Com uma frota de cerca de 1.650 viaturas distribuídas entre as várias empresas do grupo José de Mello (da Brisa à rede de hospitais e clínicas CUF, da ATM aos vinhos Monte da Ravasqueira), a negociação das viaturas e de todos os serviços a elas associados são da competência da MDados, a central de negociação de bens e serviços nas áreas transversais de suporte ao negócio de todas as empresas do grupo, das viaturas aos seguros, dos combustíveis aos sistemas de informação, das utilities às comunicações, vigilância, viagens, etc..

Ao longo da entrevista com Pedro Heleno Ribeiro, director-geral da MDados (ver perfil no final da página), ficou a perceber-se o trabalho apurado de selecção e negociação que antecede a decisão de compra de viaturas, bem como as preocupações actuais e futuras que derivam das novas exigências ambientais e das sempre imprevisíveis questões relacionadas com a fiscalidade automóvel.

Mas para compreender o modelo de actuação da M Dados é necessário conhecer em que contexto a empresa está integrada, aqui explicado por Pedro Ribeiro:

“O Grupo José de Mello tem um posicionamento que assenta em três plataformas de negócio que desenvolvem a sua actividade na área de gestão e operação de autoestradas e mobilidade, através da Brisa (que integra também a Via Verde, Controlauto, etc.), na área da Saúde, através da José de Mello Saúde, que gere a rede de hospitais e clínicas CUF e na área da Indústria Química, através da Bondalti, com fábricas em Portugal e Espanha. Estas três plataformas são referência no respectivo sector em que actuam”.

“Há ainda três empresas, de menor dimensão, a ATM, que se dedica à manutenção de instalações industriais, hospitais e escritórios, a José de Mello Residências e Serviços, que opera residências e serviços para seniores e o Monte da Ravasqueira, produtor de vinhos localizado no Alentejo”, adianta Pedro Ribeiro.

Neste contexto, onde se enquadra a MDados, que utilidade tem e como actua?

Estamos inseridos no contexto de um Grupo com mais de doze mil colaboradores, com empresas com necessidades diversas, em que a nossa função passa por procurar consensos e objectivos comuns que permitam optimizar os resultados da intervenção no mercado para o Grupo e para cada uma das empresas em particular.

A intervenção da MDados permite criar valor para o Grupo José de Mello, desde logo através das economias de escala que decorrem de uma abordagem conjunta ao mercado, mas também e de forma decisiva pela partilha de know-how e melhores práticas que promove entre as suas empresas.

Como conseguem fazê-lo?

O objectivo é procurar a optimização dos resultados negociais através da conciliação das melhores condições financeiras, com a garantia de níveis de serviço alinhados com os padrões dos seus clientes, sem por em causa a sustentabilidade da operação.

Por isso, temos uma preocupação constante em promover parcerias sustentadas e de longo prazo com os fornecedores, numa lógica ‘win-win’ e, adicionalmente, desafiamos as empresas do Grupo a revisitar as estratégias prosseguidas, analisar o seu posicionamento no mercado, antecipar tendências… e a MDados contribui através da criação de análises de suporte (de actividade, sectoriais, de benchmark…) para essa reflexão.

“A M Dados promove a partilha de know-how especializado e a colaboração entre as várias empresas do Grupo de forma a antecipar tendências, promover as melhores práticas e acompanhar as dinâmicas de transformação do mercado”

 

Como decorre a negociação da frota

No que se refere aos veículos, como decorre habitualmente a negociação e qual o envolvimento das empresas interessadas?

O caso das viaturas é paradigmático da forma como a cooperação entre as várias empresas acrescenta valor ao processo negocial.

O processo é acompanhado num grupo de trabalho multidisciplinar que tira partido da capacidade analítica da MDados, mas também do know how dos gestores de frota, desde logo da Brisa, o que traz, naturalmente, valor acrescentado ao processo.

Mas o mesmo acontece das restantes empresas do Grupo, com experiência variada, exemplos disso decorrem nas áreas dos seguros, da gestão…

São definidos os objectivos negociais em função da análise das tendências de mercado, das necessidades de cada empresa e do alinhamento com as respectivas políticas de frota. Embora neste fórum sejam discutidas as melhores práticas e os diferentes posicionamentos, as políticas de frota são definidas por cada empresa em função da especificidade das suas actividades e das respectivas políticas de recursos humanos.

A abordagem ao mercado é feita em duas fases consecutivas de consulta de condições comerciais às marcas/ concessionários automóveis e às locadoras, que decorre durante o 1.º trimestre.

Quanto representa a negociação da frota, isoladamente?

A negociação da frota e de categorias associadas, como combustíveis e seguros, representa cerca de 10% do perímetro de negociação da MDados.

Após as primeiras fases que referiu, quais as etapas seguintes?

Depois do levantamento das necessidades e da definição dos objectivos negociais, reunimos com as marcas automóveis e concessionários para perceber as principais tendências, prazos de entrega, e ter visibilidade sobre o ‘pipeline’ de novos lançamentos e descontinuação de modelos.

Adicionalmente solicitamos as condições comerciais para o Grupo José de Mello e propostas para viaturas nos vários segmentos.

Embora mais de 90% da frota seja a diesel, nos últimos anos temos procurado obter condições competitivas para viaturas eléctricas e PHEV.

Este ano pedimos também propostas para viaturas a gasolina, na expectativa de que os impactos do WLTP, a evolução da eficiência destes motores e a redução do diferencial de preço face ao gasóleo tornassem estas viaturas mais competitivas.

De facto, estes pressupostos são válidos, mas o que verificamos é que a oferta comercial ainda está muito assente no diesel, sobretudo nas áreas de frotas.

Este processo leva sempre pelo menos dois meses, uma vez que as marcas e os concessionários no início do ano ainda estão a fixar os objectivos comerciais para o ano em vigor. Este ano recebemos facturas pró-forma de mais de 300 viaturas.

Recebidas as propostas, como decorre a selecção?

Temos algumas interacções para optimizar as propostas recebidas e fazer uma triagem, para cerca de 80 viaturas.

Posto isto, procedemos a uma primeira consulta indicativa para cotação das rendas e analisamos o peso do valor do contrato de renting no valor total da viatura, de modo a obter uma referência da competitividade das propostas comparativamente com anos anteriores e com outras viaturas da mesma tipologia (com o mesmo perfil de manutenção e desvalorização ao longo do contrato).

Com toda a informação recolhida fazemos uma análise TCO a cada viatura, considerando os custos com renting, combustível /electricidade, via verde, seguros, recondicionamento, tributação autónoma e, se for o caso, dedução em sede de IVA.

Deduzo que a parte fiscal não seja fácil de contabilizar…

Ganhou complexidade. Porque até há uns anos a referência em termos de custo estava relacionada com os limites de tributação autónoma dos veículos a combustão.

Mas o aumento da oferta de viaturas plug-in, a introdução da fiscalidade verde associada e os diferentes impactos nas rubricas de custos relacionados, por exemplo, a manutenção e os consumos, vieram obrigar a uma maior complexidade na análise comparativa entre os diferentes tipos de viaturas.

Este ano em particular, sentimos particular dificuldade em arrancar com este processo.

Porque com a entrada em vigor do WLTP e a incerteza quanto ao impacto no ISV e por conseguinte no valor final das viaturas e residual as marcas e as locadoras levaram algum tempo a estabilizar a oferta comercial.

Com toda esta informação, as empresas já podem definir as suas listas de viaturas finais de acordo com as suas políticas internas.

É então nesta fase que as empresas já podem comprar?

Findo este trabalho, sempre que as empresas pretendem contratar viaturas, enviam-nos as facturas Pró-Forma com as condições negociadas para que consultemos de novo o mercado, num processo já competitivo, envolvendo 5 ou 6 locadoras, o que dá garantias de eficiência e transparência no processo.

E sempre que possível tentamos concentrar idas ao mercado com maior volume, o que naturalmente é um desafio devido à dimensão da frota e perfil de necessidades das empresas.

VEJA AQUI A 2.ª PARTE DA ENTREVISTA: COMPOSIÇÃO DA FROTA E OS RISCOS DA ELECTRIFICAÇÃO

Perfil de Pedro Ribeiro, General Manager – MDados

Pedro Heleno Ribeiro entrou no departamento de planeamento estratégico da holding do Grupo José de Mello em 2013.

No início de 2017 foi convidado a liderar a equipa da MDados.

Formado em Economia passou pela Vodafone como analista financeiro e foi consultor sénior da Deloitte na área de Corporate Finance