Vivem-se tempos desafiantes na indústria. Fatores como a escassez de matérias-primas, a  deslocalização de recursos, a disrupção das rotas de transporte, agravados pela crise pandémica e pelo conflito da Ucrânia, a transição energética e o cumprimento de metas de eletrificação estão a deixar o sector “entre a espada e a parede”.

Estes dois últimos pontos estão a ser alvo especial de discussão e avaliação por parte das empresas com frotas automóveis e que têm nos seus planos renová-las.

Neste sentido, procuram soluções para enfrentarem tanto os desafios atuais como os que se preveem mais adiante.

Em relação às soluções tecnológicas de futuro, fala-se na viabilidade do carro elétrico, do veículo movido a hidrogénio e de outras formas “verdes” de combustível.

Partilho a opinião de Carlos Tavares, CEO da Stellantis, que refere que a solução elétrica é essencialmente política, não necessariamente a melhor, principalmente no que diz respeito ao meio ambiente.

Uma das principais soluções para as empresas passa por definir planos de contingência que tenham em vista respostas “just in time”, ao invés de “just in case”, antevendo cenários e procurando soluções antes de elas serem necessárias

Também a CLEPA – European Association of Automotive Suppliers – concluiu algo que nos dá que pensar: “o nosso inimigo não é o motor de combustão interna, o nosso inimigo é o CO2”.

O tema tem, necessariamente, prós e contras. As restrições ainda são muitas, tanto relacionadas com a autonomia como com infraestrutura.

Em relação à autonomia, ainda não há muito tempo, um modelo de uma das mais badaladas marcas associadas à mobilidade elétrica, que apresentava no catálogo uma autonomia de 400 ou 500 km, ao planear uma viagem Lisboa–Porto incluía desde logo duas paragens para carregamento.

Outra situação ainda a avaliar, associada à questão da infraestrutura, tem que ver com todos os aspetos relacionados com a segurança da informação.

Ao considerarmos uma rede integrada de abastecimento elétrico, temos de pensar que esta não inclui apenas o recarregamento do veículo, mas também a recolha e partilha de dados.

Dados relativos ao posicionamento ou à autonomia, seja a nível da reserva da privacidade das informações, seja da resiliência com que estes deverão estar protegidos.

Ainda há, por isso, muito por definir e legislar.

Por maioria de razão, enquanto alguém ligado à indústria, creio poder indicar dois pontos de reflexão que poderão ajudar as empresas a superarem os impactos mais diretos da crise atual na transição energética.

O primeiro, relacionado com a necessida- de de investir em tecnologias ainda em estado de evolução.

É fundamental apostar-se em modelos híbridos ou elétricos, numa fase em que aspetos ambientais ainda estão por avaliar na totalidade e em que, rapidamente, outras alternativas podem surgir, tornando as anteriores ultrapassadas.

O segundo prende-se com a indefinição ou alterações legislativas, sendo que ainda há relativamente pouco tempo houve uma alteração de benefícios associados a veículos híbridos, tendo em conta as respetivas autonomias e valores de emissão de gases para a atmosfera.

Posto isto, perante um cenário de instabilidade na indústria automóvel, há ainda muito por refletir, considerar e antecipar.

Julgo que uma das principais soluções para as empresas passa por definir planos de contingência que tenham em vista respostas “just in time”, ao invés de “just in case”, antevendo cenários e procurando soluções antes de elas serem necessárias.

(*) A OPCO é uma consultora portuguesa especializada na prestação de serviços de consultoria, formação e auditoria interna aos sectores automóvel, aeronáutico e outro tipo de indústrias. É responsável pela organização do Automotive Summit, evento anual que reúne especialistas para discutir a indústria automóvel.