O mercado de veículos ligeiros de passageiros novos cresceu 6,6% face ao ano anterior. Mas das 261.158 matrículas novas atribuídas a ligeiros de passageiros no ano passado, quase 40,2% foram carros “usados” importados, alguns dos quais com poucos ou nenhuns quilómetros e primeira matrícula com menos de um ano no país de origem.
Ligeiros de passageiros | 156.250 unidades | Crescimento homólogo de 6,6% |
Comerciais ligeiros | 23.541 unidades | Contração homóloga de 18,2% |
Ligeiros de passageiros usados importados | 104.908 unidades | Crescimento homólogo de 44,5% |
Vários fatores explicam esta forte subida do número de viaturas usadas importadas, nomeadamente unidades recém-produzidas: a escassez de carros novos para entrega, a falta de carros usados com poucos anos devido à não renovação das frotas das empresas, incluindo aquelas que operam no rent-a-car (que, para fazer face ao aumento da procura derivado ao crescimento do turismo e à falta de unidades novas mantiveram as que tinham em parque), a liquidez monetária de muitos particulares depois do período da pandemia e ainda uma outra razão que baralhou os representantes oficiais das marcas: a entrada em Portugal de viaturas praticamente novas, com poucos meses, comercializadas por valores idênticos, quando não mais elevados, que os praticados pelas concessões oficiais.
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Embora a maioria destes automóveis “usados novos” tenham sido modelos 100% elétricos, que beneficiaram não apenas da isenção do ISV à chegada a Portugal, como de subsídios de vários milhares de euros para a aquisição de carros elétricos nos mercados de origem, a verdade é que também ainda podem ser encontrados à venda alguns modelos com motor a gasóleo e a gasolina, com disponibilidade imediata ou entrega prometida para poucas semanas.
Uma explicação para isto acontecer deriva da alteração do relacionamento dos construtores com o mercado automóvel, passando a privilegiar as margens de lucro ao volume das vendas. Para consegui-lo, estão não apenas a privilegiar a produção de modelos que garantem valores de rentabilidade mais elevada (aproveitando a escassez de alguns componentes para direcionar os fornecimentos destes componentes para determinados modelos ou níveis de equipamento), como a estabelecer quotas mais apertadas para determinados mercados, entre os quais Portugal. E porquê Portugal? Porque a forte carga fiscal que incide sobre o automóvel e o peso das vendas a empresas é bastante elevado, o que originou um historial de negócio em que o preço-base de cada automóvel, esmagado ainda pelas margens de desconto que eram praticadas, gerava margens de lucro bastante reduzidas. Eventualmente, afirma-se, compensado pelo pós-venda.
Foi precisamente a falta de carros novos disponíveis em períodos de tempo razoáveis, que estimulou uma procura em Portugal que os representantes nacionais foram incapazes de responder, contingentados que ainda estão ao planeamento central das marcas. Uma oportunidade aproveitada por alguns estabelecimentos de venda automóvel para, eventualmente com o contributo de concessionários europeus oficiais, "desviarem" para Portugal unidades atribuídas a outro mercado. Um processo que chega a passar pela criação de empresas, não apenas para adquirir estas viaturas com condições mais vantajosas, como para justificar a obtenção de benefícios fiscais, quando tal foi possível, nos seus mercados de origem.