Os números dos principais mercados da União Europeia indicam uma estagnação e, em alguns casos, um retrocesso na venda de veículos elétricos movidos exclusivamente a bateria (BEV). Se isto já é uma preocupação para os construtores, deveria servir também como sinal de alerta para os decisores políticos, lembra a ACEA, em notícia na sua página.
Se por um lado a Indústria automóvel investiu milhares de milhões para colocar BEV no mercado, as outras variáveis necessárias para fazer cumprir a transição energética no velho continente escasseiam, destaca este organismo. Consequentemente, o desafio da transição energética é olhado com expectativa e preocupação, nomeadamente no que respeita às exigências do cumprimento da redução de emissões de CO2 para veículos ligeiros já no próximo ano, em 2025.
A escassez de infraestruturas de carregamento e de recarga de hidrogénio, a não-existência de um ambiente de produção competitivo, de energia verde a preços competitivos e de incentivos fiscais à compra são apontadas pela Associação Europeia dos Construtores Automóveis como condições cruciais para a adoção de uma mobilidade mais limpa. No entanto, tais condições não estão a ser atendidas.
Num relatório sobre a Competitividade da Europa apresentado por Mario Draghi à Comissão Europeia, o ex-presidente do BCE e ex-primeiro-ministro de Itália diz que “o sector automóvel é um exemplo fundamental da falta de planeamento da União Europeia, ao aplicar uma política climática sem uma política industrial”.
Comparando a competitividade da UE com outras grandes economias como os Estados Unidos e a China, Mario Draghi deixa um sério aviso aos decisores: “Chegámos a um ponto em que, sem ação, teremos de comprometer o nosso bem-estar, o nosso ambiente ou a nossa liberdade”.
Por conseguinte, a transição energética em curso não pode ser feita apenas pela Indústria e muito menos sem políticas consistentes e concertadas, de modo a manter a competitividade do sector automóvel e, dessa forma, facilitar a adoção de BEV na União Europeia.
Em claro contraste com a vontade europeia de descarbonizar o sector dos transportes, a ACEA publicou, no primeiro trimestre deste ano, um relatório (Veículos nas Estradas Europeias) que dava conta do envelhecimento de toda a frota rolante.
Dos cerca de 290 milhões de veículos nas estradas da UE, a idade média de todos os tipos de veículos subiu para 12,3 anos e, em alguns países, pode chegar aos 17 anos. Os veículos comerciais, ligeiros e pesados, e de transporte de passageiros são os que apresentam a média de idade mais elevada.
Perante estes dados, a ACEA reforça a importância de acelerar a adoção de modelos elétricos a bateria e de outros modelos de emissão zero na Europa.
Mas o mesmo relatório destaca que, embora as metas legislativas possam ajudar a orientar a mudança, isso é apenas parte do quebra-cabeças para a descarbonização do transporte rodoviário.
Por outro lado, apesar de os automóveis elétricos a bateria terem sido a terceira escolha dos compradores de carros novos em 2023, com uma participação de mercado de quase 15% (+37% em relação a 2022), esta mecânica representa ainda apenas 1,2% dos veículos nas estradas da UE.
Analisando indicadores mais atuais, apesar de serem precisos mais automóveis a rolar sem emissões nas estradas europeias, nos primeiros sete meses de 2024 o crescimento das vendas de carros novos ficou abaixo das expectativas e foi de apenas de 3,9%. Com os números dos veículos BEV e PHEV a caírem 0,4% e 4,1%, respetivamente.
Conjugando todos estes fatores – idade avançada do parque automóvel, fraco crescimento do mercado europeu, quebra de entusiasmo na compra de carros elétricos e as dificuldades apontadas para a massificação desta tecnologia –, isto poderá significar que os consumidores europeus estão resistentes à mudança ou simplesmente o aumento de preço dos veículos novos e dos custos da sua utilização estará a contribuir também para inviabilizar a renovação do parque automóvel europeu?