A crise dos novos passou para os usados, mas mesmo assim muitas das empresas relacionadas com o sector automóvel e grandes frotistas não usam a exportação como um canal para escoar estes veículos.
“A Renault tem outros meios de escoamento de usados que não passam pela exportação”, disse a relações públicas da empresa. “A rede oficial da marca escoa 100% das nossas viaturas usadas”.
“A Mercedes-Benz Portugal não exporta viaturas para o estrangeiro, tendo apenas sido efetuada uma viatura nova a pedido do cliente pelo concessionário que fez a venda”, disse o homólogo no importador da marca alemã.
“De facto não usamos a exportação, dado que o volume de viaturas [próprias] é reduzido”, disse José Guilherme, gestor de frota nos CTT. “A maior parte [da frota] é em AOV”.
As duas gestoras que responderam ao inquérito desta revista disseram que não o fazem, mas colocam a resposta no condicional. “Até à data ainda não utilizámos o canal de exportação para a venda das nossas viaturas”, disse José d’Almeida, da Athlon. “Não exportamos veículos nesta fase”, disse a directora de marketing da ALD.
José d’Almeida adianta a explicação. “Isto advém principalmente do número reduzido de viaturas que temos para vender e também devido à especificidade dos casos em que realmente se consegue alcançar resultados positivos com a venda no estrangeiro”, diz.
Mas há quem o faça. A Avis e a Brisa disseram que exportam usados, embora tenham deixado claro que não é esse o canal preferencial. “Numa realidade extremamente complexa e dinâmica como é o cenário actual no mercado automóvel, torna-se necessário diversificar os canais de venda e explorar todas as alternativas disponíveis”, explica Bruno Matos, director operacional da rent-a-car, que aproveita o suporte logístico e a rede de contactos da Avis Alemanha.
A Brisa sabe que algumas das suas viaturas são vendidas para outros países através de leiloeiros, mas nem sabe ao certo quais são os destinatários, dado que não controla o processo diretamente. “Julgo que a Polónia é um dos países [que recebe os carros]”, disse Luís Prazeres, gestor de frota da empresa. Mas, mesmo assim, não é totalmente alheio ao processo. Face à descida dos valores residuais que se tem vindo a verificar, a empresa tenta aproveitar os períodos de maior procura para fazer sair as suas viaturas. E ouve o leiloeiro nesse processo.
A Avis refere o mercado alemão como o destino principal para estas viaturas. “Não deixa de ser algo curioso se tomarmos em conta que é o mercado onde os portugueses tradicionalmente compram usados”, disse.
A tipologia de veículos também é clara. Tal como referiu Miguel Vassalo numa entrevista concedida para a edição em papel da Fleet Magazine, além dos carros de aluguer (segmentos de pequena dimensão, a gasolina) são também os comerciais que recolhem as preferências dos compradores externos.
Numa altura em que as associações do sector apontam para quebras entre os 30 e os 40% nesta actividade, os outros operadores utilizam os canais tradicionais.
Mesmo a Avis, que refere a exportação como um dos meios, privilegia o buy-back, sistema em que a marca assume o usado ao fim do período em que é alugado pela rent-a-car. “O “buy-back” continua a ser, em função da política da empresa e também das excelentes relações que mantemos com a generalidade das marcas automóveis, o canal prioritário de venda de usados”, diz Bruno Matos.
Na Renault, como noutras marcas, é a rede que faz o escoamento dos usados. E o líder de mercado nos novos acredita que isso é suficiente para fazer frente à falta de procura. “O nosso mercado é um mercado maduro, ou seja, um mercado de substituição e não de instalação. Desta forma, só quem domina a área dos veículos usados, pode ter ambições nos veículos novos”.