Os desafios colocados aos gestores de frotas em 2023 manter-se-ão e ainda não existem sinais inequívocos da alteração das circunstâncias vividas durante o ano que passou. Esta é a infeliz realidade resultante da persistência das adversidades que têm afetado o mercado automóvel de forma significativa e com especial impacto em Portugal.

A realidade em que vivemos

Não se vislumbram melhorias nos prazos de entrega de veículos novos cujos prazos de entrega estão, em média, superiores a seis meses, assim como se mantêm elevados os tempos de reparação de veículos sinistrados ou com avarias, numa média que, de acordo com dados LeasePlan, ultrapassa os 18 dias, o triplo do tempo médio pré-COVID.

Por outro lado, apesar da inflação apresentar sinais de algum abrandamento, ainda não impede a continuidade do ciclo de aumento das taxas de juro imposto pelos bancos centrais para a combater. Desde janeiro de 2022, as taxas de referência no mercado para as várias maturidades subiram cerca de 3,5% e a expectativa é que os custos de financiamento continuem a subir ligeiramente durante a primeira metade do ano em curso.

O impacto do aumento dos juros é complementarmente alavancado pelo maior capital a financiar decorrente do aumento do preço dos veículos e da redução dos descontos por parte dos fabricantes.

Finalmente, a tributação automóvel em vigor acentua os efeitos nefastos para as empresas desta conjuntura, quer por via do IVA aplicado sobre as rendas mensais quer por via da Tributação Autónoma aplicável aos custos incorridos com os veículos.

A agregação de todos estes efeitos está apresentada neste gráfico que espelha a evolução do último Índice TCO da LeasePlan apresentado no passado mês de novembro na Conferência Gestão de Frotas da Fleet Magazine. Em apenas seis meses (de março a outubro de 2022) assistimos a um aumento de 20% no TCO de um mix de 100 veículos de segmentos e motorizações representativos do mercado nacional:

  • Os juros do financiamento representam 30% do total deste aumento;
  • Os custos com combustível/energia 28%;
  • A tributação responde por 23%;
  • A amortização de capital representa 13%;
  • Os custos de exploração do veículo (manutenção, pneus, seguros, entre outros) representam apenas 6% do aumento, mas existe uma forte pressão para que esta parcela ganhe maior relevância atendendo ao aumento dos custos de matérias-primas e mão-de-obra que os suportam.

Os desafios colocados aos gestores de frotas

Não existe memória de um impacto tão significativo e duradouro da conjuntura externa no mercado automóvel. As políticas de frota das empresas ficaram pura e simplesmente desatualizadas e impossíveis de exercer em resultado dos aumentos de preços e da falta de veículos.

Os plafonds mensais de rendas definidos para cada nível hierárquico nas empresas já não acomodam as marcas e modelos pré-selecionados nas configurações de contratação definidas. Esta incompatibilidade repentina está a obrigar as empresas a implementar soluções que atenuem o aumento de custos que não são acomodáveis nos seus orçamentos anuais e, simultaneamente, a gerir a insatisfação dos colaboradores, cuja expectativa é fortemente abalada quando tomam consciência do nível do veículo a que podem aspirar com base no plafond que lhe está atribuído.

As empresas estão também condicionadas pela necessidade de iniciar os processos de consulta e contratação com muito maior antecedência para fazer face aos prazos de entrega superiores a seis meses na maioria das marcas, sendo que essa antecipação nem sempre garante a manutenção do preço do veículo que vigorava na data de encomenda, nem que o veículo vá, efetivamente, ser fornecido na data inicialmente estimada.

Vive-se uma enorme incerteza, incompatível com processos de tomada de decisão sustentados. Metaforicamente, vamos navegando à vista com pretensão de manter um rumo, mas sem garantia das condições em que chegaremos a terra.

Recomendações para gerir a incerteza e a inflação

A conjuntura atual representa um impacto relevante, mas abre igualmente o espaço de reflexão sobre oportunidades que de outra forma não seriam sequer equacionadas. Existem soluções para enfrentar o contexto atualmente adverso e o renting constitui um ótimo instrumento para ultrapassar todas as condicionantes existentes.

Os dogmas a que as políticas de frota possam estar vinculadas, podem e devem ser questionados na busca de soluções que melhor combinem os menores custos totais de utilização (TCO), a adequabilidade do veículo ao trabalho a que será assignado e a satisfação dos colaboradores enquanto beneficiários de um veículo que lhes é atribuído pela empresa.

I. Prolongamento de contratos

Atualmente, a medida mais comum e imediatista aplicada pelas empresas é o prolongamento de contratos. Desde há dois anos que constitui uma inevitabilidade face à inexistência de veículos para fornecimento em prazos curtos.

Naturalmente, é uma medida transitória e de cariz tático, mas que tem sido adotada pela generalidade das empresas. A renda mensal que resulta do prolongamento do contrato será superior à renda inicial pelas razões inflacionistas referidas anteriormente, mas sempre uma opção menos onerosa que a contratação de um veículo novo na mesma configuração contratual. Esta medida permite às empresas reduzir desvios orçamentais e ganhar tempo para avaliar que alterações estruturais deverão implementar nas suas políticas de frota.

Recomenda-se que seja explicitada aos colaboradores a razão do prolongamento assim como as consequências de não o fazer, que poderiam bem resultar na necessidade de redução do segmento ou versão de equipamento do futuro veículo.

II. Acelerar o processo de transição para a Mobilidade Elétrica

O aumento dos custos de utilização de veículos é muito menos relevante nos veículos elétricos em resultado dos benefícios fiscais de que estes beneficiam e do aumento do preço dos combustíveis desde há um ano. O estudo Mobilidade 2023, apresentado pela LeasePlan no final do ano passado, concluiu que no mercado nacional existem já opções suficientes de veículos 100% elétricos, em quase todos os segmentos e perfis de quilometragem anual, com custos totais de utilização menores que os de veículos a combustão. A conjugação destes fatores representa uma excelente oportunidade para as empresas impulsionarem a migração para a mobilidade elétrica, ainda antes de 2035, ano a partir do qual os veículos a combustão deixarão de ser vendidos na Europa.

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Além disso, a infraestrutura de carregamento pública é cada vez mais abrangente e existem já soluções de carregamento alternativas, para casa e para o escritório, mais económicas e funcionais, e capazes de distinguir automaticamente os carregamentos assumidos pelo colaborador dos assumidos pela empresa.

III. Atualizar Políticas de Frota

Perante o cenário inflacionista que vivemos e a elasticidade limitada dos orçamentos das empresas, estas devem explorar várias possibilidades para amortecer o impacto do aumento de custos. Entre outras, poderão ser exploradas as opções de celebrar contratos por prazos mais longos, de reduzir o segmento ou o equipamento dos veículos assim como considerar a incorporação de novas marcas nas suas políticas de frota. Estas soluções poderão sofrer de alguma resistência por parte de várias partes interessadas pelo que se recomenda que esta possa ser compensada de alguma forma por via de um ajustamento dos plafonds face à nova realidade de preços de mercado.

IV. Soluções de renting mais flexíveis

Outra das soluções que melhor recetividade tem tido no mercado empresarial são os alugueres de mais curto prazo, dado que permitem às empresas evitar compromissos mais duradouros num momento em que os preços estão inflacionados.

São exemplo destas soluções flexíveis o renting de veículos usados e o FlexiPlan.

A primeira tem tido um enorme sucesso pelo facto de se tratar de um renting de prazo reduzido, aplicável a veículos usados, mas em bom estado de conservação, que beneficia das mesmas garantias de um veículo novo, enquanto permite evitar o downgrade do segmento.

No caso do FlexiPlan, a flexibilidade advém de possibilitar acesso imediato a um veículo e com o qual pode percorrer uma quilometragem ilimitada e ter a possibilidade de terminar o contrato a qualquer momento sem qualquer penalização.

V. Comunicação

O aumento significativo nos preços abalou de alguma forma toda a atividade económica e isso exige explicação e clarificação. Na LeasePlan temos assumido esse compromisso, uma vez que o aumento incontornável dos valores dos alugueres mensais do renting tem alguma complexidade considerando que integra várias cadeias de fornecimento do mercado automóvel.

Ao longo dos últimos meses, através de diversas publicações de que é exemplo o Boletim Trimestral do Mercado Auto, temos tido a oportunidade de explicar, aos nossos clientes e ao mercado em geral, as causas e consequências de todos os impactos que afetam o sector automóvel.

Também os colaboradores das empresas precisam de se manter informados. A comunicação regular com estes será um instrumento determinante para a manutenção dos seus níveis de satisfação.

Esta necessidade vai continuar a existir ao longo de 2023, até que o mercado volte a reequilibrar.

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Quando voltará o equilíbrio ao mercado?

Não antes de 2024. Existem ainda muitas incógnitas por determinar e não é percetível qual o ponto de equilíbrio futuro no mercado automóvel apesar de algumas afirmações mais ou menos convictas por parte dos vários players.

É expectável que a inflação regresse à normalidade a médio prazo e perspetivam-se várias alterações no mercado automóvel, desde o crescimento da oferta de marcas e modelos, a alterações nos modelos de distribuição e à recuperação da capacidade produtiva das fábricas e consequente regresso aos tempos de disputa de quotas de mercado.

Só não é possível identificar em que momento no tempo todas estas variáveis coincidiram no tempo.

Seja em que momento for, o renting continuará a representar uma proposta de valor incontornável que, especialmente em tempos de crise, acentua a sua relevância e pertinência, contribuindo para que as empresas atravessem estes períodos com menos constrangimentos.