Numa estreia como repórter, Miguel Vassalo esteve, em Londres, na feira de mobilidade Move, em representação da Fleet Magazine

Curiosamente podia bem ser. Mas não. Este texto não vos fala da recentemente apresentada “Your Now”, a nova marca da joint venture da Daimler AG e Grupo BMW que agrega em cinco verticais as várias iniciativas que ambos os grupos já operavam no domínio dos serviços de mobilidade.

No entanto, não deixa de ser revelador da importância do emergente ecossistema de mobilidade que leva dois dos mais relevantes construtores mundiais e arqui-rivais a unir esforços na expectativa de ganhar uma vantagem competitiva, preparando-se para enfrentar os previsíveis desafios do futuro.

Nos últimos anos, temos assistido a um proliferar de conferências sobre mobilidade, mas desta vez ficámos particularmente curiosos quando, à medida que eram revelados os painéis e respectivos palestrantes, identificávamos uma quantidade invulgar de conhecidos visionários e líderes deste emergente ecossistema.

Chamava-se MOVE 2019 – Mobilidade reinventada, ia ter lugar nos dias 12 e 13 de Fevereiro e prometia 388 palestrantes, 280 sessões distribuídas por 10 palcos.

Fomos ver do que se tratava.

Assim, rumámos a Londres e enquanto caminhávamos junto ao Tamisa numa manhã fria e soalheira em direcção ao gigantesco centro de convenções ExCeL, não podíamos deixar de pensar que o interesse crescente na nova indústria da mobilidade faz antever o enorme potencial de crescimento.

A agenda foi intensa e ofereceu uma experiência abrangente e interdisciplinar, englobando nove elementos chave da mobilidade:

  • Cidades Inteligentes;
  • Modelos de Negócio;
  • Tecnologia, Dados e Inovação;
  • Infraestrutura & Conectividade;
  • O Futuro do Automóvel; Veículos Autónomos;
  • Cadeia de Abastecimento Urbana;
  • Energia & Carregamento e Ciclismo & Mobilidade Activa.

Uma mistura vibrante de startups, gigantes tecnológicos, investidores e líderes de cidades, durante dois dias inteiros discutiram sobre a forma como o mundo se move, reunindo as partes interessadas em todos os modos de transporte e disciplinas para dialogar, criar ideias e promover a colaboração para impulsionar o futuro do transporte.

Ficou claro que duas grandes tendências vão modelar o futuro das frotas

Desde logo, a convergência entre tecnologia e dados vai tornar todo o sistema de transportes e mobilidade mais eficientes. Por outro, a transição energética vai acelerar e o que no passado recente considerávamos combustíveis alternativos passam a ser parte da norma.

De acordo com o organizador, 2.888 pessoas, originárias de 74 países, estiveram presentes durante os dois dias.

Representando o potencial da tecnologia nacional, quatro empresas portuguesas pisaram os palcos deste evento, nomeadamente a Veniam, a A-to-Be da Brisa, a Ubirider e a AddVolt.

Energia portuguesa

A ambição da AddVolt não é pequena.

Em 2014 quatro jovens engenheiros portugueses acreditaram que a sua tecnologia patenteada poderia fornecer energia limpa, reduzir as emissões de CO2 e contribuir para uma melhor qualidade de vida.

A descarbonização do sistema de transportes e modelação do tráfego nas cidades são desafios que a empresa abraça como uma oportunidade de colocar a marca da tecnologia portuguesa na transformação do actual paradigma da mobilidade.

“O abastecimento de produtos, nomeadamente nas cidades, tem um enorme impacto na mobilidade de bens e pessoas, principalmente quando realizado em horas de maior tráfego”, diz Bruno Azevedo, um dos fundadores e CEO da empresa.

Pioneira no desenvolvimento de soluções para alimentar unidades de refrigeração de mercadorias sem recurso ao diesel, “a AddVolt está a tornar os veículos de distribuição de produtos frescos e congelados mais silenciosos e amigos do ambiente, para que cumpram os requisitos das cidades e possam realizar a distribuição durante a noite. Assim, libertam espaço na cidade para outros meios de transporte durante o dia.”

Esta tecnologia aplica-se a unidades novas, mas também à reconversão das existentes, pelo que o mercado-alvo é suficientemente alargado para que possamos perspectivar o futuro da empresa com optimismo.

“Actualmente circulam cerca de 1,1 milhões de camiões e reboques frigoríficos nas estradas europeias e que precisam de fazer a transição energética para respeitar os requisitos da maioria das capitais Europeias”, quantifica Bruno Azevedo.

“Uma das particularidades desta solução patenteada é que pode ser aplicada em qualquer camião ou reboque sem quebrar os contractos de manutenção e garantia, ou até em viaturas que já estejam em operação, possibilitando a sua actualização e extensão do seu ciclo de vida” acrescenta.

“A AddVolt tem uma rede de parceiros e está representada na Alemanha, Espanha e Portugal. Em breve abriremos mercados como a Suíça, Holanda e Bélgica” sublinha, destacando a vocação eminentemente exportadora da empresa.

O ano passado foi distinguida com o Prémio Trailer Innovation da International Trade Fair for Mobility 2018 (IAA 2018), pela sua contribuição para um sector dos transportes mais sustentável.

Bruno Azevedo teve um papel de destaque no MOVE 2019 ao fazer uma apresentação e moderar um painel sobre startups na área da energia.

“A participação no MOVE foi uma excelente oportunidade para reforçar as relações que temos com empresas que estão a trabalhar na electrificação dos veículos e ao mesmo tempo partilhar a nossa experiência de cinco anos nesta área”, disse.