Ao longo da entrevista que deu à Fleet Magazine, Pedro Ribeiro, director-geral da MDados, confessou-se várias vezes agnóstico quando negoceia.
Isso permite-lhe objectividade e distanciamento no processo de análise negocial e nos desafios ao mercado, sempre na perspectiva de ir ao encontro das necessidades dos clientes que são, afinal, as próprias empresas do Grupo em que a MDados se insere, e cujo papel é o de centralizar todas as compras das várias entidades, como se esclarece na 1.ª parte da entrevista.
Porém, compete-lhe também compreender e antecipar as tendências do mercado, não só para estar preparada para todas as imprevisibilidades que podem comprometer a operacionalidade ou rentabilidade das operações que derivam, neste caso, do uso das viaturas em parque, cuja composição e modelo de financiamento se encontra no final deste texto.
Nesta segunda parte da entrevista, Pedro Ribeiro refere essencialmente a ponderação e racionalidade necessárias à abordagem que deve ser feita à electrificação do parque automóvel, olhando para o potencial económico gerado pela Fiscalidade Verde, por exemplo, não descurando, porém, as exigências de operacionalidade colocadas por determinados tipos de utilização.
Referiu que o aumento da oferta de modelos electrificados e a fiscalidade verde acrescentaram complexidade ao processo de negociação. Já há viaturas com essa mecânica no Grupo José de Melo?
Neste momento as viaturas “plug-in” representam cerca de 4% do parque, pouco mais de 70 viaturas.
É um número pouco significativo se olharmos à dimensão da frota, mas que tem acompanhado as tendências de electrificação no sector, com um crescimento recente consistente, muito impulsionado pela Brisa.
De facto, parece uma percentagem bastante baixa…
A nossa abordagem à electrificação tem sido feita de forma racional e ponderada, à medida que a oferta se vai tornando mais consistente e adaptada às nossas necessidades.
Genericamente o processo de decisão assenta em 4 drivers: sustentabilidade ambiental, o perfil de utilização/ funcionalidade, o TCO e o risco fiscal.
No primeiro, a descarbonização da frota e a redução das emissões de CO2 são um desígnio do Grupo. Em particular da Brisa, com responsabilidades acrescidas dada a sua posição de referência no sector, e que há já vários anos tem sido pioneira na introdução de medidas com essa finalidade.
Depois, uma parte significativa da nossa frota percorre diariamente muitos quilómetros e em auto-estrada.
Embora as autonomias das baterias dos EVs e PHEVs e a capilaridade dos postos de carregamento tenham vindo a evoluir favoravelmente, ainda não permitem uma utilização regular para este tipo de perfil, o que nos leva à questão da funcionalidade e ao perfil da operação.
Claro que em deslocação num raio de acção reduzido, por exemplo entre áreas de serviços próximas, clínicas ou unidades hospitalares pertencentes a um mesmo cluster, por exemplo, as viaturas eléctricas já são uma opção viável e que temos vindo a adoptar.
Adicionalmente, no caso em particular dos eléctricos, embora a oferta tenha vindo a evoluir é ainda algo limitada em alguns segmentos com muita procura por parte dos utilizadores (SUVS, carrinhas…).
Por fim, a fiscalidade verde é quase sempre decisiva na análise de TCO, embora o impacto varie em função do escalão das viaturas.
Sobretudo acima dos 35 mil euros, o diferencial da tributação autónoma é muito significativo e se o valor estiver abaixo dos limites de dedução de IVA (nas empresas que o podem fazer) os impactos face às viaturas de combustão podem atingir os 20% no caso dos PHEV e 40% no caso dos elétricos.
Sendo que os PHEV comportam outro tipo de riscos, não é verdade?
No caso dos PHEV a poupança está muito dependente não só do perfil de consumo (entre combustão e eléctrico), mas também do modelo de carregamento das baterias, o que pode prejudicar a sua comparabilidade face a uma viatura de combustão.
Repare: o carregamento num PCR pode custar 0,40€/ kWh, uma vez que para além do valor da energia e da tarifa regulada é cobrada a taxa de activação e a taxa de operador.
Chegamos então à questão do risco Fiscal. O sector automóvel representa aproximadamente 20% da receita fiscal do estado e o aumento da penetração das viaturas eléctricas e PHEV poderá levar a um aumento da carga fiscal sobre estas viaturas que tipicamente será aplicado sobre o parque existente.
O que coloca um risco sobre a frota que não conseguimos controlar e prever.
Ainda assim, acredito que devido à exigência das metas de redução de CO2 e à ainda reduzida penetração deste tipo de viaturas a tendência, a muito curto prazo, não deverá passar por um movimento deste género.
BI da Frota:
- Número de viaturas: 1.650 viaturas cerca de 85% em renting.
- Marcas e modelo predominantes: BMW, Renault, Volkswagen, Toyota e Mini, a primeira e última das marcas cuja presença muito se deve à DriveNow (24% da frota total da Brisa)
- Modelo de compras/gestão: Negociação centralizada (com excepção de modelos muito específicos afectos à actividade de cada empresa), compras e gestão de frota descentralizadas.
- Locadoras: Todas, com predominância da Leaseplan e ALD.
- Perfil de contrato mais frequente: 48 meses / 100 mil Km
- Rotação anual do parque: +/- 400 viaturas
Como a MDados centraliza a negociação da frota do Grupo José de Mello (I)