Com um peso significativo no mercado automóvel nacional, o setor empresarial e profissional – com as suas frotas e serviços associados – tende a acompanhar a transição para uma sociedade cada vez mais ecológica e preocupada com a problemática das alterações climáticas, procurando reduzir a sua pegada ambiental.
Por seu turno, partilhando exatamente das mesmas preocupações, também os construtores automóveis apostam em veículos e soluções orientadas para uma utilização sustentada, com a eletrificação a surgir como grande estratégia.
Uma confluência de vontades que faz com que seja cada vez mais natural que os fabricantes automóveis alarguem a sua matriz de oferta e de serviços a uma nova época de mobilidade, em que ao preço de aquisição e aos custos de operação e propriedade (TCO) se junta também o impacto ecológico, algo que pode ser ainda relevante dada a fiscalidade associada à performance ecológica dos automóveis atuais.
Com o Diesel a dispor ainda de um papel muito importante, outras tipologias de combustíveis estão a ameaçá-lo, nomeadamente as dos híbridos Plug-in ou dos 100% elétricos (VE), que se tornaram mais relevantes com a entrada em vigor da nova norma de emissões e consumos WLTP.
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Argumentário consolidado
Mais do que modelos de nicho, os veículos eletrificados assumem cada vez maior preponderância nas frotas, algo que as próprias marcas, ouvidas pela FLEET MAGAZINE, começam a reconhecer e a ter em conta, além de serem também óbvios e naturais ‘transmissores’ de uma mensagem ecológica para o exterior.
“As empresas têm sido o motor da procura de veículos elétricos no nosso país”, explica Ricardo Tomaz, diretor de Marketing e Comunicação Estratégica da SIVA, acrescentando que a aposta destes agentes económicos na mobilidade elétrica se deve aos incentivos fiscais de que beneficiam, “mas também a questões de imagem da empresa”.
Essa ideia é partilhada pela Renault Portugal, que pela voz de Ricardo Oliveira, diretor de Comunicação e Imagem, aponta que “as frotas têm tido um papel primordial no desenvolvimento do mercado de veículos elétricos”. A Renault pretende ter aí uma posição de liderança e, como consequência, refere, “tem que apostar em todos os setores, principalmente naqueles que demonstram maior dinâmica”.
Pelo mesmo diapasão alinha a Kia, com Pedro Gonçalves, diretor de Vendas e Marketing da marca, a explicar que, entre janeiro e abril de 2019, a marca teve um valor de 15% das suas vendas totais respeitantes a automóveis eletrificados, sendo que 42% desses foram vendas efetuadas para o mercado empresarial. “A aposta neste mercado é estratégica para o crescimento do volume de vendas e a eletrificação vai estender-se à restante gama de viaturas já a partir do inicio de 2020, abrindo uma janela de oportunidade cada vez maior para a marca neste segmento de mercado”, diz.
Área ‘apetitosa’ para os Premium, também a BMW, em respostas dadas por Margarida Peres, da área da comunicação da marca bávara, demonstra atenção a um mercado no qual se “observa um rápido crescimento”, sendo que “mais de 80% dos veículos elétricos são vendidos a PME, verificando-se [ainda] um forte crescimento dos projetos de mobilidade elétrica em frotas de grandes empresas”.
Fomentando uma opinião consensual, a Nissan, que tem sido uma das grandes impulsionadoras da mobilidade elétrica, defende a relevância do segmento frotista inserido naquele que é um crescimento em todos os canais. Destacando o papel do novo Leaf, Ana Motta, da comunicação da marca, aponta que “o mercado de veículos elétricos no setor de frotas e profissional já é considerável, representando cerca de 60%”. “Existe cada vez maior abertura por parte das empresas em, pelo menos, questionarem a marca para compararem custos operacionais, e esse primeiro contacto é muito importante para desmistificar e normalizar o veículo elétrico”, esclarece.
A representante da marca evidencia a satisfação da marca na participação num mercado que, não obstante, ainda conta com alguns entraves para um crescimento mais rápido, sobretudo devido a ideias pré-concebidas. “As empresas ainda têm algumas reservas em relação às infraestruturas de carregamento disponíveis na rua para carregamento dos seus veículos durante as suas rotas e consoante as necessidades das suas operações”, completa.
Sobre este tema, Ricardo Tomaz aponta como entraves o preço de compra e a autonomia, “mas ambos vão evoluir no futuro próximo”.
Já a BMW explica que existem outros fatores de peso em consideração por parte do utilizador que não são apenas os ecológicos, “entre os quais está a permanência com a mesma viatura num período médio de quatro anos. As empresas têm feito um esforço adicional (e com sucesso) de forma a proporcionar plafonds diferenciados para VE e PHEV de forma a influenciar a opção do utilizador”.
As escolhas específicas das empresas são também a justificação apresentada pela Renault para que não exista maior aposta por parte dessas. “Não pensamos que exista algum travão, mas as opções de cada empresa ou entidade podem ser diversas em função de múltiplos fatores”, refere Oliveira.
TCO potencialmente decisivo
Se as questões das emissões e da imagem são relevantes para uma empresa, os valores mais baixos de TCO são também vistos, de forma quase unânime, como potencialmente decisivos na hora de escolher um elétrico ou híbrido Plug-in.
Ou seja, a redução de custos operacionais – de manutenção e utilização – dos veículos elétricos e PHEV pode jogar a seu favor face a modelos com motor convencional, pelo que a abordagem de muitas marcas é feita por esta vertente, como são os casos da BMW, Nissan, ou Renault.
“É perfeitamente natural que num mercado completamente novo existisse alguma incerteza sobre o valor residual. Essa questão parece já ultrapassada. O TCO de um automóvel elétrico é claramente a sua maior vantagem face a qualquer outra alternativa que envolva um motor de combustão”, reforça Ricardo Oliveira, da Renault, lembrando, porém, que “o TCO é um fator importante no processo de decisão de uma empresa, [mas] não é o único a ser tido em consideração”.
A outra marca da Aliança franco-nipónica, a Nissan, é mais perentória na asserção de que “um automóvel elétrico tem custos significativamente mais reduzidos do que um automóvel de combustão interna ou híbrido”, tanto ao nível de consumos, como de manutenção, sendo por isso uma virtude incontestável.
Posição ligeiramente mais contida tem a Kia, com Pedro Gonçalves a considerar que “o mercado encontra-se neste momento numa fase de transição que ainda irá demorar algum tempo”, desconstruindo depois a sua afirmação nalguns pontos chave, nomeadamente a falta de uma visão concertada por parte de todos os intervenientes no mercado automóvel.
“Para que estejam reunidas todas as condições necessárias [para um aumento significativo dos veículos eletrificados] é importante que todos os operadores do mercado se alinhem rapidamente – marcas, financeiras, fornecedores de energia, Governo e autarquias. Sem uma infraestrutura capaz e um programa de incentivos eficiente esta transição será muito mais demorada. O valor futuro das viaturas elétricas ainda é um risco elevado”.
Objetivos de crescimento
Esta ideia é tanto mais válida quanto maior é o número de veículos elétricos nas estradas, sendo necessária uma rede de carregamento e energética de grande capacidade que coloque fim a qualquer indício de ansiedades em torno da autonomia ou tempos de paragem demorados para carregamento de baterias.
Goradas muitas das estratégias comerciais que apontavam para um futuro em que os carros teriam baterias intermutáveis em postos de substituição criados para o efeito, a aposta dos fabricantes passou pelas vertentes do aumento da autonomia e da redução dos tempos de carregamento dos sistemas elétricos, receita única para a aceitação da eletromobilidade.
O custo de produção – ainda elevado – tenderá a diminuir com o aumento do número de veículos na estrada, sendo o setor frotista muito importante neste aspeto, tratando-se, no caso português, de um dos canais com maior expressividade nas vendas.
Este aspeto é já reconhecido por praticamente todas as marcas, que esperam ter no futuro próximo bastantes novidades em termos de modelos elétricos com custos variáveis (ver caixa de lançamentos) de forma a abrangerem todo o mercado.
O que parece evidente é que as marcas interessadas neste mercado – até pelo rápido alargamento das suas gamas de elétricos ou Plug-in – procuram acompanhar o processo decisório das empresas no momento de renovação de frotas, aconselhando na maior parte dos casos quanto às opções à disposição no seio de uma gama.
Essa é uma das diretrizes do plano da Renault, que considera “haver ainda muito a fazer” na promoção dos elétricos através de um formato de ensaio ou teste “eventualmente de longa duração”, refere Ricardo Oliveira. “A mobilidade elétrica é um tema corrente, mas a experiência de realizar o eu dia-a-dia com um automóvel elétrico ainda é muito escassa e ainda muito associada a um conjunto de ideias pré-concebidas que apenas podem ser eliminadas através da experiência de utilização”, completa.
Em concomitância, a oferta de serviços acessórios no ecossistema elétrico é outro dos aspetos em que as marcas denotam maior afinco, elegendo, por exemplo, a disponibilidade de elementos de conectividade melhorada, mas também serviços de conveniência ao nível de carregamentos e programas de ‘car-sharing’ ou ‘ride-sharing’, vertentes que, por exemplo, a Volkswagen e a Kia apontam como apostas futuras.
Novidades elétricas para 2019-2020
Praticamente todos os construtores têm em decurso uma estratégia de lançamento de veículos elétricos de nova geração (incluindo PHEV), com os próximos dois anos a prometerem muitas novidades.
Eis algumas das principais:
- Audi e-tron quattro
- Audi e-tron GT (versão de produção)
- Mercedes-Benz EQC 400 4MATIC
- Mercedes-Benz eSprinter
- MINI Electric
- Peugeot 508 e 3008 PHEV
- Honda e
- Polestar 1 e 2
- Porsche Taycan
- Ford Mach E
- Mercedes-Benz EQA
- Nissan Leaf e+
- Peugeot e-208
- Opel e-Corsa
- DS3 Crossback E-Tense
- Skoda e-Citigo
- Skoda Superb Plug-in
- Audi Q5 55 TFSI e quattro
- BMW i5
- Hyundai IONIQ (MY 2020)
- Kia Sportage PHEV
- Volkswagen ID.3
- SEAT El Born (versão de produção)
- Skoda Vision iV (versão de produção)
- Kia e-Soul
- Volkswagen Passat GTE (MY 2020)
- Volkswagen e-Golf
- Volkswagen e-up! (MY 2020)
- Volvo XC40 PHEV
- Opel Grandland X PHEV
- Citroën C5 Aircross PHEV
- DS7 Crossback E-Tense 4×4
- Tesla Model Y
- BMW iX3 (versão de produção)