No âmbito a transição climática, a indústria automóvel é uma parte da solução para a redução das emissões poluentes e de gases de efeitos de estufa.
É a que mais tem investido em I&D na União Europeia, o que permitiu, em 20 anos, uma descida de 45% nas emissões de CO2 dos veículos automóveis.
É também o sector económico que mais reduziu as emissões nos últimos anos.
Além de melhorar o desempenho ambiental nas fases de produção e de utilização, os fabricantes de automóveis têm promovido, em parceria com os operadores de reciclagem, uma utilização mais circular dos materiais presentes no automóvel. Quando este atinge o fim de vida, os veículos são reaproveitados, sob a forma de material ou energia, em mais de 95%.
E em termos de diversidade, a indústria passou a ter uma oferta bastante alargada de veículos, em termos de tipo de energia, sempre com foco em modelos de baixas emissões.
Em 2020, as vendas de veículos elétricos representaram 5,4% do mercado português e o conjunto de veículos eletrificados constituiu 13,4%, valor que compara com 11,9% na União Europeia.
O sector automóvel tem um forte peso na economia nacional, representando 15% das exportações totais.
O automóvel é o produto mais exportado.
Adicionalmente, representa 21% do total de receitas fiscais.
No entanto, foi um dos sectores mais afetados por esta crise pandémica, com o mercado automóvel de ligeiros de passageiros a sofrer uma queda de 35% face ao ano de 2019.
Foi a terceira maior queda percentual, não só em todos os 27 países da União Europeia, mas também em comparação com o Reino Unido.
No mês de janeiro, e só em parte em virtude do confinamento, o mercado automóvel caiu 31%, quando a contração média da União Europeia foi de 24%.
Em fevereiro, com todo o mês em confinamento, a queda foi de 59%.
A mudança no comportamento dos consumidores, o aumento da consciência ambiental, o peso da apertada regulamentação europeia, assim como a concretização do “Green Deal”, potenciam um ecossistema de mobilidade sustentável, onde o automóvel desempenha um papel crucial na transição energética e no desejado processo de descarbonização.
Assim, a aposta em veículos eletrificados é fundamental par ao cumprimento dos referidos objetivos de redução de emissões na próxima década.
Adicionalmente, é necessário que todos os estados-membros da União Europeia contribuam de forma harmonizada e holística para atingir estas metas.
Por conseguinte, os governos desempenham um papel crucial nesta transição energética, no apoio à mobilidade elétrica e no relançar da economia.
Todavia, a proposta de programa nacional de recuperação e resiliência (PRR), nada propõe, lamentavelmente, a este respeito.
Acresce um fator muito penalizador: a publicação do despacho sobre veículos elétricos, onde os incentivos à compra destes veículos foram reduzidos drasticamente para empresas, em contraciclo com políticas seguidas noutros estados-membros, que reforçaram os apoios à sua aquisição.
Termina, assim, para as empresas, a vantagem comparativa relativamente a veículos do mesmo segmento a combustão interna, especialmente no momento de forte incerteza que atravessamos.
No que respeita ao referido PRR, a ACAP apresentou uma proposta no âmbito do processo de discussão pública.
Propusemos que, no ponto referente à mobilidade sustentável, seja previsto um programa específico de apoio à mobilidade elétrica, por forma a incentivar a percentagem destes veículos no mercado.
Deve, também, ser previsto o reforço dos pontos de carregamento de veículos eletrificados. Portugal deve seguir a tendência definida a nível europeu, aumentando para um milhão em 2024 e para três milhões em 2029.
Na versão apresentada pelo Governo, o ponto referente à mobilidade sustentável apenas prevê o alargamento da rede de metropolitano em Lisboa e Porto.
Não tendo nada contra esta medida, consideramos que é claramente insuficiente quando estamos a falar da mobilidade sustentável do país no seu conjunto.
De igual modo, aquela proposta nada diz no que se refere à necessária renovação de um dos parques mais envelhecidos da Europa.
Contrariando, até, aquilo que a Comissão Europeia apresenta como propostas para uma mobilidade “clean, smart and fair” e nas suas “guidelines”, para os planos de recuperação nacionais.
Assim, a ACAP propõe, de novo, a inclusão da criação de um incentivo ao abate de veículos com mais de dez anos, substituindo-os por veículos novos com emissões muito mais reduzidas ou mesmo sem emissões.
Contribui-se assim, também, para uma maior segurança rodoviária, ao fomentar a utilização de veículos equipados com tecnologias modernas e mais seguras.
Este plano de renovação do parque circulante permitirá retirar de circulação veículos com emissões médias de 170 gramas de CO2/km, substituindo-os por veículos com emissões médias de 95 gramas.
Segundo os nossos cálculos, um plano que abrangesse 40 mil veículos, levaria a uma redução de 10.800 toneladas de CO2 e a uma poupança energética de 3,2 milhões de litros de combustível/ano – equivalente a 33.200 barris de petróleo.
Em conclusão, a recente proposta de PRR, assim como o Despacho sobre incentivos à compra de elétricos, demonstram uma falta de estratégia do Governo no que respeita à mobilidade elétrica em Portugal.
Se a proposta de PRR não for alterada, como a ACAP propõe, esta será uma oportunidade perdida.