Os sistemas de mobilidade que dão a liberdade de os colaboradores escolherem a sua forma de se deslocarem já existem há algum tempo. Mas a entrada nas empresas portuguesas continua a ser muito lenta.

A definição mais genérica de mobilidade, mover pessoas e bens, poderia abrir portas para várias opções, mas em Portugal deixa apenas uma saída: o automóvel.

Apesar de existir hoje em dia muita oferta de sistemas de mobilidade e de se prever que a utilização do carro venha a diminuir, as empresas continuam a privilegiar este meio de transporte, muitas vezes individual.

“Em Portugal, o carro próprio continua a ser o meio de transporte preferencial, sobretudo pela questão do conforto pessoal, ainda que a sua posse seja cada vez mais questionada”, diz Ricardo Silva, da Leaseplan (e também colaborador da FLEET MAGAZINE).

Há vários estudos que atestam porque é o automóvel a opção preferida para dar mobilidade ao colaborador. Bruno de Borger, investigador da Universidade de Antuérpia, procurou saber se faria sentido alterar a fiscalidade das viaturas de empresa para a aproximar mais de um orçamento de mobilidade. Isto na Holanda, um dos países onde as questões de mobilidade estão mais avançadas.

Efeitos de produtividade, o custo dos carros (em comparação com a compra como particular), a motivação dos trabalhadores ou o próprio sistema de impostos, que beneficia ambas as partes, são motivos para atribuição dos carros que não espantam ninguém (pode ler o estudo aqui).

E como outro investigador, também holandês, chama a atenção, em muitos países o automóvel acaba por ser a compensação mais importante para os trabalhadores. “Este benefício também inclui o financiamento total da utilização do carro: combustível, seguro, manutenção e por vezes parqueamento e portagens”, diz A. W. Kloosterboer, num artigo publicado em 2012. “A consequência disto é que o custo marginal de uma viagem num carro de empresa é zero para o colaborador; o custo do carro para o colaborador é constante, sejam quantas vezes ou para que distância ele seja usado”.

 

O carro em desuso

No entanto, a utilização das viaturas é cada vez menor. A gestora de ativos Schroeder diz que as distâncias percorridas por carros estão a cair desde 2000. E questões ambientais, como as metas de emissões de CO2 dentro das empresas ou a própria pressão sobre os custos de frota, fazem com que outras alternativas tenham que ser consideradas.

Na Holanda e Bélgica, os cartões de mobilidade já são uma realidade (ver em baixo). Com estes dispositivos, os colaboradores das empresas podem ter a sua mobilidade à medida. Carro de empresa, comboio, elétrico, bicicletas, parqueamento ou mesmo carregamento elétrico são as formas de deslocação previstas.

Do lado da oferta para os consumidores em geral, serviços como os da Uber ou Cabify (esta última com planos específicos para empresas), são já um primeiro passo para a mobilidade multimodal.

Mas, para um verdadeiro serviço de mobilidade agregador, é preciso que haja uma entidade agregadora que possa juntar todos estes operadores e emitir uma fatura única. A FLEET MAGAZINE sabe que já têm havido contactos entre as entidades nacionais no sentido de conseguir colocar essa oferta no mercado.

O lançamento de uma “prova de conceito” da Via Verde, na qual através de uma única app se conseguem utilizar e pagar viagens na Carris, Metro, Transtejo é um dos passos de gigante neste sentido. Se for considerado que a Via Verde permite pagar portagens e estacionamento e que já tem tarifas de desconto negociadas com a Europcar, tem-se um serviço muito próximo de um cartão de mobilidade.

Nas empresas não tem havido procura, exceto em car-sharing. Empresas como a Citydrive já têm alguns clientes empresariais em carteira e a ALD Automotive tem o projeto ALD sharing. Mas o projeto da Carris, a Mobcarsharing, acabou no ano passado por falta de procura.

No carpooling, que é uma rede de partilha de carro nas deslocações casa/trabalho, já existe oferta direcionada para as empresas. A Empresas à Boleia é uma solução dessas, que nasceu com os particulares e avançou para o canal empresas, com clientes como a Nokia ou a Deloitte e mais de 700 pessoas registadas.

 

Que mobilidade nas empresas?

Apesar destes serviços, nas empresas a discussão ainda está no início. Em Portugal, não são conhecidos projectos de mobilidade livre para os colaboradores que ultrapassem as viaturas. Dizer livre é importante, porque há instituições, como exército, EDP ou municípios, com redes de transporte preparadas para os seus colaboradores

As gestoras contam com a sua oferta noutros países, mas não vêm procura para a ter por cá. Mesmo assim, a ALD Automotive sente uma evolução positiva. “Há uma curiosidade crescente dos clientes, especialmente por parte dos individuais, de forma a acompanhar a mudança de padrões na utilização de veículos”, diz Patrícia Sanches. “Obviamente que se irá refletir a prazo também em algumas frotas, especialmente do setor mais urbano”.

E a Leaseplan vê o carsharing como um “conceito que está a ganhar terreno”. “No entanto”, diz Ricardo Silva, “no que respeita ao carsharing empresarial, existem ainda muitas resistências, sendo a principal preocupação a indisponibilidade do carro”.

Outros desafios existem na implementação da mobilidade multimodal. A ALD Automotive fala numa evolução comportamental e na mudança de mentalidades. “Estamos preparados para responder aos novos desafios de mobilidade, mas o mercado tem também que acompanhar e responder a esta nova tendência”, diz Patrícia Sanches.

Esse parece ser o ponto de partida. “É necessário que haja não só uma mudança nos valores e estilo de vida, como também novos desenvolvimentos tecnológicos e criação de novas e melhores políticas e infra-estruturas, que promovam a qualidade e a funcionalidade”, diz Ricardo Silva. “Só neste contexto, será possível contemplar outras soluções de mobilidade que não apenas o carro próprio”.

 

Como preparar um orçamento de mobilidade?

Por considerar diversos operadores, um orçamento de mobilidade é diferente de um de gestão de frotas. O BNP Paribas (que detém a Arval) tem uma página de internet onde dá alguns conselhos:

– As empresas devem analisar as suas operações e os hábitos de viagem dos seus empregados, de forma a conseguir combinações que sejam desejáveis, exequíveis e rentáveis;

– Os parceiros sociais devem ser envolvidos quando se está a preparar orçamentos de mobilidade;

– A combinação de um carro de empresa e de um bicicleta para partilha ou atribuída a um colaborador é possível de um ponto de vista fiscal (até com benefícios, desde a Reforma para a Fiscalidade Verde);

– A combinação de um carro de empresa e de transportes públicos é possível de um ponto de vista fiscal;

– A combinação de um pequeno carro ou um elétrico para uso diário com uma ciatura maior para períodos de férias é também possível. Mas neste caso, sugere o BNP Paribas, é preciso calcular os benefícios em espécie.

 

Cartões de mobilidade: três exemplos

Leaseplan Mobility Card (Bélgica)

Através da plataforma XXImo, os clientes da gestora têm um plafond de mobilidade que pode ser utilizado em viaturas, comboio, elétrico, autocarro, bicicletas partilhadas, carros partilhados, parqueamento e carregamento elétrico

ALD Mobility Card (Holanda)

O cartão da ALD Automotive funciona como um acrescento ao carro em renting. Podeser utilizado em transportes públicos, parqueamento e táxi. Mas pode também ser usado para aluguer de espaços de cowork

Arval Mobility Link (Bélgica)

O sistema da Arval funciona em três módulos diferentes. Um deles é apenas de reembolso de despesas de representação, para quem não tem carro de empresa ou cartão de mobilidade. O budget dinâmico de renting permite atribuir um plafond definido através da quilometragem percorrida. O orçamento de mobilidade permite que os empregados escolham o seu meio de transporte preferido

 

Oferta de mobilidade em Portugal

ALD Sharing

www.aldautomotive.pt

 

Mobi Cascais

www.mobicascais.pt

 

Uber

www.uber.com

 

Cabify

www.cabify.pt

 

Mytaxi

www.mytaxi.com

 

Empresas à boleia

www.empresas.boleia.net

 

Bla Bla Car

www.blablacar.pt

 

Citydrive

www.citydrive.pt