonomia dos atuais veículos nos impede de fazê-lo.
Temos armazéns em que as carrinhas fazem mais de 100 quilómetros diários e ainda não existe autonomia que nos permita operar com margem de segurança.
https://fleetmagazine.pt/2021/10/20/apocme-associacao/
O que motivou a escolha da Repsol e da Mercedes-Benz? É devido a algum acordo a nível global?
Não é uma acordo global e diria que tão pouco é um acordo local. Lançámos um concurso para a aquisição de 55 viaturas elétricas e a Mercedes-Benz, em parceria com a Arval, foram, de entre as que participaram, as que ofereceram a melhor proposta.
Quer em termos do veículo como de autonomia, cumpria com tudo o que estava no caderno de encargos e as condições, de uma forma geral, foram as melhores. Por isso fechámos o acordo.
A maior dificuldade estava na construção da infraestrutura de carregamento elétrico.
E a Repsol, que já era nossa parceira no fornecimento de gasóleo, surgiu com grande vontade de contribuir para a transição energética. Quis manter a parceria connosco e estendê-la também à área dos carregamentos elétricos.
E qual a razão de serem 55 viaturas?
O primeiro objetivo era descarbonizar totalmente a frota com que operamos na cidade de Lisboa, substituindo as viaturas térmicas pelas novas viaturas elétricas.
Em Lisboa trabalhamos com 50 circuitos, cerca de 50 rotas, digamos assim.
Para fazer face a alguns “picos”, decidimos que, como em algumas alturas poderemos chegar às 55 rotas, este seria o número de unidades necessário para cobrir toda a área de operações.
Mas em 2022 serão mais 70 veículos de mercadorias elétricos: 35 para o Porto, os restantes 35 destinados a outras cidades como Coimbra, Leiria, Faro… Escolhemos cidades em função da autonomia que os veículos atuais permitem.
A partir do momento em que apresentem modelos com mais autonomia, vamos expandindo o processo de descarbonização.
Até ao final de 2022 conseguimos descarbonizar 20% da nossa frota operacional. Ficam a faltar os restantes 80%, mas, para isso, estamos dependentes da oferta das marcas.
CONTINUA, PARTE II: FROTA DPD, NÃO BASTA TER ELÉTRICOS, É PRECISO ENCONTRAR FORMA DE CARREGAR-LHES AS BATERIAS
B.I. da frota DPD
- Número de veículos na frota DPD: 335 viaturas operacionais (ligeiras e pesadas de mercadorias), 81 viaturas com funções administrativas (ligeiras de passageiros). Apoio à gestão de mais quatro centenas de viaturas operacionais de frotas subcontratadas;
- Marca(s) e modelo(s) predominante(s): Renault Master, Peugeot Boxer e Mercedes-Benz eSprinter entre os veículos operacionais. Uma gama muito diversa de marcas e modelos ligeiros de passageiros;
- Veículos elétricos: 55 Mercedes-Benz eSprinter, 1 Renault Kangoo E-TECH Electric, 1 Renault Master Z.E., 1 Nissan e-NV200 e 1 Citroën ë-Jumpy;
- Idade média da frota: 24 meses nos ligeiros de passageiros, 18 meses nos ligeiros de mercadorias, 48 meses para os pesados de mercadorias;
- Modelo de aquisição habitual: AOV nos ligeiros, tipicamente 150 mil quilómetros/36 meses;
- Gestoras presentes: LeasePlan e Arval;
- Processo de contratação renting: todos os serviços, exceto pneus e viatura de substituição. Porque negoceiam poucas medidas de pneus e apenas um tipo de viatura em rent-a-car, conseguem valores mais atrativos contratualizando diretamente com os fornecedores;
- Gestão de combustível: cartão frota Repsol; nove postos de abastecimento próprio que representam 85% do consumo da empresa;
- Requisitos que façam sempre parte do caderno de encargos das aquisições: equipamentos de assistência à condução, nomeadamente travagem ativa e câmara para manobras em sentido de marcha-atrás;
- Sistemas instalados nas viaturas: fase de testes com tecnologia da Mobileye. O sistema ajuda nas distâncias de segurança e faz recolha de dados para análise do tipo de condução dos condutores, para atuar, com formação adequada, sobre os pontos individuais mais vulneráveis de cada condutor;
- Política de frota: sistema de bónus/malus com os motoristas de ligeiros de mercadorias, que representa a parte mais substancial da frota. Algumas iniciativas disciplinares para controlo da sinistralidade rodoviária;
- Frota decorada? Sim, por questões de imagem e divulgação da marca DPD.