A questão colocada no título na altura em que escrevo pode soar provocatória considerando a atual conjuntura económica e política, tanto a nível nacional como internacional, com dois conflitos armados em curso com impacto mundial e uma Europa com um desempenho económico globalmente sofrível e, desde há um longo período, sob o jugo de uma inflação resiliente e de uma política de taxas de juro elevadas, determinadas pelo Banco Central Europeu e com fim ainda não anunciado.*
O contexto generalizado de aumento de preços vivido desde há quase dois anos e o consequente aumento dos custos de utilização de veículos tornou incontornável a oportunidade para a LeasePlan, enquanto líder no mercado do renting e um dos maiores compradores de veículos a nível nacional, de analisar e partilhar com os seus clientes e com o mercado em geral, qual o contributo de cada variável para os aumentos dessa fatia importante nos custos de qualquer empresa frotista.
Essa análise resultou na criação, em outubro de 2022, de um indicador que mede o comportamento do mercado – o TCO Index LeasePlan (Fig. 1) –, benchmark suportado num cabaz de veículos de todas as motorizações e representativos das vendas a nível nacional, sobre os quais procedemos à monitorização dos custos totais de utilização respetivos.
Os resultados apurados no passado mês de outubro apresentam uma nova subida nos custos, mais concretamente um aumento global de 2% em relação à última medição efetuada em março de 2023 e um acumulado de 30%(!) face à primeira medição efetuada há 18 meses atrás. Os fatores com maior peso relativo nesta evolução permanecem os mesmos – a amortização de capital e os juros, ou seja, a trajetória de subida no preço dos veículos e nas taxas de juro volta a ser responsável pela maior parte da degradação dos custos totais de utilização, com aumentos de 6 e 19% respetivamente, apenas nos últimos seis meses. De salientar também o aumento de 9% nos custos de exploração resultantes da pressão persistente neste domínio ao nível do preço das peças e da mão-de-obra.
Inflação e preço dos veículos
A verdade é que, apesar de todos os constrangimentos atuais, alguns indicadores económicos começam a apresentar sinais de alguma estabilização e espera-se poder assistir à inflexão da tendência durante 2024. É o caso precisamente da inflação que se espera ter interrompido a sua trajetória de subida, tendo Portugal apresentado um valor surpreendentemente reduzido no passado mês de outubro. Se este comportamento se mantiver, poderemos antecipar uma descida, ainda que gradual e prudente, das taxas de juro diretoras e perspetivar o impacto positivo que daí resultará para a disponibilidade financeira de empresas e famílias e consequente aumento dos respetivos índices de confiança e retoma da iniciativa para investimentos e consumo, ambos condicionados durante o último ano (Fig. 2).
Se atentarmos em particular para o mercado automóvel, começam igualmente a identificar-se alguns sinais de interrupção na escalada dos preços dos veículos verificada até há poucos meses atrás, por contrapartida da retoma do interesse dos fabricantes de automóveis e respetivas redes de distribuição em colocar produto no mercado recorrendo a políticas comerciais mais ativas e ambiciosas.
O recurso a veículos elétricos ou eletrificados pode e deve ser uma das ferramentas ao serviço das empresas para aliviar o impacto do aumento geral dos preços. A fiscalidade favorável que incide sobre estes veículos e a crescente diversidade na oferta de marcas e modelos, complementada com preços cada vez mais competitivos face aos modelos a combustão, resultará em menores custos totais de utilização para as empresas, assim como na redução do nível de emissões de CO2, objetivo este que está – ou estará –, em breve, na agenda da generalidade das empresas.
Prazos de entrega e de imobilização em oficina
Ao nível da operacionalidade das frotas assistimos a evoluções moderadamente positivas. Os prazos de entrega de veículos novos por parte das marcas encurtaram significativamente e começam a aproximar-se, em alguns casos, dos prazos que vigoravam antes de março de 2020, conforme se pode verificar no gráfico. O recurso ao serviço de veículos de pré-entrega tenderá a perder relevância, mas continua a ser solução para casos ainda não normalizados (Fig. 3).
Por outro lado, a reparação de avarias e sinistros ainda está a ser afetada por tempos de imobilização 62% acima dos verificados no ano de 2019. Tal é resultado da falta de peças e capacidade instalada da rede oficinal para os diagnósticos preliminares e para as intervenções propriamente ditas. A tendência é de descida, mas a recuperação está a ser mais lenta no pós venda do que aquela a que assistimos na produção e fornecimento de veículos novos, razão para que as empresas avaliem o custo/benefício de contratarem produtos de veículo de substituição com cobertura ilimitada de dias por intervenção (Fig. 4).
*são consideradas nas imobilizações por avaria todas as imobilizações superiores a 48 horas em oficina.
Fonte: consultoria LeasePlan Portugal
Antevemos por isso para 2024 um regresso progressivo à capacidade de planeamento dos ciclos de troca por parte das empresas, que já poderão contar com informação mais fidedigna sobre datas esperadas para que as suas encomendas sejam servidas. Por outro lado, no pressuposto do sucesso das políticas implementadas para combate à inflação e da retoma continuada da capacidade produtiva dos fabricantes, é expectável que os custos totais de utilização possam iniciar uma trajetória de descida ainda que ligeira e progressiva.
Renting e elétricos
Na gestão operacional diária dos veículos e, em particular, no que respeita aos seus tempos de imobilização, também se espera a respetiva normalização, ainda que a idade avançada de alguns desses veículos, resultante da extensão dos respetivos contratos e quilometragens, os coloquem em contraciclo com estas melhorias e os mesmos careçam de intervenções mais profundas e, como tal, mais demoradas.
Conforme apresentado anteriormente e salientado ao longo dos últimos meses nesta colaboração regular, o recurso ao Renting é seguramente a opção com maior potencial ao dispor das empresas para fazer face às condicionantes atuais, incluindo diversas soluções adaptáveis à situação particular de cada frota. É um produto ideal para assegurar a cobertura de riscos às empresas, suster os custos e assegurar conveniência e mobilidade à operação da empresas e aos seus colaboradores.
Por outro lado, a adversidade atual pode e deve ser a alavanca para a decisão de rever políticas de frota no sentido de acelerar a transição para veículos elétricos, menos poluentes, com menores custos totais de utilização e, hoje em dia, com um design mais consensual para a generalidade dos seus futuros utilizadores. As barreiras à transição começam a ser cada vez menores, nomeadamente a complexidade e funcionalidade do ecossistema da mobilidade elétrica.
E, nesse sentido, os principais operadores de renting estarão capacitados para o aconselhar e prestar a consultoria necessária para a implementação de uma solução integrada e adequada a cada caso particular.
*Este artigo foi escrito antes de 30 de novembro de 2023