A FLEET MAGAZINE desafiou as seis principais gestoras de frota a responder a três questões relacionadas com a Mobilidade Elétrica em Portugal:
1 – Que importância as empresas têm para o fomento da Mobilidade Elétrica em Portugal?
2 – Que importância teve a Reforma da Fiscalidade Verde e se continuam a ser os benefícios fiscais a motivar as empresas a apostar na transição energética da frota?
3 – Atualmente, quanto representam as vendas corporate de veículos exclusivamente elétricos e híbridos plug-in no volume de matrículas da marca ou grupo automóvel ou, no caso das gestoras, que peso têm na frota total gerida?
Eis o resumo das respostas obtidas às questões colocadas pela FLEET MAGAZINE a seis gestoras de frota e incluídas da edição 53 da revista de junho de 2022:
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ALD AUTOMOTIVE
Nuno Jacinto – Diretor Comercial
1. As gestoras de frota têm um papel crucial neste desenvolvimento da mobilidade elétrica e na promoção ativa de um melhor desempenho ambiental do renting. Depois das empresas, que deram assumidamente o primeiro passo, especialmente o sector público, a aceitação é cada vez mais generalizada também no caso dos particulares.
2. Existe uma correlação direta no impacto das políticas públicas na mobilidade sustentável. Incentivos fiscais, subsídios e outras medidas de apoio governamental aos VE são importantes motores da eletrificação.
Por isso, existe uma clara correspondência entre o nível desse apoio e o grau de eletrificação de cada país. Veja-se a aplicação de objetivos de CO2 aos construtores automóveis. É uma prova viva do impacto significativo que estes regulamentos têm na dinâmica do mercado.
3. Assistimos gradualmente a uma renovação das motorizações e a uma transição para formas de energia mais limpas e menos poluentes. A nossa frota ainda é formada por 80% de veículos Diesel, mas os restantes 20% são maioritariamente elétricos e híbridos.
Olhando para os contratos mais recentes, os veículos diesel representavam apenas 55% no final do primeiro trimestre de 2022, com os restantes 44% a ser suportados por gasolina, BEV, PHEV, entre outros.
DOSSIER: A importância das frotas para a Mobilidade Elétrica em Portugal (Parte I)
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ARVAL
Gonçalo Cruz – Head of Consulting & Acquisition da Arval
1. As empresas têm tido um papel crucial na transição energética em Portugal. De acordo com o Barómetro Automóvel e de Mobilidade 2022 do Arval Mobility Observatory, 55% das empresas em Portugal já definiram regras claras de gestão e objetivos de responsabilidade para as suas frotas.
Destas, 67% já estabelece limites para as emissões de CO2, sendo que a principal razão apontada pelos decisores nas empresas é a intenção de redução do impacto ambiental das suas frotas.
Ou seja, as empresas exercem um papel preponderante na transição para a mobilidade elétrica e, de uma forma geral, existe total disponibilidade e motivação da maioria dos colaboradores para aderir ao uso de novas tecnologias.
2. Sem a compensação promovida pela Reforma da Fiscalidade Verde, Portugal estaria muito atrasado no processo de transição energética face à média europeia. A sustentabilidade nas empresas só se consegue com equilíbrio entre os interesses económicos das mesmas e os benefícios sociais e ambientais.
O quadro fiscal veio permitir este equilíbrio que, de outra forma, deixaria de ser sustentável para as frotas automóveis. Desta forma, as empresas têm estado a progredir na transição energética de forma racional.
3. Nestes últimos dois anos assistimos a um crescimento acentuado deste tipo de viaturas. A consciencialização de que é preciso de facto mudar reflete-se no tipo de viaturas procuradas.
Podemos dizer que, em 2021, mais de 30% das encomendas de viaturas novas eram de eletrificadas, e que neste ano de 2022 esse número já ronda os 43%.
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KINTO
Pedro Coutinho – Diretor Comercial
1. A contribuição do mercado Corporate para a dinâmica da transição energética é uma realidade. O facto de as próprias empresas apresentarem uma preocupação genuína com o ambiente passa, e ainda bem, para os seus colaboradores.
Logicamente, este facto acelera, também no segmento dos particulares, a transição para veículos eletrificados. Mas também é justo dizer que o segmento dos particulares e dos ENI se apresentou muito bem informado e preparado, desde há uns anos, sobre a Mobilidade Elétrica. Basta ver as redes sociais e os fóruns sobre o tema.
2. A Reforma da Fiscalidade Verde é um documento muito abrangente, que vai bem para além dos benefícios fiscais para os eletrificados.
Os incentivos são importantes, no entanto, o sucesso da transição energética depende de mais fatores que contribuem para a competitividade da solução PHEV, BEV (mesmo HEV, que pode ter um papel na descarbonização, que tem sido negligenciado por essas políticas).
Por exemplo, o risco que nós, enquanto gestora de frota, tomamos para disponibilizarmos boas soluções de mobilidade elétrica aos nossos clientes. Por outro lado, convém ter presente que o atual contexto onde as cadeias logísticas de vários fabricantes registam sérias dificuldades, pode ter impacto no ritmo da transição energética.
3. Na KINTO temos vindo a priveligiar este tema. Com projetos estratégicos desenvolvidos desde há 3 anos e que, com mérito de todos, nos colocam com uma representatividade dos BEV e PHEV (e mesmo HEV) acima do mercado.
DOSSIER: A importância das frotas para a Mobilidade Elétrica em Portugal (Parte II)
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LEASEPLAN PORTUGAL
Ricardo Silva – Diretor Comercial
1. Seis em cada dez veículos vendidos na Europa são veículos de frotas corporativas.Em Portugal, este número representa 58%, segundo estimativas da LeasePlan.
Historicamente, as frotas sempre estiveram alguns anos à frente do mercado automóvel em geral. Adotaram conceitos, produtos e serviços – como o renting – muito antes destes se tornarem populares entre os clientes privados.
Por isso, as frotas corporativas são o principal motor da transição para a mobilidade elétrica de zero emissões. Como gestora de frotas temos desempenhado um importante papel na defesa da adoção da mobilidade de zero emissões, associando-nos a iniciativas que promovam a transição para a mobilidade elétrica.
Acreditamos que o caminho para a neutralidade carbónica será percorrido com a promoção do veículo elétrico, com a eliminação da ansiedade associada à sua utilização e com condições para tornar a subscrição mensal interessante do ponto de vista económico.
2. A Reforma de Fiscalidade Verde em Portugal veio trazer competitividade aos veículos movidos por motores elétricos, híbridos plug-in, face aos veículos tradicionais, reduzindo as diferenças a nível de TCO.
Enquanto não for atingida uma paridade a nível do valor de compra, faz sentido continuarem a existir incentivos. A Fiscalidade Verde trouxe também uma perspetiva diferente sobre a abordagem das empresas ao tema da mobilidade sustentável.
Além dos incentivos fiscais, outras razões contribuem para a decisão de fazer esta transição energética. Se o foco da empresa estiver assente numa estratégia de sustentabilidade, esta transição será um forte contributo para atingir os seus objetivos.
3. Não divulgamos esses valores, mas podemos referir a percentagem de novas encomendas de EV no Q1: os elétricos e plug-in representaram 25% de todas as novas entregas.
Custo de aquisição (1) | Combustão | Plug-in (2) | 100% Elétricos |
Acima de 35 mil euros | 35% | 17,5% | Isento |
Entre 27.500 e 34.999,99 euros | 27,5% | 10% | Isento |
Até 27.499,99 euros | 10% | 5% | Isento |
(1) Valores s/IVA no caso das viaturas híbridas plug-in e 100% elétricas (2) Com emissões CO2 até 50 g/km e autonomia em modo elétrico superior a 50 km |
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LOCARENT
Maurício Marques – Diretor de Marketing
1. Há a perceção de que a transição para a Mobilidade Elétrica está a ser feita em três vagas. A primeira foi liderada por empresas públicas e municípios, fruto das decisões políticas e dos compromissos relacionados com a descarbonização. A segunda vaga pelos particulares, empenhados nas questões ambientais e alterações climáticas, numa condução mais confortável e na redução das despesas com combustível. A terceira e decisiva vaga está a crescer e tem as empresas como atores principais.
2. Os incentivos fiscais são determinantes, mas a aceleração tem sido condicionada pela resolução de questões, relacionadas com a definição do número e potência de carregadores a instalar, a potência instalada e avaliação da autonomia versus circuitos realizados.
Apesar do contexto atual de falta de viaturas para entrega, é interessante observar que já há empresas a investir em comerciais elétricos. Os 300 km de autonomia da maioria destas viaturas são suficientes para o circuito de distribuição urbano e suburbano de boa parte das empresas.
O agravamento substancial do preço dos combustíveis tem sido decisivo para esta alteração, mas não há soluções universais e, nesta fase, todas as opções devem ser avaliadas.
3. Num contexto empresarial, os benefícios fiscais são indiscutivelmente o principal acelerador da eletrificação das frotas, sendo neste momento preponderantes na nivelação do TCO de uma viatura eletrificada face às viaturas a combustão tradicionais.
Poupanças essas que podem chegar aos 35% na Tributação Autónoma (TA) e que juntamente com a possibilidade de deduzir o IVA, possuem em alguns casos materialidade suficiente para transformar uma viatura elétrica na primeira opção num processo de seleção suportado em critérios estritamente económicos.
Não obstante, podemos apontar alguns pontos de melhoria/ riscos associados ao contexto atual:
1) Dos benefícios existentes, a isenção de TA é o de maior materialidade, possuindo o seu máximo impacto nas viaturas de gama média/alta. Perde peso nos segmentos utilitários que representam a maioria do nosso parque automóvel, cujas versões eletrificadas ainda possuem custos de utilização pouco competitivos por comparação com as viaturas térmicas.
2) Impacto (quase) nulo no segmento dos veículos comerciais ligeiros (VCL’s). A competitividade dos VCL’s elétricos por enquanto é uma autêntica miragem e a solução de convergência não passa neste momento pela fiscalidade em vigor.
3) A perceção de que o modelo atual não será sustentável do ponto de vista orçamental no médio e longo prazo, induz algum receio por parte dos decisores relativamente à possibilidade da reversão de alguns dos apoios que possa penalizar, no futuro próximo, decisões de investimento entretanto tomadas.
Existe igualmente a perceção que parte dos benefícios fiscais possam estar a ser apropriados pelas marcas automóveis beneficiando as suas margens de negócio, especialmente nas viaturas híbridas plug in. O ISV é disso o melhor exemplo.
3. Os BEV, têm um peso de 7% nas vendas à data, neste ano (no mercado de vendas automóveis esse peso é de 9%). Já os PHEV assumem 13% dos contratos em 2022 (no mercado de vendas automóveis esse peso é de apenas 9%).
Analisando cumulativamente as 2 tipologias, a Locarent tem atualmente uma quota destes veículos acima do mercado (20% vs 18%).
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VOLKSWAGEN FINANCIAL SERVICES
Miguel Ribeiro – Portugal Head of Fleet Channel
1. As empresas são atualmente o principal ‘driver’ em termos de mobilidade elétrica.
Por um lado estão os benefícios fiscais associados (IVA e IRC, nomeadamente a tributação autónoma), por outro a responsabilidade e o papel que as empresas pretendem ter na criação de um futuro sustentável, o que se afigura cada vez mais importante para investidores, mas também para terem acesso a determinados fundos governativos.
Por último, serem quem tem capacidade para suportar alguns do investimento necessários a esta mudança.
2. A Reforma da Fiscalidade Verde foi o momento de viragem no Foi a partir de aqui que as empresas começaram a mudar a forma como encaravam as viaturas elétricas na sua estrutura de custos. A mudança requer incentivos e, sem estes, a mudança iria ser muito mais longa.
3. No caso da VWFS a nossa quota de encomendas anda à volta dos 20%.