POR MIGUEL VASSALO, COUNTRY MANAGER AUTOROLA. É COLABORADOR REGULAR DA FLEET MAGAZINE

 

O futuro do trabalho é um dos temas mais quentes da actualidade. Em que medida a robotização e a inteligência artificial (IA) vão afetar o emprego tem sido objeto de vários estudos e as suas conclusões estão longe de ser consensuais. Na verdade, ainda não é claro se no futuro teremos aumento ou diminuição de postos de trabalho devido à inovação tecnológica, mas parece inevitável que os empregos do futuro vão ser muito diferentes dos que conhecemos hoje, assim como muito provavelmente as relações e vínculos laborais.

Já era mais ou menos expectável o impacto negativo que esta transformação poderia ter em níveis de qualificação mais baixos em contexto de trabalho rotineiro. No entanto Kai-Fu Lee, um dos mais respeitados especialistas mundiais em IA, junta-se a outras autoridades e prevê, no seu livro “As Superpotências da Inteligência Artificial – A China, Silicon Valley e a Nova Ordem Mundial”, que a tecnologia irá impactar negativamente também funções e tarefas mais complexas e trabalhadores mais qualificados.

Uma alteração tão rápida e profunda significa que governos, empresas e indivíduos enfrentam escolhas importantes. A adaptação a uma composição da força de trabalho à luz de uma rápida alteração tecnológica é um enorme desafio, uma vez que a produtividade e eficiência com que se faz a transição para novas funções dependerá da capacidade de desenvolver novas competências.

Sabe-se que a formação tecnológica será essencial, mas também o serão as áreas que estejam relacionadas com competências emocionais diferenciadoras.

Mais importante que um trabalhador se qualificar para uma profissão, é adquirir e praticar constantemente um conjunto de competências que lhe assegurem competitividade no mercado laboral, realização profissional e que em última instância o distingam das máquinas.

As questões associadas ao futuro do trabalho começam desde já a manifestar-se de muitas formas. No caso da indústria automóvel assistimos a alterações aparentemente subtis, mas com um profundo significado. A transformação radical de fabricantes de hardware (o automóvel) para fornecedores de serviços de mobilidade conectada está em curso e vai impactar tremendamente não só a estrutura organizacional dos construtores como toda a cadeia de valor. Assumindo desde já diferentes configurações e velocidades, a alteração de paradigma aponta para que se esteja a seguir os passos das grandes empresas tecnológicas e de electrónica de consumo tentando garantir que a rápida alteração das necessidades e exigências dos consumidores é atendida.

Algumas dessas iniciativas têm até envolvido Portugal como destino de centros de competência na área digital. Casos como o da Mercedes-Benz Digital Delivery Hub, da Critical TechWorks – resultado de uma joint venture entre o grupo BMW e a portuguesa Critical Software – e mais recentemente o centro de desenvolvimento de software do grupo Volkswagen têm feito capas nos jornais nacionais.

O estudo “Global Skills Index 2019” elaborado pela conhecida plataforma de aprendizagem online Coursera conclui que os profissionais da indústria automóvel estão actualmente abaixo da média, quando comparados com outras indústrias, em domínios como a Gestão, Tecnologia e Ciência de Dados. O que só por si poderá ilustrar a dimensão do desafio de adaptação, neste caso, no que a competências técnicas fundamentais no futuro da era digital diz respeito. E a tendência será para aumentar em intensidade e velocidade.

O mundo está a mudar rápido. As necessidades de reconversão profissional e formação ao longo da vida, mesmo para quem está empregado, devem portanto em todas as indústrias e funções, desde já ser encaradas de forma séria e uma prioridade para estados, organizações e trabalhadores.