Com mais de 20 anos de experiência em consultadoria de gestão, vendas e desenvolvimento de negócio, Susanne Hägglund é a nova Managing Director da Volvo Car Portugal.
Em entrevista à Fleet Magazine, a diretora da marca premium fala sobre a transição energética e revela alguns dos planos para o futuro da marca junto dos clientes empresariais.
Que importância tem para a sociedade a passagem para frotas elétricas por parte das empresas?
Sabemos que a utilização de veículos elétricos é a solução que presentemente fará a diferença na diminuição da pegada de carbono da maioria de nós, que diariamente nos deslocamos e usamos o automóvel.
Eu diria que esta tendência é importante para a sociedade portuguesa.
Relativamente à mudança para a eletrificação, Portugal tem uma atitude positiva e evolutiva muito clara em relação à mesma:
Já quase 85% dos automóveis que vendemos têm um motor elétrico e vemos grande interesse e atração pelos nossos veículos 100% elétricos – os XC40 e C40.
Até final de abril, aproximadamente 19% das encomendas Volvo eram de carros elétricos.
Qual é o papel da Volvo nesta transição?
Sabemos que o mundo tem pela frente um enorme desafio relacionado com as questões climáticas. Nós, na Volvo Cars, sabemos que somos parte do problema e por isso queremos ser parte da solução.
Demos um passo ousado no que diz respeito a liderar a mudança para veículos eletrificados na indústria automóvel e estamos absolutamente convencidos que este é o caminho certo a seguir. A Volvo foi, na realidade, a primeira marca premium a assumir o compromisso de se tornar totalmente elétrica até 2030.
Porque só liderando a mudança e abraçando uma mobilidade mais limpa, livre de carbono e reduzindo o impacto do CO2 do nosso negócio, conseguiremos singrar e garantir o nosso sucesso, o que demostra ainda que estamos atentos às tendências da sociedade e ouvimos os nossos clientes e as suas necessidades.
A Volvo diz ser uma marca diferente… O que faz a diferença para os clientes-empresa?
Somos diferentes em muitos aspetos e isso começa na nossa origem.
O nosso objetivo é ser uma marca que trata as pessoas de forma “Pessoal”, uma marca “Sustentável” e “Segura”. Isto guia-nos em todas as nossas operações, negócios e prioridades.
Tudo o que fazemos começa nas pessoas. Se olharmos especificamente para os nossos clientes business-to-business, o nosso foco é simplificar a vida profissional diária dos utilizadores, ao mesmo tempo que oferecemos automóveis atraentes, seguros e inovadores que vão ao encontro das expectativas dos colaboradores e dos gestores de frota.
Acreditamos em relações simples e sem esforço e num serviço personalizado de atendimento ao cliente.
Um bom exemplo é a app Volvo Cars, uma aplicação para smartphone na qual o utilizador controla a utilização de eletricidade do seu automóvel ou encontra facilmente postos de carregamento, entre muitas outras funcionalidades (por exemplo, trancar o automóvel remotamente ou aquecer/arrefecer o interior do mesmo momentos antes da condução).
O modelo de venda exclusivamente online implica que os concessionários irão desaparecer no futuro?
A indústria automóvel está a sofrer uma grande transformação impulsionada pela tecnologia, digitalização, pessoas e clima. Precisamos ser adaptáveis e flexíveis para nos mantermos relevantes para os nossos clientes.
Dito isto, continuamos a acreditar que os nossos concessionários serão importantes no futuro e que a nossa parceria manter-se-á, embora sob novos termos e condições.
Sabemos que a compra de um automóvel é um momento muito importante. Muitas pessoas continuam a considerar fundamental o apoio do consultor de vendas para obter aconselhamento. Também não prescindem de ver, sentir e experimentar o automóvel, antes da compra.
Com a atual solução online que temos na Volvo, a jornada do consumidor inicia-se em casa: procurar informações online, avaliar opções e marcar um test drive, por exemplo. Mais tarde, o cliente finaliza a compra no concessionário.
Com os nossos modelos de subscrição, que implicam o pagamento de uma mensalidade que pode ser cancelada com base no contrato escolhido, o modelo será diferente. Porque a subscrição de um automóvel não será tão “definitiva” como a compra efetiva de um automóvel e a ida ao concessionário não será tão determinante ou importante.
Mesmo com os novos modelos de negócio, a subscrição e a venda online dos nossos concessionários continuarão a ser importantes para a Volvo.
Viveremos num modelo híbrido num futuro previsível (online + offline), sendo que o concessionário terá sempre um papel fundamental uma vez que tem que entregar os automóveis, garantir o serviço de oficina e reparações e prestar apoio ao cliente, entre outros.
A Volvo acompanha os seus clientes quando escolhe os veículos de baixas emissões mais adequados para as suas empresas?
Sempre, com sugestões e aconselhamento. Cada caso é um caso. O numero de quilómetros por mês, a facilidade de carregamento das viaturas, fazemos sempre uma avaliação para garantir que a melhor opção é viabilizada.
Temos ainda diferentes incentivos, em consonância com a fiscalidade local. Também os clientes (principalmente Empresas Globais) que operam no nosso mercado têm uma política que desafia as emissões de CO2 na aquisição da sua frota, e a Volvo cumpre-a.
Que alternativas – para além dos automóveis – sugere a Volvo para as empresas que visam a redução das suas emissões de CO2? Outras formas de mobilidade? A partilha de automóveis, por exemplo?
Estamos concentrados na redução de CO2 com base na nossa transformação para veículos eletrificados – a mesma faz parte de uma das nossas três promessas de sustentabilidade – a “ação climática”.
Mas existem outras formas de reduzir o CO2 para além das emissões de escape:
- Desde há muitos anos, temos a nossa própria empresa de partilha de automóveis, a “M”. A mesma que tem como objetivo proporcionar a mobilidade urbana sustentável.
- Para além disso, exploramos localmente diferentes soluções de mobilidade, como nos EUA e em Itália.
Gostaria de explorar e testar algo semelhante aqui em Portugal, porque penso que é um componente muito importante para alcançar a nossa promessa de sustentabilidade e também para transformar a indústria.
Sabemos que os automóveis circulam com apenas um passageiro, em média – especialmente durante as horas de ponta quando há engarrafamentos – e que o automóvel só é utilizado em 3% da sua capacidade total (o que significa que fica parado horas, dias, meses, ao longo da sua vida útil).
O meu sonho é encontrar um modelo de negócio onde:
- Mudemos os nossos hábitos de utilização do automóvel e ofereçamos soluções de partilha / mobilidade como complemento à nossa oferta atual;
- Façamos algo extraordinário para reduzir o impacto climático negativo da nossa indústria;
- Asseguremos a rentabilidade da nossa empresa.
Se tivéssemos um número suficiente de clientes que aderissem a uma solução destas já seria um excelente começo.
Têm soluções de cobrança para as empresas?
Para assegurar que os nossos clientes podem facilmente carregar os seus automóveis em locais de carregamento público aqui em Portugal e quando viajam para o estrangeiro, todos os nossos clientes recebem um cartão CEME e um cartão Plugsurfing carregados com um valor de 50 kW.
Temos também boas ofertas para o carregamento doméstico (iguais independentemente de se tratar de clientes de frota ou clientes particulares). Esta oferta inclui instalação e apoio ao cliente. Atualmente e por exemplo, temos a oferta da Wallbox para o nosso XC90 PHEV que é oferecida tanto para PME como para clientes privados.
Com o aumento das matrículas de automóveis elétricos em Portugal, como irá a Volvo satisfazer esta procura? Está a planear lançar novos modelos 100% elétricos em breve?
A evolução das matrículas de automóveis elétricos no país é algo que pensamos ser magnífico. A Volvo Cars está empenhada em veículos elétricos e todos os novos modelos que lançarmos nos próximos anos serão 100% elétricos e vamos ter novidades ainda este ano!
Os incentivos do Fundo Ambiental para a aquisição de automóveis elétricos de passageiros por empresas desapareceram em Portugal. Considera a Volvo Car Portugal que a falta deste incentivo pode atrasar a transição energética?
O atual incentivo fiscal, tal como o IVA dedutível, a isenção de IUC e Tributação Autónoma nos 100% elétricos, e também nos PHEV dão um enorme impulso a esta transição energética.
Tanto quanto sei, o sistema fiscal para as nossas empresas ainda é favorável e apoia a nossa transformação. Além disso, as soluções financeiras que são oferecidas pelas empresas de leasing permitem que os consumidores sejam fãs da Volvo, e não vemos um grande problema com isto.
Até 2030 a Volvo quer ser uma marca 100% elétrica, mas antes disso, até 2025, 50% do volume de vendas da marca deverá ser de veículos movidos a bateria. Dadas as atuais restrições – logísticas, fornecimento de semicondutores e outros componentes – espera ser capaz de cumprir estes objetivos?
Acreditamos verdadeiramente nesta estratégia, primeiro porque estes veículos são muito melhores para o nosso planeta, segundo porque apostamos num segmento de mercado que está em expansão. Além disso, acreditamos que é a melhor opção para os nossos clientes.
Estamos a trabalhar de perto com os nossos fornecedores, internamente em diferentes departamentos e localmente junto dos nossos concessionários. Tudo isto para assegurar transparência, alinhamento e soluções conjuntas para os desafios que enfrentamos.
Embora muito provavelmente vejamos um crescimento marginal em relação ao ano passado e experimentemos alguma incerteza, as nossas ambições a longo prazo relacionadas com a eletrificação permanecem.
Os nossos concessionários estão a fazer um trabalho fantástico nestes tempos desafiantes. Respeito verdadeiramente o seu esforço e todas as duras discussões que precisam de ter com os clientes quando comunicam prazos de entrega. Fazem-no realmente bem, pois vemos que os clientes continuam interessados nos nossos produtos.
Que efeitos terá esta escassez de componentes a médio/longo prazo no preço dos veículos e, principalmente, nos descontos concedidos às empresas?
Hoje vivemos a tempestade perfeita:
- Escassez de semicondutores
- COVID-19 na Asia
- Guerra a Leste
- Desafios macroeconómicos como a inflação, aumento das taxas de juro ou aumento do custo dos materiais.
No entanto, a nossa estratégia mantém-se. Para os nossos clientes, e para os clientes de todas as outras marcas, isto significa tempos de espera mais longos. Sofremos com esta situação como qualquer outro fabricante de automóveis e infelizmente não podemos fazer magia.
Nestes tempos turbulentos há uma pressão enorme sobre os descontos e as margens, temos que manter o foco e proteger os nossos clientes e o negócio.
Recentemente, a Volvo Cars foi considerada a marca mais sustentável no Índice de Marca Sustentável, recebendo a mais alta classificação pelo seu desempenho de sustentabilidade pela EcoVadis. Também recebeu uma classificação de bronze na Avaliação de Sustentabilidade Empresarial pela Standard & Poor’s. Que passos está atualmente a Volvo Car Portugal a dar nesta direção?
A Volvo Car Portugal tem as mesmas ambições que a Volvo Car Coorporation no que diz respeito à minimização do nosso impacto climático.
Enquanto falamos, estamos a definir e a detalhar a nossa estratégia de sustentabilidade e a interagir estreitamente com os nossos concessionários para compreender a nossa pegada ecológica, o nosso baseline.
Brevemente apresentaremos o nosso ambicioso plano com prioridades específicas e concretas nesta matéria.