O ano é 1861 e o engenheiro alemão Nikolaus Otto constrói o primeiro motor de combustão interna, a quatro tempos, movido a gás. Este motor começaria a substituir os velhos motores a vapor em aplicações industriais. Graças a uma eficiência nunca até então vista e ao seu baixo peso, tornar-se-ia o motor ideal para uma das mais importantes invenções da Segunda Revolução Industrial: o automóvel. Durante esse período assistimos a avanços extraordinários na ciência, na medicina e nos transportes, para além de uma prosperidade económica sem precedentes.

Voltando ao início, e se me é permitido romantizar, o automóvel alimenta um instinto que nos acompanha desde o início dos tempos – a liberdade de vaguear, sem destino. Instinto imortalizado, no nosso tempo, pela agência de comunicação SCPF num dos mais inspirados spots publicitários de sempre, criado em Espanha para uma conhecida marca de automóveis de Munique, com o título “Mano”: um automóvel em andamento e a mão do condutor fora da janela, a jogar com o vento.

Contudo, todo este progresso trouxe com ele uma fatura que estamos a pagar e que vai aumentando de dia para dia. O aumento massivo da emissão de gases com efeito de estufa (GEE) está a alterar drasticamente a nossa atmosfera, o nosso clima e, consequentemente, o nosso estilo de vida.

Numa corrida contra o tempo, as organizações intergovernamentais, incluindo as Nações Unidas, mobilizam-se no sentido de promover a redução da emissão de gases com efeito de estufa, o aumento da eficiência energética ou o aumento da percentagem de consumo de energias limpas. Por sua vez, as empresas estão atualmente a adotar, cada vez mais, modelos de gestão que contemplem critérios ambientais, sociais e de boa governança nas suas operações, o largamente conhecido ESG. Fá-lo-ão tanto por acreditarem nestes princípios, como por pressões externas exercidas tanto por stakeholders como por novas orientações legislativas, como é o caso da nova Diretiva europeia de Relatório de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) obrigatória a partir de 2024.

Como seria de esperar, parte dos requisitos de divulgação desta nova diretiva dizem respeito às emissões de GEE, divididas por âmbitos, por esta ordem: âmbito 1, emissões diretas do consumo de combustíveis e gás; âmbito 2, emissões indiretas resultantes da compra de energia; e âmbito 3, todas as restantes emissões indiretas que não se contabilizam no âmbito 2, como por exemplo emissões resultantes de viagens de negócios.

Catalogadas dentro do âmbito 1, as emissões resultantes do uso da frota são um desafio para o qual procuramos as mais inovadoras soluções, de modo a cumprir as metas de descarbonização implementadas por acordos como o Green Deal.

A frota do dstgroup caracteriza-se pela grande variedade de tipologias, abarcando desde veículos pesados de quatro eixos até pequenas trotinetes. Trotinetes, bicicletas e buggies são, de resto, exemplos de meios-leves da nossa frota que nos permitem deslocar pelos 120 hectares do nosso campus sem emissões de GEE. A incorporação de veículos 100% elétricos e híbridos plug-in e postos de carregamento para estes veículos no nosso campus é outra das medidas que nos possibilita reduzir a intensidade carbónica da nossa frota.

A sensibilização dos trabalhadores para a condução ecológica, a limitação de velocidade máxima e a monotorização, em tempo real, através da plataforma Cartrack, permitem-nos também controlar e melhorar a eficiência energética.

No segmento de veículos pesados, estamos atentos às novidades deste sector em que, neste momento, se pesquisa incessantemente por alternativas viáveis aos combustíveis fosseis. Apesar deste constrangimento, implementámos ferramentas para a otimização das rotas e das cargas, de modo a garantir que as emissões de GEE neste segmento sejam não mais do que as estritamente necessárias.

No seu conjunto, estas medidas permitiram-nos reduzir até 10% a intensidade carbónica da nossa frota, relativamente ao ano de 2018. No entanto, acreditamos que a chave para reduzir as emissões provenientes do tubo de escape reside na partilha. Com isso em mente, a nossa empresa innovationpoint desenvolveu uma plataforma e uma app para smartphones que permite agilizar a partilha de boleias ou o envio de pequenas mercadorias pelos nossos trabalhadores, que já acumulou até hoje mais de três mil boleias. A mudança de paradigma do veículo individual para o veículo comunitário permitir-nos-á reduzir o número de veículos nas estradas e, consequentemente, as suas emissões.

Se acreditamos que esta mudança de paradigma é o melhor para o dstgroup, acreditamos igualmente que é o melhor para a nossa sociedade e assim o demonstrámos ao assinar o Pacto de Mobilidade Empresarial de Braga, uma iniciativa promovida pelo BCSD Portugal e pela Câmara Municipal de Braga que postula uma mobilidade mais sustentável na nossa comunidade. Consequência desta iniciativa é a parceria que estabelecemos com os Transportes Urbanos de Braga (TUB) da qual resultou uma rota de transportes públicos que contempla o nosso campus.

A libertação da cultura do carro pessoal obriga-nos a reimaginar como nos deslocamos e como nos relacionamos. Uma aposta assente em vias de comunicação amigas dos meios leves, planeamentos urbanos que permitam que as pessoas vivam perto dos seus empregos e um investimento muito forte nos transportes públicos será sempre uma aposta ganha e com melhores resultados para o ambiente, do que uma simples transição de combustíveis fósseis para outra fonte de energia.

Em março de 2019, a FLEET MAGAZINE publicou uma reportagem sobre a frota do dstgroup. “Cultura da economia e da partilha” resulta de uma entrevista com André Gonçalves, gestor de frota da empresa.