Quando chegou à empresa, em 2003, não havia mais do que 10 viaturas em parque para os 16 colaboradores que a Wondercom então contava.

Hoje são cerca de 500 para uma frota de 252 carros e, além de os administrar, Pedro Duarte acumula a tarefa com gestão de projectos.

“Disponho de uma carteira de clientes, entre operadores, integradores e fabricantes e, desde a angariação de novas oportunidades, à implementação e controlo, da parte processual da logística à facturação, acabo por abarcar grande parte da actividade da empresa. Em Junho de 2007, tomei essa área em conjunto com a gestão da frota, na altura, com 30 viaturas”.

O ‘boom’ das telecomunicações e o incremento das tecnologias de informação levou ao desenvolvimento de novas áreas de negócio na Wondercom.

Por isso, os 252 carros da frota encontram-se dispersos pela Wondercom, Wondertrade e Knowledgeworks, empresas que actuam no Design de Soluções, Implementação, Suporte e Manutenção, ‘Field Service’, Monitorização e Operação, ‘Outsourcing’ e Consultoria e Soluções TIC bem como na actividade comercial, incluindo “door-to-door”.

Pedro Duarte gere a frota automóvel da Wondercom há doze anos, mas entrou na empresa há dezasseis. Sem qualquer experiência anterior nesta função é também gestor de projecto desta empresa de serviços de tecnologias de informação e telecomunicações. Foi júri da edição 2018 dos prémios Fleet Magazine para as categorias “Viatura do Ano” e “Gestora do Frota” e volta a ocupar o lugar em 2019, desta vez enquanto elemento escolhido pela promotora dos prémios. Nas horas vagas gosta de andar de mota e foi praticante de hóquei em patins na posição de guarda-redes.

Na última edição de 2018 da Fleet Magazine pedimos-te que enumerasses os principais desafios que esperavas em 2019. Referiste a sinistralidade, a negociação e a fiscalidade como os principais. Confirmam-se?

Com a transição do ano e com as alterações do WLTP, a fiscalidade é sem dúvida um desafio. Com as novas condições e face à especulação sobre o mercado dos combustíveis, torna-se difícil construir condições vantajosas face aos anos anteriores, porque o mercado elevou bastante o nível de risco.

No que se refere à sinistralidade, continua a ser claramente um tópico relevante devido ao elevado risco existente na actividade das nossas viaturas (ver caixa).

Em concreto o que se está a passar e que vem complicar as contas do TCO?

Provavelmente por causa da indefinição do gasóleo, há rendas que agravaram muitas dezenas de euros, enquanto o preço de venda do carro cresceu apenas mil euros.

Este agravamento deve-se essencialmente ao valor residual nos contratos novos, que se  agravam muito consoante aumenta o prazo da contratação.

Ao ponto de equacionar a entrada de uma nova marca nas renovações de que temos necessidade este ano.

Os modelos a gasolina podem ser uma solução?

Eventualmente. Para nós, a nível fiscal, é exactamente a mesma coisa no caso das viaturas de passageiros.

Devido ao nosso CAE, não podemos deduzir o IVA destes veículos. Mas é necessário encontrar um equilíbrio face ao comportamento da condução e ao facto de eventualmente conseguir rendas mais baixas mas ter mais despesa com o combustível.

Analisar se é compensatório ou não é uma nova realidade que implica estudos e esperas de valores das marcas, das gestoras, negociações…

De facto, sinto alguma desconfiança em relação ao gasóleo. Outras fontes de energia não são alternativa?

Por exemplo, no caso da VW Caddy a GNC…

Coloca-se sempre a questão do reabastecimento, porque a frota está espalhada por todo o país. É verdade que podia ter uma frota mista mas, como ela está toda em AOV, a renda desse tipo de viaturas não é competitiva.

Com os eléctricos, nos comerciais nem se coloca, dado o tipo de utilização e autonomia.

Nos passageiros, há a questão da falta de estrutura de carregamentos, inclusive públicos, nas imediações da nossa empresa e sinto que ainda não existem as condições reunidas para os colaboradores acolherem uma viatura de serviço eléctrica. Ainda não temos as condições mínimas reunidas.

No caso dos híbridos, a nossa frota fica maioritariamente abaixo dos 25 mil euros e dificilmente encontramos algum, apesar da redução da tributação autónoma, no caso dos PHEV, os colocar no mesmo patamar dos 10%.

Mas depois voltamos à questão das rendas e à necessidade de rentabilizar o uso da componente eléctrica e da falta de infraestruturas.

Modelo de gestão, de selecção e de contratação

Como é gerida a frota? Está inserida num departamento de compras? E como é feita a gestão a nível nacional (nomeadamente ilhas)?

O departamento de gestão de frota é um departamento independente que reporta directamente à gestão de topo.

Operacionalmente é gerida por cada um dos nossos centros operacionais (Sul-Lisboa, Centro–Entroncamento e Norte-Porto), sendo que todas as situações de cariz burocrático e administrativo estão centralizadas em mim. Referente às ilhas, a gestão é efectuada remotamente a partir de Lisboa.

Há alguma razão para a totalidade da frota da Wondercom se encontrar toda em renting? Mesmo os comerciais?

Por causa da flexibilidade.

Temos uma actividade muito variável, que depende muito dos contratos que ganhamos e com o AOV consigo gerir melhor as necessidades, já que tenho carros a terminar todos os anos.

Ou seja, se tiver de reduzir viaturas não vou ter de me preocupar com as rendas antecipadas. É sempre mais fácil e competitivo prolongar quando se justifica. Inclusive, já o fiz este ano.

Por isso, os prazos podem ser 24, 36 e 48 meses, com quilómetros ajustados à realidade do utilizador e, como referi, mantendo flexibilidade para efectuar algum “defleet” caso seja necessário. Tipicamente as quilometragens médias anuais dos comerciais são 40 mil quilómetros e dos passageiros são 25 mil.

Há alguma razão para um predomínio tão grande de modelos Volkswagen? Por exemplo, a frota de comerciais é quase toda composta por modelos Caddy…

Foi uma marca que quis vir trabalhar connosco numa altura de expansão da nossa actividade. E passámos de 40 carros de outra marca para 150 VW Caddy no prazo de… nem um ano!

Na fase da negociação, demarcou-se face à concorrência e manteve essa postura nas fases seguintes.

Vamos no terceiro lote significativo, cerca de 120 unidades, e a relação estreitou-se ainda ais com a entrada do VWFS em Portugal. Naturalmente, também estamos satisfeitos com o produto.

E no caso dos passageiros? Há direito de opção por parte dos utilizadores?

A atribuição é feita por segmento e não existe muita liberdade de escolha. Por norma, queremos manter um parque mais ou menos uniformizado, trabalhamos com base nas  condições de mercado e não podemos correr o risco de ter uma viatura diferente e o utilizador sair da empresa…

Mesmo dentro da nossa taxa de rotação das viaturas, se houver um decréscimo de alguma viatura ou o término de um contrato, canalizamos uma viatura igual ou dentro do mesmo segmento para esse colaborador.

Procuramos sempre ter lotes uniformes no final dos contratos para melhorar as negociações. Porque a seguir aos colaboradores, a frota é a segunda maior fatia do bolo.

E em relação às terminações? Como geram os recondicionamentos?

Tratamos do recondicionamento de toda a frota. Em comparação com aquele que nos é imputado pelas gestoras, o nosso custo se calhar é um terço. Porque temos volume, conseguimos bons preços junto dos nossos fornecedores.

Para Pedro Duarte, o actual desafio é lidar com o risco que as alterações do WLTP e a sempre latente questão da fiscalidade provocam nas contas de uma frota que está toda em AOV

Sinistralidade e Política de Frota

A política de frota da Wondercom contempla diretrizes precisas no que se refere ao âmbito de utilização da viatura, com sanções anunciadas para ultrapassagem de consumos e no âmbito da sinistralidade.

“Temos algumas directrizes internas definidas, com grande enfoque na sinistralidade que é uma das nossas maiores preocupações”, diz Pedro Duarte.

“O regulamento interno detalha a responsabilização dos utilizadores sobre os procedimentos a deter e sensibilizamos os utilizadores para os aspectos da utilização, bem como para os da segurança”.

Mas a especificidade do tipo de actividade em que a rapidez do serviço é fundamental e a rotatividade dos utilizadores em função do trabalho a desenvolver pode baralhar as intenções.

“A parte mais significativa da frota são carros que circulam seis dias por semana, oito a dez  horas por dia. O risco está sempre inerente e, mesmo com um controlo apertado e uso e telemetria para medir os padrões de condução, num pico de actividade… Contudo é fundamental mantermos algum controlo. Mas também criar condições para os condutores, eles mesmos, se auto-controlarem, como temos de aprimorar o planeamento de rotas e de serviços para impedir situações de ansiedade no cumprimento de prazos”.

Um dos projectos que Pedro Duarte tem em mãos é então conjugar a componente já instalada de geo-localização com a ferramenta interna de distribuição de tarefas.

“Ao integrar os dois sistemas, vamos conseguir fazer melhor gestão dos serviços e aprimorar a distribuição dos trabalhos. O sistema indica onde o colaborador está e as competências que tem e consegue fazer a alocação mais rápida e precisa do serviço. Isso vai permitir-nos maximizar a nossa actividade e aumentar a rentabilidade da nossa operação ao reduzir custos.”

A sinistralidade é uma ameaça latente para uma empresa onde o automóvel é uma ferramenta fulcral do trabalho desenvolvido, que exige rapidez do serviço prestado e a circulação intensiva das viaturas técnicas

B.I. da frota Wondercom

  • Número de viaturas: 251 viaturas, 179 dos quais são comerciais ligeiros destinados às equipas técnicas. Os restantes 72 ligeiros de passageiros estão alocados a diversos departamentos internos, como o comercial, operacional e gestão
  • Marcas e modelo predominantes: VW Caddy no caso dos comerciais (174 unidades).  passageiros ou versões comerciais, ainda VW Golf Variant e Polo, Opel Astra e Corsa, Hyundai i20…
  • Idade média da frota: 24 meses no caso dos comerciais, 18 meses para os veículos de passageiros
  • Modelo de gestão: centralizado. Frota totalmente em AOV
  • Gestoras: VWFS com o maior número de contratos, Finlog e Leaseplan
  • Equipamento específico: sem qualquer exigência particular
  • Sistemas de georreferenciação e/ou de controlo/gestão da frota instalados: viaturas comerciais equipadas com sistema de geolocalização com ligação a ‘can bus’. Serve para  controlo e monitorização da actividade, detenção de métricas analíticas para posterior sensibilização dos condutores e como meio de prevenção ou mitigação de excessos dos utilizadores
  • Frota decorada na totalidade dos comerciais por razões de reconhecimento a nível nacional. Com a designação da Wondercom ou de algum operador de comunicações para o qual desenvolva trabalhos e que tenha esse requisito.