Na primeira parte deste artigo incluído na edição de junho de 2022 da revista Fleet Magazine foi feita uma retrospetiva ao crescimento da Mobilidade Elétrica em Portugal, com enfoque no impacto que a Reforma da Fiscalidade Verde teve sobre as frotas das empresas, imediatamente após a sua entrada em vigor.
Este dossier é complementado com testemunhos das principais marcas automóveis presentes em Portugal, bem como o de algumas gestoras de frota que operam no mercado nacional.

frotas

Como as Frotas do Estado e das Empresas contribuíram para o crescimento da Mobilidade Elétrica em Portugal

A renovação da frota do Estado, que envolveu a aquisição de 1.200 automóveis destinados a diversos organismos geridos ou tutelados pelo governo, mas também as renovações em frotas municipais (Lisboa e Porto, por exemplo), organismos públicos (Águas de Portugal) e entidades privadas (grupos EDP, ctt e Montepio, vencedores do “Prémio Frota Verde” nas três últimas edições dos Prémios Fleet Magazine) contribuíram significativamente para o crescimento do número de veículos elétricos e híbridos plug-in em circulação, com especial incidência desde 2019:

• VE – 6.883 unidades em 2019, 7.709 unidades em 2020 e 13.260 unidades em 2021;
• PHEV – 5.798 unidades em 2019, 11.867 unidades em 2020 e 15.660 unidades em 2021.

É importante realçar que a oferta de modelos também cresceu e diversificou-se, passando a disponibilizar alguma oferta em escalões mais baixos de preço.

Isto teve sobretudo algum impacto com o surgimento de propostas PHEV abaixo dos 27.500 euros (valor sem IVA), modelos beneficiados por uma taxa reduzida de Tributação Autónoma de apenas 5%, em vez da taxa de 17,5% a que são submetidos os encargos com veículos com motor a gasóleo, por exemplo.

Para que se tenha uma visão mais apurada desta realidade, em 2015, ano de implementação da reforma da Fiscalidade Verde, e em 2016, o número de modelos disponíveis era:

  • VE – 11 modelos em 2015 e 2016, provenientes de 10 marcas diferentes;
  • PHEV – 6 modelos em 2015 e 12 modelos em 2016, provenientes de 8 marcas diferentes.

Já os resultados de 2020/2021 mostram:

  • VE – 36 modelos em 2020 e 53 em 2021;
  • PHEV – 66 modelos em 2020 e 85 modelos em 2021.

Este aumento significativo da oferta foi possível com a adesão de mais marcas:

  • VE – 20 marcas em 2020, 27 marcas em 2021;
  • PHEV – 23 marcas em 2020 e 2021.

Importa realçar o surgimento de novas marcas que rapidamente ganharam peso nas frotas (o exemplo mais evidente entre os automóveis elétricos é o da Tesla, onde mais de 90% das vendas destinam-se a clientes profissionais), mas também o facto de o aumento da oferta elétrica e da sua competitividade ter permitido a marcas como a Kia e a Hyundai ganharem mais tração junto deste canal de compras.

Grupo Montepio: Prémio Frota Verde (II). Desafios da transição energética

Importância das Frotas para a habituação dos condutores à condução de um carro elétrico e para  o crescimento da rede de carregamento

Diversas são as razões que evidenciam a importância que as frotas profissionais têm para a Mobilidade Elétrica em Portugal, como a seguir fica demonstrado:

  • Conhecimento: O carregamento, através de cartão, permitiu à MOBI.E tipificar as necessidades dos veículos em circulação. A utilização destas viaturas em vários ambientes profissionais e diversas geografias, mas também no âmbito particular, gerou informação para os operadores desenvolverem as suas ofertas e deu a conhecer as necessidades de novos pontos de carregamento;
  • Serviços: Face ao ainda reduzido número de veículos elétricos e híbridos plug-in utilizados para fins exclusivamente particulares, os veículos profissionais continuam a ser os maiores utilizadores de serviços para a Mobilidade Elétrica e, empresas e empresários, os maiores compradores de equipamento, incluindo viaturas. Ao alimentar este mercado, estimulam a concorrência e geram massa crítica suficiente para a entrada em cena de novos operadores e para o aumento do número de veículos;
  • Habituação de condutores: nem sempre valorizado, o primeiro contacto de muitos condutores com a mobilidade elétrica ocorreu (e ainda ocorre) em ambiente profissional. Isto contribui para a aprendizagem de, por exemplo, formas de carregamento e de correta utilização de uma viatura elétrica ou híbrida plug-in, desmistificando muitos receios em redor deste assunto. Principalmente quando os seus condutores beneficiam de formações em eco-condução;
  • Mercado de automóveis usados: parte substancial dos contratos renting de veículos elétricos acontece por prazos de 36 meses, em grande medida para evitar uma desvalorização maior do modelo, o que acontece face à rápida evolução da tecnologia. Por isso, o atual mercado de veículos usados com motor elétrico é alimentado essencialmente com unidades provenientes de frotas;
  • Ambiente: ao retirar da circulação milhares de veículos com emissões elevadas, as empresas estão a contribuir para a descarbonização dos transportes e, consequentemente, para a melhoria das condições ambientais. Mas também para a economia, com consequências muito positivas para a imagem da empresa e do País.
Veículos elétricos e híbridos plug-in: evolução das vendas de carros novos entre 2015 e 2021
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
100% elétricos
(número unidades/+ vendido)
645
Nissan Leaf
756
Nissan Leaf
1640
Renault ZOE
4073
Nissan Leaf
6883
Nissan Leaf
7709
Tesla Model 3
13260
Tesla Model 3
Híbridos PLUG-IN
(número unidades/+ vendido)
521
Mitsubishi Outlander
1089
Mitsubishi Outlander
2442
BMW série 3
3776
BMW série 5
5798
Mercedes-Benz Classe E
11867
BMW série 3
15660
BMW série 3

Ainda que os benefícios fiscais assumam realmente grande importância, essa não é geralmente a principal razão apontada pela maioria dos gestores de frota entrevistados pela Fleet Magazine, que referem razões ambientais para a tomada de decisão

O que as empresas “ganham” com a transição energética?

Os benefícios fiscais são geralmente apontados como a razão principal de muitas empresas decidirem pela transição energética da sua frota.

Contabilisticamente existem razões para sustentar esta análise, pelo que marcas automóveis e gestoras de frota realizam periodicamente estudos que comparam versões equivalentes com motorização elétrica e motor de combustão, e que evidenciam as poupanças que as vantagens fiscais geram nos custos de utilização dos primeiros modelos.

Estas análises comparativas mostram-se ainda mais favoráveis nos veículos com custo de aquisição acima dos 35 mil euros (em consequência da redução da taxa de Tributação Autónoma, ou não sujeição dos encargos a este imposto extraordinário no caso dos VE, consultar tabela com taxas por escalão), razão pela qual há empresas que decidem começar a introdução de veículos eletrificados a partir deste patamar de preço.

E é também neste segmento de atribuição de viatura que se encontram veículos elétricos com autonomia mais elevada e, por causa das características de alguns modelos, onde é mais fácil a aceitação dos utilizadores a uma nova realidade.

TRIBUTAÇÃO AUTÓNOMA 2021

Contudo, ainda que os benefícios fiscais assumam realmente grande importância, não é geralmente essa a principal razão apontada pela maioria dos gestores de frota entrevistados pela Fleet Magazine nos últimos anos, que apontam razões ambientais para a tomada de decisão.

De facto, a obrigação de cumprir metas internas de sustentabilidade, nomeadamente através de melhorias de eficiência energética, acaba por ter como um dos seus primeiros alvos a frota automóvel.

A redução da pegada de carbono tem um valor quantificável, financeiro e para a imagem da empresa, que é extraordinariamente importante para as grandes organizações e entidades com forte exposição mediática.

NOTA: Os dados relativos ao mercado automóvel referidos neste texto foram compilados pela ACAP, Associação Automóvel de Portugal

CONTINUA:
I – Testemunho das principais marcas automóveis presentes em Portugal sobre a importância das empresas para o desenvolvimento DA mobilidade elétrica no mercado português
II – Testemunho das principais gestoras de frota que operam no mercado nacional sobre a importância das empresas para o desenvolvimento da mobilidade elétrica no mercado português