Parte I: como o modelo de negócio da Randstad define a sua frota

A Randstad assume-se como líder na área dos recursos humanos, sendo o terceiro maior empregador privado em Portugal.

Essa liderança do mercado dá a Randstad uma responsabilidade acrescida na relação que tem com os seus clientes.

Principalmente com aqueles com quem a empresa negoceia um pacote completo’ que abarque o recurso humano e os equipamentos necessários à sua função, incluindo a viatura.

“Nesses casos temos de estimar qual é o custo com a renda da viatura e, se for o caso, também os custos em Via Verde, gasóleo, portagens, estacionamento, lavagens, etc.… Incluimos ainda os custos da Tributação Autónoma, que são pagos por nós, embora a viatura esteja a ser usada na casa do cliente. Se estes custos dispararem… melhor dizendo, quando estes custos disparam… às vezes não temos alternativa senão voltar a negociar com o cliente. Mas é também por esta volatilidade que a negociação e gestão de frota têm um papel tão importante na nossa organização”…, refere Luís Lobato.

Daí que o seu primeiro desafio que enfrentou quando assumiu a gestão da frota – e que continua a sê-lo todos os dias – diga respeito à fiscalidade.

Principalmente em 2018 e na antecipação do que mudará em 2019 por causa do WLTP, com reflexos diretos sobre os custos das viaturas e implicações na definição dos escalões de atribuição autónoma a que pertencem.

Para poder controlar melhor esse fator de risco e de imprevisibilidade, o primeiro passo foi centralizar a gestão da frota.

“Estava integrado na área financeira, mas ainda com muitas ligações às áreas de negócio e sem uma visão holística do seu impacto. Hoje em dia, a gestão de frota faz parte do departamento de ‘facility & suplly chain’. Ao centralizar, obtivemos vantagens competitivas a nível do TCO, condições de mercado e de negociação. Um maior volume dá-nos, obviamente, um impacto diferente junto daqueles que são nossos parceiros do que quando negociamos viaturas avulso. Centralizar a frota permite-nos isso e fazer negociações anuais ou bianuais. Ao mesmo tempo, os nossos condutores/utilizadores também têm um suporte mais efetivo e maior capacidade de resposta da nossa parte”.

Engenheiro Civil de formação, Luís Lobato está a construir um parque automóvel capaz de se moldar às variáveis próprias do negócio. Por isso, a frota acompanha as necessidades de mercado, à semelhança do que acontece com as soluções que a Randstad promove na área dos Recursos Humanos

A incerteza dos custos

Nesse processo, Luís Lobato percebeu também que as próprias gestoras de frota não estavam confortáveis para negociar preços para 2019 pelas mesmas razões de incerteza fiscal.

“Isso impede-nos de avançar já com aquilo que queríamos para fechar o ano de 2019 e 2020, não nos deixa fazer uma projeção clara de frota para os próximos dois anos. Compreendemos a limitação e por isso só vamos avançar quando sentirmos essa certeza e confiança do mercado…”

Mas a pressão do aumento dos custos não vem apenas por via da fiscalidade, também está relacionada com o preço dos combustíveis.

“O aumento consecutivo do preço dos combustíveis é algo que não podemos evitar e o seu consumo é difícil controlar porque parte da frota é utilizada pelos nossos colaboradores nas instalações e ao serviço dos nossos clientes”.

Apesar de não ter nenhum programa específico de eco-condução, sempre que entrega uma viatura (e entrega mais que uma por dia) a equipa de gestão de frota da Randstad faz essa sensibilização junto dos condutores.

“É um desafio desenvolver ações de formação quando as viaturas e os seus utilizadores não estão ‘em casa’ e sim, temporariamente, a prestarem serviços junto dos nossos clientes. Por isso, o que nós fazemos sempre que entregamos as viaturas é sensibilizar os condutores para as boas práticas de utilização de uma viatura. A nível da frota interna está a ser equacionado, quer para a sinistralidade quer também para as normas rodoviárias”.

Para poder gerir e controlar melhor todas as variáveis, desde logo foi desenhado um modelo de política de frota aplicável a todos os colaboradores da Randstad em Portugal, independentemente do nível organizacional que ocupam ou da função que têm.

“Completamente transversal. Nela consta a política de atribuição de viaturas por escalões e estes estão associados à função de cada uma das pessoas, tipologias de veículos, normas de utilização, consumos permitidos, regras gerais de utilização. E também a parte da sensibilização para a utilização prudente da viatura.”

Mais elétricos, mas só se existirem condições

A gestão da pegada ambiental da frota é um compromisso que Luís Lobato não recusa, até porque a empresa está obrigada a reportar esses dados ao grupo, que é cotado em bolsa (em Amsterdão) e tem um relatório de sustentabilidade.

“O impacto ambiental da frota este ano é menor do que foi no ano passado. Obviamente que queremos deixar o nosso marco na redução da pegada ecológica”.

Apesar de já existirem viaturas plug-in na frota, Luís Lobato refere que a utilização de viaturas elétricas está condicionada a alguns fatores práticos que impedem de as ter em maior número.

“Nomeadamente, porque isso depende de aumentarem as infraestruturas de carregamento, do preço dessas mesmas infraestruturas, da questão da autonomia e dos incentivos fiscais que sabemos que podem variar de ano para ano”…, explica.

Por isso não existe uma política de frota  elétrica.

“Se fizermos um ‘business case’ para percebermos se nos compensa termos uma viatura, no final, mais uma vez, é o TCO que impacta mais na decisão. E o TCO tem custos e a incerteza quanto aos benefícios apresentados, que ninguém garante que sobrevivem a mais de um ano”, conclui.

 

(Reportagem publicada na FLEET MAGAZINE, edição de novembro/2018)

 

 

“O desafio está em encontrar a melhor relação qualidade/preço para ‘aquele’ modelo ou para aquela cilindrada. É que o nosso cliente contratou um ‘pacote’ completo que inclui o colaborador e a viatura e, muitas vezes, a política da empresa nossa cliente prevê uma viatura de determinado segmento ou marca, por uma questão de alinhamento com os demais colaboradores dessa empresa com a mesma função”