ricardosilvaCom a forte queda do valor de vendas dos veículos usados e respetivas consequências nos valores residuais, continua o renting a ser a melhor solução?

Num momento em que todos estamos pressionados a reduzir custos, somos forçados a colocar tudo em causa. O modelo de aquisição de veículos não escapa a esta realidade até porque, na generalidade das empresas, representa uma boa fatia da despesa.

Sucede que, há meses atrás, participei num seminário relacionado com gestão de frotas em que um responsável de frota de uma empresa referiu estar a regredir no modelo de aquisição de renting para a compra directa, com base no princípio de que os valores residuais estimados pelos prestadores de renting estavam a reduzir decorrente da queda do valor de venda dos veículos usados.

Se um responsável de frota profere esta afirmação, provavelmente outros o farão, de forma que é fundamental esclarecer um ponto tão importante para quem gere frotas. Esta perceção está errada, uma vez que os dados indicam precisamente o oposto.

O primeiro indicador nesse sentido está relacionado com as perdas obtidas na venda de veículos usados por parte das empresas de renting. Ou seja, estão a vender os veículos usados a um preço (muito) inferior ao que haviam estimado, fruto da conjuntura económica que se vive e que lhes era impossível antecipar.

Se as empresas de renting estão a perder dinheiro na venda dos usados, significa que, quem optou ou tivesse optado por uma modalidade sem cobertura deste risco, incorreria nessa perda. Esta é, aliás, uma das maiores vantagens do renting, a isenção de risco por parte do consumidor que, de 2009 até final de 2012, correspondeu à módica quantia de 200 milhões de euros. Ou seja, os consumidores que recorreram ao renting evitaram perdas conjuntas na ordem dos 200 milhões de euros, o que significa que aqueles que não recorreram…

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Posto isto pensei: “Bom, talvez quem pense desta forma assuma que os valores residuais estão tão baixos que só podem subir”. É um pensamento legítimo, mas que peca num grande pormenor: os valores de venda dos usados estão em queda há quatro anos consecutivos, não sendo expectável que retomem aos valores passados. Ou seja, não é expectável que haja subida nos valores de venda dos veículos usados, o que inviabiliza este pensamento.

No gráfico é possível constatar essa realidade e outra tão ou mais importante. O ritmo de descida dos valores de venda dos veículos em usado é superior ao ritmo de descida dos valores residuais inicialmente projetados pelas empresas de renting, o que significa, portanto, que estas empresas estão a cobrir cada vez mais risco.

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No entanto, há ainda um outro fator, também ele decisivo, que complementa esta conclusão. Fruto da saudável concorrência que existe no sector do renting, as empresas de renting não conseguem refletir a queda efetiva do valor de venda dos veículos em usado nos seus valores residuais. A necessidade de fazer negócio obriga-as a considerarem valores residuais competitivos, fazendo com que, mesmo que exista futuramente uma ligeira melhoria nos valores de venda dos veículos em usado, os valores residuais das empresas de renting continuam a ser, infelizmente para elas, superiores ao real valor de venda do usado, conforme se pode verificar no gráfico anexo.

Também neste caso é possível verificar que o ritmo da queda dos valores de venda dos veículos usados é superior à tendência de decréscimo das estimativas das empresas de renting. Ainda que as estimativas de valores residuais por parte das empresas de renting estejam a descer, estas não só continuam a cobrir risco como estão a cobrir mais risco. 

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Conclui-se, portanto, que o renting não só continua a ser a forma mais eficiente de gerir frotas, de cobrir risco e garantir previsibilidade de custos, como a tendência futura ainda reforça esse posicionamento, quer a frota em causa seja grande ou de apenas um só automóvel.

Espero, com esta análise, que o tenha ajudado a tornar a gestão da sua frota ainda mais eficiente e fácil. 

(originalmente publicado na edição nº 17 da Fleet Magazine. Veja o PDF aqui)