A história portuguesa é intrincadamente tecida por uma diversidade regional que, em muitos casos, define o curso e o caráter do nosso país. Quando abordamos o tema da mobilidade e, em específico, o automóvel, Portugal revela uma riqueza e complexidade notáveis. Neste contexto, é impossível não destacar o papel proeminente que o Norte tem desempenhado ao longo dos anos.

Desde os primórdios do século XIX, quando os primeiros veículos motorizados circularam nas nossas estradas, a região Norte mostrou-se ávida por abraçar esta inovação. O Porto, com a sua dinâmica comercial e o pulsar da indústria, rapidamente se tornou um bastião da mobilidade automóvel, com o surgimento das primeiras empresas dedicadas ao comércio automóvel, assim como com a realização do I Salão Automóvel, no ano de 1914, aspetos que reforçam a precedência que o Porto tem sobre o resto do país no domínio do comércio automóvel.

O sector automóvel, neste contexto, encontrou no Norte um terreno fértil para crescer e consolidar-se. Empresas floresceram, aproveitando a mão-de-obra qualificada, a proximidade de infra-estruturas essenciais e uma mentalidade empresarial focada. Esta dinâmica não apenas serviu o mercado nacional, mas também encontrou caminho além-fronteiras.

Os dados da ACAP reforçam este facto: entre janeiro e junho de 2023, cerca de 25% dos veículos automóveis fabricados em Portugal foram produzidos no Norte. E teremos naturalmente de salientar o peso das empresas produtoras de componentes para a indústria automóvel, nesta região.

Contudo, se há um aspeto que realmente merece destaque é a veia inovadora da região. O CEiiA, em Matosinhos, tornou-se um símbolo de inovação, pesquisa e desenvolvimento no sector automóvel. O seu trabalho, orientado para a sustentabilidade, a engenharia avançada e a mobilidade do futuro, tem elevado Portugal no panorama global.

Não podemos ignorar também os números recentes que nos dão um retrato do mercado automóvel a nível nacional. Em julho de 2023, Portugal registou um crescimento de 9,9% face ao mesmo período do ano anterior em termos de mercado automóvel de ligeiros e pesados.

Contudo, mesmo com essa evolução positiva, este crescimento sofreu uma desaceleração notável quando comparado ao crescimento médio de 45,4% observado no primeiro semestre do ano. Importa ainda salientar que, apesar destes números, o mercado, em termos gerais, ainda se encontra 15,7% abaixo dos níveis pré-pandémicos de 2019.

Em jeito de conclusão, ao refletir sobre a trajetória do automóvel em Portugal, reconhecemos não apenas a importância histórica do Norte, mas também o seu papel vital no presente e, certamente, no futuro. A ACAP, orgulhosa da sua relação com todos os intervenientes da indústria automóvel, vê no Norte um exemplo de resiliência, inovação e visão.

Aliás, a ACAP tem origem na fusão dos Grémios do Comércio e Indústria Automóvel do Sul e do Norte. A nossa Delegação do Porto era a sede do Grémio do Comércio e Indústria automóvel do Norte. Daí, sermos no panorama do sector automóvel, a única Associação que foi criada com um âmbito verdadeiramente nacional.

É com este espírito que encaramos o horizonte, certos de que o Norte continuará a ser uma peça chave na engrenagem automóvel portuguesa.