Se a Inteligência Artificial (IA) está a mudar o mundo, isso inclui certamente a gestão de frotas. Mas como? À data, muito do que sabemos sobre IA é vago e superficial, faltando aos decisores tanto a visão geral como os pormenores mais relevantes. É por isso que nos vamos concentrar em ambos

Para uma visão geral, Neil Cawse, fundador e diretor Executivo da Geotab, explicou em entrevista a Steven Schoefs, diretor de Relações Estratégicas da Nexus Communication, à margem dos Fleet Europe Days, em Milão, em outubro passado, o potencial (tanto positivo como negativo) da IA.

Questionado sobre recentes declarações um tanto ou quanto provocadoras de Sam Altman, antigo diretor executivo da Open AI, que dizia que a IA iria provavelmente “conduzir ao fim do mundo”, Cawse não discordou fundamentalmente e identificou três possíveis horizontes (com risco associado):

  1. Curto prazo: saber a quem pertencem os dados. “São dados gerados pelos utilizadores – os nossos dados”;
  2. Médio prazo: o perigo dos maus atores. “São necessários 500 milhões de dólares para treinar um modelo linguístico de grande dimensão, e esse dinheiro só está ao alcance dos monopólios tecnológicos”;
  3. Longo prazo: há um risco existencial. Porquê “existencial”? Porque não conseguimos ver um limite superior para o grau de inteligência da IA e não podemos controlar algo que é mais inteligente do que nós.

Cabe principalmente aos reguladores lidarem com a ameaça existencial e a logo prazo da IA. Entretanto, um perigo possivelmente maior, e certamente mais imediato, é não adotar a IA neste momento, enquanto todos os outros o fazem: “a IA não é uma fantasia. Está a mudar as coisas enquanto falamos”, acrescentou Cawse.

O diretor Executivo da Geotab refere ainda o aparecimento dos serviços de robotáxi: “foi previsto há muito tempo e demorou muito a chegar, mas já chegou e terá um enorme impacto na indústria”. A condução autónoma alimentada por IA transformará quem utiliza o automóvel (a partilha torna-se mais fácil), o que fazemos no automóvel (trabalhar em vez de conduzir) e onde o estacionamos (um automóvel autónomo pode conduzir-se a si próprio para casa, eliminando a necessidade de parques de estacionamento de grandes dimensões nos aeroportos, por exemplo).

Como a Inteligência Artificial pode contribuir para a gestão de frota

O exemplo da 5.ª Avenida

Neil Cawse é peremptório na exortação a todas as empresas: devem começar a utilizar a IA.

Para ilustrar este repto, Cawse utiliza a história das duas fotografias da 5.ª Avenida, em Nova Iorque, tiradas com 13 anos de diferença, no início do século XX.

Todos os veículos da fotografia de 1900, exceto um, eram puxados por cavalos, existindo apenas um automóvel. Já em 1913, a situação era exatamente a oposta: uma carruagem puxada por cavalos e dezenas de automóveis. O paradigma da mobilidade tinha mudado completamente em pouco mais de uma década.

O mesmo acontecerá, e já está a acontecer, com a IA na gestão de frotas.

Eis alguns exemplos:

Ciclos de vida dinâmicos dos veículos

Com as empresas a exigirem níveis de fiabilidade cada vez maiores aos seus fornecedores de veículos, as fórmulas de aluguer estão a diversificar-se para além do tradicional aluguer operacional de três anos, passando a incluir maiores níveis de flexibilidade, com alugueres sazonais e alugueres de veículos usados: uma autêntica “frota a pedido”.

“Mas esta abordagem de ciclo de vida múltiplo é apenas um passo intermédio para um ciclo de vida dinâmico”, diz Philippe Huysmans, diretor de Crescimento da Ridecell.

Um ciclo de vida dinâmico significa que os veículos serão constantemente monitorizados em termos de utilização, manutenção preventiva e valor de mercado previsto, o que ajudará a determinar o momento certo para desativar veículos individuais a fim de maximizar o seu valor de revenda. A IA é, por isso, a ferramenta ideal para analisar as grandes quantidades de dados envolvidos e tomar a decisão correta.

Comportamento dos condutores

Corrado Sciolla, diretor Executivo da Octo Telematics, destaca o sucesso da sua empresa na implementação da telemática para fins de seguros. A telemática apoiada por Inteligência Artificial, utilizada para analisar os comportamentos dos condutores, os acidentes e os danos causados pelos acidentes e até mesmo as emissões de CO2, ajudou a reduzir o custo dos seguros em 40% e os acidentes de viação em 18%.

Transição para veículos elétricos (VE)

Mathieu Chènebit, CEO e fundador da Echoes, destaca a utilização da IA para oferecer aos clientes dados harmonizados e acionáveis: “não é o futuro, é o que fazemos hoje”.

Trata-se de um serviço com muitos casos de utilização, desde a transição para os VE e a monitorização do TCO até à luta contra a fraude e as emissões de carbono.

Gestão eficiente da frota

Michele Cipullo, Targa Telematics, Go To Market Manager da Targa Telematics, explica a principal tarefa de empresas como a sua na integração de uma gestão de frotas de veículos comerciais ligeiros mais eficiente e económica, utilizando também a Inteligência Artificial: “ajuda a retirar as complexidades técnicas da discussão. Os nossos clientes não são técnicos”.

*Com Fleet Europe