A palavra de ordem é reduzir custos. Diretos e indiretos. Mas como? Este é um balanço do que está a ser feito e do que ainda é possível fazer
Muita coisa mudou na política automóvel da maioria das empresas em resultado de um período económico bastante conturbado que ainda faz sentir os seus efeitos: a gestão da componente automóvel tornou-se mais exigente e racional, reviram-se prazos de contratos e escalões de atribuição dos veículos em prol de uma maior eficiência energética ou por causa da Tributação Autónoma e acrescentou-se responsabilidade aos utilizadores, com o crescente recurso de tecnologia capaz de assegurar uma maior e mais rápida interação entre o condutor da viatura, o próprio veículo e o responsável da frota da empresa.
Eis algumas soluções e exemplos práticos do que foi feito para minorar o peso do parque automóvel nas contas da organização e ainda como é possível melhorar a eficácia dos custos de utilização, intervindo mais rapidamente sobre desvios de comportamento.
Formação: fator humano vs telemática
A FLEET MAGAZINE entrevistou José Manuel Costa, gestor de frota da Telcabo, responsável por quase quatro centenas de viaturas que percorrem mensalmente mais de um milhão de quilómetros de norte a sul de Portugal.
“A palavra-chave é formação, sensibilização, gestão de competência de cada colaborador para a condução, de modo a torná-la mais eficiente”, detalhou José Costa, reforçando a importância do fator humano:
“Conseguimos negociar os carros, as rendas e até decidir por um modelo em função da sua eficiência. Tudo o resto depende de quem o conduz.”
Para conseguir uma poupança quase imediata dos custos de utilização de 10 a 15%, mas que em poucos meses já superaram os 25%, a solução encontrada assenta numa análise individual profunda ao modo de condução de cada utilizador.
Desta forma, pode fazer incidir, com maior precisão, os parâmetros de formação dos cursos de condução eficiente ministrados pela “Top Driving Solutions”.
Mas para uma observação mais precisa dos comportamentos individuais e para o posterior acompanhamento dos resultados, José Manuel Costa conta também com o auxílio de uma aplicação telemática que faz a recolha e tratamento, de forma célere, de todos os dados de utilização da viatura.
Esta atuação veio permitir-lhe intervir atempadamente sobre os desvios a parâmetros pré-estabelecidos. Um procedimento que é cada vez mais raro, já que a própria aplicação engloba um interface físico, instalado na viatura, que alerta o condutor para o bom (ou mau) desempenho da sua condução através de simples indicadores luminosos.
Este exemplo prático demonstra a importância que a telemática e soluções integradas de gestão de frota assumiram, tornando-se auxiliares precisos não apenas para um controlo efetivo da utilização da viatura como até para uma rentabilização da mesma; nomeadamente alocação de serviços e aplicação de sistemas de carpooling interno.
Fiscalidade I: Tributação Autónoma
Estudos apresentados por diversas gestoras e consultoras ao longo dos dois últimos anos mostraram que as alterações em sede de IRC, a mais grave das quais ao nível da tributação autónoma, forçaram muitas organizações a reformular os critérios de seleção e de atribuição dos modelos, levando também os representantes das marcas em Portugal, desde as mais generalistas às consideradas “premium”, a uma ginástica adicional de forma a colocarem determinadas ofertas abaixo dos 25 mil ou dos 35 mil euros.
“Fomos obrigados a redefinir a política automóvel do grupo, tendo em consideração os escalões de tributação autónoma previstos na lei: nível das viaturas, segmentos, marcas, modelos, equipamentos de série e critérios para incorporação de extras para que o PVP não excedesse o teto do escalão do imposto e evitando uma penalização fiscal desnecessária”, refere Luís Sousa, responsável de frota da GeStmin.
Esta acabou por ser uma das maiores preocupações manifestada por muitos gestores à FLEET MAGAZINE e que forçou a necessidade de um downsizing de categorias e motores na frota de muitas organizações.
Para reduzir o peso orçamental da componente automóvel, ao isentar as empresas da tributação autónoma sobre as despesas das mesmas, Renato Carreira, consultora Deloitte, abordou uma solução na 3.ª Conferência gestão de Frota da FLEET MAGAZINE: transferir a propriedade da viatura para a esfera pessoal do colaborador.
“A tributação do uso pessoal de viaturas aos colaboradores pode revelar-se globalmente mais vantajosa para as empresas, uma vez que os esses encargos passam integralmente a estar excluídos de tributação autónoma”, explicou o economista.
Contudo, os riscos que esta solução acarreta face à necessidade de um acordo mútuo entre o colaborador e a empresa, bem como a instabilidade fiscal sentida em Portugal parecem gerar alguma desconfiança. Talvez por isso, foram poucos os responsáveis de frota ouvidos que admitiram sentirem-se seguros com este recurso, embora alguns o admitissem nos níveis superiores da hierarquia, onde as despesas da viatura estão sujeitas ao escalão mais elevado da tributação.
Fiscalidade II: mais soluções
Com o a perda dos benefícios inerentes à utilização de viaturas N1, outro recurso capaz de assegurar os mesmos valores de tributação autónoma explica a crescente dinâmica da oferta empresarial de algumas “rent-a-car”: alugueres de prazo igual ou inferior a três meses, tributados autonomamente à taxa mínima de 10%, com a possibilidade ainda de dedução do IVA do serviço contratualizado.
“Muitas empresas, para se manterem competitivas, têm de ter uma estrutura de custos flexível”, justifica João de Sousa Braz, sócio gerente da Cael, uma das primeiras empresas do setor a apostar no segmento profissional.
Com uma frota direcionada para as mais diversas necessidades do mercado empresarial, este gestor admite que a Cael está a beneficiar com a crescente procura de viaturas de gama média-alta.
Pelo mesmo diapasão alinha Fernando Fagulha, diretor de vendas e marketing da Europcar: “Criámos o ‘Fit Rent’ para suprir as necessidades de mobilidade das empresas, sem as obrigar a assumir compromissos de custo com frotas por prazos alargados”
Juntamente com o serviço Fit Rent, a principal operadora do mercado português garante ainda outra solução voltada para as empresas: a Frota Prestige, com os modelos mais recentes de marcas prestigiadas como a Mercedes-Benz, a BMW ou a Audi.
Com menor escala de interesse por parte da maioria das empresas ouvidas pela FLEET MAGAZINE ao longo do ano, em 2015, a chamada reforma da fiscalidade verde veio também introduzir algumas vantagens fiscais inovadoras, nomeadamente incentivos à compra de viaturas elétricas, híbridas plug-in ou a GPL e ainda à promoção da utilização de sistemas de car-sharing.