Pressões ambientais, os efeitos da COVID-19 sobre o modelo de trabalho e uma nova geração de cidadãos que valoriza uma mobilidade mais sustentável, estão a estimular formas diferentes de nos deslocarmos e a obrigar a repensar a circulação nas malhas urbanas. Uma oportunidade para muitas empresas novas que estão a alimentar este mercado com ofertas de produto com preço cada vez mais acessível e a desenhar soluções específicas para a mobilidade profissional.
A UrbanGlide é uma marca especializada em veículos de mobilidade urbana. Por veículos entendam-se bicicletas, draisianas ou trotinetes (mas há mais…) para adultos e também para crianças.
Transversal a todos estes veículos é serem uma forma de mobilidade que pode ser primária ou complementar a outras formas de transporte.
Para os menos atentos, talvez seja uma marca ainda pouco visível; no entanto, abrange praticamente todo o tipo de soluções de mobilidade urbana, com ou sem motor, além de comercializar acessórios como capacetes, por exemplo, e de ter produtos à venda em grandes lojas de venda a retalho.
E sim, já entrou nas empresas!
Ainda que alguns possam estranhar o interesse das empresas pela utilização de trotinetes ou bicicletas elétricas, isso já acontece.
“Temos clientes com várias atividades que utilizam os nossos produtos. Em fábricas para se deslocarem de um lado para o outro, em portos que têm grandes distâncias entre o escritório e o local de atracagem dos barcos, em parques de estacionamento para a vigilância e supervisão”, explica Carlos Luís, CEO UrbanGlide Portugal.
Convidado a citar exemplos em Portugal, referiu algumas empresas da área da restauração (na FIL, para circulação entre as várias naves), de transporte ligadas aos portos de Sines, Setúbal, Lisboa e Matosinhos, de armazenagem para deslocação dos colaboradores ou utilização em atividade de vigilância e até alguns parques de campismo, uma vez que a mobilidade elétrica proporciona a vantagem de poder circular sem ruído.
https://fleetmagazine.pt/2021/09/15/mobi-e-corredor-iberico/
Estimular um comportamento saudável
O uso de formas de mobilidade como a trotinete ou a bicicleta não tem necessariamente de ser uma alternativa ao automóvel; na realidade, podem complementar-se.
Para uns é uma solução para percorrer algumas centenas de metros entre o local onde o carro ficou estacionado, sem ter de pagar estacionamento, e a porta do escritório.
Quando assim é, a trotinete viaja sempre na mala do carro.
Para outros, a mobilidade suave, elétrica ou sem motor, é uma possibilidade de participar num futuro mais sustentável; e as empresas podem ganhar créditos com essa mudança.
É o caso de uma grande empresa na periferia da capital, com departamentos dispersos por vários edifícios. Apesar de dispor de alguns carros elétricos para os colaboradores partilharem sempre que se deslocam dentro do complexo, tenciona juntar a esta pool alguns veículos de duas rodas. A ideia não é de agora, confessa um dos elementos da equipa de gestão de frota, mas o tema entrou novamente em discussão graças a uma parceria que surgiu com a conclusão de um negócio da empresa.
“A deslocação por automóvel é sempre mais demorada. Fica mais rápido ir de bicicleta ou de trotinete elétrica, além de ser menos stressante em determinadas alturas do dia, como nas horas de entrada e saída do pessoal.”
Os carros são para manter, porque nem sempre as condições climatéricas vão permitir a utilização de veículos “descobertos”. “O problema é alguns dos nossos colaboradores não saberem andar de bicicleta ou terem receio de usar uma trotineta. Mas obtivemos um grande entusiasmo da parte de quem já utiliza”.
Ainda em duas rodas
O operador de duas rodas mais presente na atividade empresarial é a Cooltra. Ou eCooltra, quando o produto é totalmente elétrico.
Há muito que a empresa tem acordos corporate com algumas empresas de distribuição alimentar e não só. Pedro Pinto, diretor-geral da Cooltra em Portugal, dá exemplos: “Domino’s Pizza, Burger King, Telepizza e empresas do ramo da logística/posta”.
Estas empresas utilizam os motociclos em regime de aluguer operacional, com prazos mais alargados que podem ir de 1 a 48 meses. Mas, para uso mais pontual ou esporádico, quando a necessidade que se coloca é completar um trajeto urbano, a Cooltra disponibiliza outra solução: o scootersharing empresarial, um produto que permite contratar pacotes de minutos de utilização diária, através de um sistema de tarifa fixa, cujo valor varia em função dos minutos contratados e do número de utilizadores.
“É destinado a empresas ou entidades públicas que pretendam oferecer aos colaboradores uma frota elétrica partilhada (scooters/bicicletas/trotinetes) e acessível através de uma aplicação personalizada. Para tal, apenas se definem as zonas onde as scooters podem iniciar e terminar as viagens. Tudo o resto fica a cargo da Cooltra (limpeza dos veículos, higienização dos capacetes, manutenção, carregamento das baterias, seguros, gestão e validação dos clientes autorizados, etc.)”, explica Pedro Pinto.
“Esta solução pode ser 100% subsidiada pela empresa, 100% pelo utilizador ou num esquema de divisão de custos”.
Gestão e manutenção
Para as empresas rotinadas em formas de aluguer operacional de viaturas, a gestão de veículos de duas rodas não é fácil de encarar.
Os riscos de utilização em horário laboral pela maior probabilidade de acidentes ou de uso indevido é uma razão forte para afastar as melhores intenções.
Razão que, em bom rigor, não está fundamentada em nenhum estudo concerto e legitimado com dados.
Outro risco prende-se com a manutenção do veículo. Enquanto a Cooltra já oferece planos de renting que incluem este serviço, Carlos Luís, da UrbanGlide, explica que não existe ainda uma abordagem direta às empresas e que os negócios têm-se processado essencialmente através de parceiros.
“De acordo com os projetos, avaliamos e temos um cuidado particular para cada um, verificando se é o produto mais adequado para o que o cliente pretende fazer”, explica. “ainda não temos contratos de aluguer e manutenção integrada, mas já temos uma rede de parceiros nacionais. Mais para a frente podemos implementar uma oferta para cada situação, com a manutenção feita por parceiros”.
Mudança de hábitos
Em ambiente empresarial ou particular, este tipo de mobilidade mais urbana começa a conquistar espaço e não apenas no interior das grandes cidades.
Considerando que algumas zonas metropolitanas estão de tal forma agrupadas que já permitem a interceção de ciclovias, a alternativa começa a ganhar adeptos mesmo entre os mais receosos ou resistentes à mudança.
Prova disso é que, embora o Estado tenha retirado alguns incentivos fiscais às empresas, anunciados como forma de estimular essa mudança de comportamento, os particulares rapidamente esgotaram os que foram destinados (e reforçados em 2021) para a aquisição de bicicletas, motos ou ciclomotores sem emissões.
Na realidade, no caso da bicicleta, ela é um meio de transporte normalizado em localidades e mesmo algumas grandes cidades europeias. A oferta de condições mais seguras para a circulação de veículos de duas rodas sem motor, uma legislação e regulamentação local mais favoráveis, poderão contribuir para uma alteração dos hábitos de muitos portugueses. Até porque a tendência é cada vez mais impedir o acesso de automóveis aos centros urbanos, ou pelo menos viaturas que produzam emissões.
Um dos obstáculos habitualmente apontado ao uso da bicicleta, é o esforço a que muitos ciclistas não querem estar sujeitos. Sobretudo nas viagens mais distantes ou em percursos com inclinações mais pronunciadas.
Isso representa uma oportunidade para os modelos com apoio elétrico; mantendo o sistema de pedais e corrente, uma bicicleta elétrica não apenas permite aliviar o esforço de pedalar, como contribui para tornar a viagem mais rápida. Algumas bicicletas e trotinetes elétricas podem atingir uma velocidade de 25 km/h.
“Com a pandemia, muitos dos profissionais de entrega ao domicílio utilizavam os nossos produtos. Ao falar com eles, percebemos que precisavam de produtos com mais potência e maior autonomia. Passámos a ter trotinetes com um e dois motores de 800W, bateria de 17,5 Ah para 50 km de autonomia e velocidade até 25 km/h para respeitar a legislação em vigor”, diz Carlos Luís da UrbanGlide Portugal. “Não existe subida em Portugal que faça frente a esta gama de trotinetes!”.
Nas horas de maior trânsito, 25 km/h é a velocidade média a que os automóveis circulam dentro de uma cidade. Por isso, utilizar uma scooter, bicicleta ou trotinete permite vencer distâncias mais rapidamente. E, ao contrário do automóvel, a bicicleta ou a trotinete possuem mais facilidade de manobra; basta transportá-la a pé por outro percurso, independentemente das restrições que possam existir à circulação.
https://fleetmagazine.pt/2021/08/13/incentivos-e-vantagens-da-mobilidade-eletrica/
Mobilidade complementar
O utilizador de uma scooter, de uma bicicleta ou de uma trotinete não é inimigo dos automóveis.
Na realidade, pode simplesmente ter deixado o carro estacionado fora da malha urbana e aproveitado o bom tempo para fazer o resto da viagem num transporte partilhado como os que foram referidos no parágrafo anterior. Ou utilizar a sua própria bicicleta, draisiana ou trotinete que transporta na mala do carro.
Em países como Portugal, onde existem mais horas de sol por ano, talvez até faça mais sentido do que no norte da Europa.