GlobalFleetConference

Na Global Fleet Conference, que decorreu no início de Junho, em Bruxelas, ficou-se a saber que a utilização de automóveis nas empresas está de boa saúde, mas as pressões ecológicas, fiscais e de mobilidade podem obrigar a repensar todo este modelo.

Os gestores das maiores frotas do mundo estiveram no Global Fleet Conference e trouxeram de lá perspetivas animadoras, mas também um conjunto de desafios. E espante-se quem quiser, mas as preocupações de quem gere milhares de viaturas pelo mundo inteiro são as mesmas de que tem apenas algumas dezenas delas por cá.

Se mais dúvidas houvesse, bastava olhar para o programa do evento, que decorreu em Bruxelas, de 6 a 8 de Junho, para ver como podia ser a lista de afazeres de qualquer gestor de frota nacional quando planeia a sua estratégia a longo prazo.

Impostos, tendência económicas, questões ambientais e tecnologia foram os principais temas debatidos. Na plateia, estavam mais de 300 pessoas, que representavam no seu conjunto cerca de meio milhão de viaturas em parque.

É sempre importante discutir a economia e, na intervenção de Ivan Van de Cloot, economista-chefe da Itinera, o enfoque foi no mercado automóvel, mas também na evolução do preço dos combustíveis e da liquidez que existe e qual o impacto que isso pode ter nas taxas de juro.

A boa notícia é que a economia mundial está a melhorar, embora a velocidades diferentes. Os EUA estão na liderança e a Europa com um crescimento mais lento. Há vários fatores que o podem explicar, entre os quais uma economia mais ágil, mas o facto de os EUA estarem muito menos dependentes do exterior para as suas necessidades energéticas, e principalmente de combustível, pode ser uma delas.

O congestionamento de tráfego

Mas, no geral, o preço do petróleo não irá alterar muito a curto prazo, disse Van de Cloot. O maior desafio para as pessoas da sala, explicou, é a taxação relacionada com o congestionamento de tráfego nas localidades. É uma tendência mundial e continuará a sê-lo, à semelhança do que acontece já em muitas cidades europeias.

“Esse é que vai ser um grande desafio para as pessoas que estão aqui sentadas”, disse. “Para mim, vocês vão ser muito mais gestores de mobilidade no futuro do que fornecedores de carros para os vossos clientes, sejam eles as empresas ou mesmo os condutores”.

A questão do congestionamento foi recorrente ao longo do evento. O facto de se ter falado muito de viaturas elétricas (esquecendo deliberadamente outras opções, como o GPL – “pouco competitivas” – ou as pilhas de hidrogénio – que dependem também de baterias elétricas) e de condução autónoma não foi coincidência.

Embora o sentimento geral dos gestores mundiais fosse de alguma reticência, eles estão muito atentos e acham, de acordo com um inquérito feito pela organização do evento, que isso é uma realidade que já está a acontecer.

Impostos, sempre os impostos…

A nível de impostos, por exemplo, uma das tendências que Erwin Boumans, da BDO, veio mostrar é a “greenification”. Ele disse que cada vez mais os testes reais de emissões vão contar para pontuar os impostos, assim como as propulsões alternativas começam a ser importantes. Uma coisa com que as empresas podem contar vai ser uma passagem dos impostos relacionados com questões empresa-trabalhador para questões ambientais. E até pegou no exemplo português das portagens nas auto-estradas para se referir a ele como um “smart kilometer charging”. E claro, as áreas restritas de circulação.

Ou seja, os impostos relacionados com as viaturas de empresa, sejam eles diretos ou indiretos, vão ser cada vez maiores. Com a pressão dos governos para reduzir os incentivos ao mínimo, os benefícios para os carros das empresas vão tendencialmente acabar, disse, apontando o exemplo da fiscalidade inglesa. O que significa que a solução pode estar fora do carro.

Mobilidade

A mobilidade foi outro dos temas bastante discutidos na conferência. Romain Trebuil, que tem à sua responsabilidade cerca de 10 mil viaturas a nível mundial para a L’Oreal, conseguiu um custo de mobilidade para os colaboradores igual em três situações diferentes: utilizando apenas o carro; utilizando um crédito de transporte e mobilidade; e utilizando as duas situações anteriores. Qual foi o preferido quando as pessoas puderam escolher? O crédito de transporte e mobilidade, sobre o qual Romain ainda aproveitou para dizer que reduz “brutalmente” as emissões de CO2.

No entanto, são ainda os carros a principal força de mobilidade para os colaboradores das empresas. As vendas de viaturas a empresas no primeiro quadrimestre bateram as vendas conhecidas desde 2004 em França, Alemanha e Reino Unido. Na Itália, Março e Abril foram os melhores meses desde essa altura. Em Espanha, Março também bateu recordes. E o que há de especial nas frotas, perguntou Marc Odinious, diretor-geral da Dataforce?

Em primeiro lugar, são as frotas que provam que a mobilidade é possível sem se ter a propriedade do veículo. É o mercado que lidera as energias alternativas. Tem sido, desde sempre, um segmento de teste para as evoluções tecnológicas e de segurança. Renova o parque automóvel, porque o seu próprio ciclo de renovação é curto. E sempre esteve com a regulamentação referente aos carros mais apertada que os privados, como no transporte de carga, por exemplo. E, no final, até contribuem para uma utilização mais racional do automóvel – a “nobility” – já que o carro que é atribuído aos colaboradores é normalmente de um segmento inferior ao que eles teriam se o comprassem diretamente.

A Global Fleet Conference mostrou para que caminho vai a gestão de frotas e esse caminho é fácil de ser reconhecido por qualquer profissional da área. Mas houve ainda outra nota, que também não deve ser estranha: cada vez mais os processos de gestão e compra das viaturas são mundiais.