No momento em que este texto for publicado terão decorrido poucas semanas desde o anúncio pela Comissão Europeia (CE) da sua recomendação de prolongamento do prazo para os fabricantes automóveis cumprirem as novas metas de emissões de CO2.
A obrigação seria de uma redução de 15% já em 2025, mas a nova metodologia agora proposta admite que a contabilização das metas seja calculada sobre as emissões dos veículos comercializados até final de 2027.
A notícia tem tanto de surpreendente como de esperada. Por um lado, até à data, eram praticamente inexistentes os sinais de flexibilização por parte da CE da medidaainda em vigor e todos os agentes económicos na Europa aceleravam o seu planeamento no sentido das zero emissões a partir de 2035.
Por outro lado, os decisores políticos europeus parecem agora mais sensíveis aos impactos potenciais da conjuntura económica e geopolítica que se fazem sentir desde o início do conflito militar na Ucrânia e, mais recentemente, às medidas e orientações estratégicas seguidas pela nova administração dos Estados Unidos da América, no poder há dois meses, muito atuante e disruptiva dos equilíbrios que vigoraram até à sua tomada de posse.
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Eletrificação das frotas pode abrandar?
Talvez não. Se considerássemos apenas a eventual suavização do cumprimento das metas de emissões, seria expectável que o ritmo de eletrificação das frotas a médio prazo na Europa fosse mais lento e também mais incerto pois dependerá sempre de estarem reunidas condições de maior estabilidade política e de maior capacidade competitiva da indústria automóvel europeia, designadamente perante construtores oriundos da China.
Do lado dos fabricantes, a menor pressão para venda de veículos 100% elétricos em 2025 resultaria em políticas comerciais menos ambiciosas e consequentemente menor atratividade destas motorizações para os consumidores, em especial no segmento de particulares.
No entanto, esta proposta da CE poderá vir a ser acompanhada de medidas de incentivo à eletrificação das frotas empresariais. Se tal acontecer, induzir-se-á o aumento da procura que, consequentemente, contribuirá para estimular a oferta e competitividade por parte dos fabricantes, daqui resultando o efeito esperado da efetiva redução de emissões poluentes.
Sem prejuízo de mais este ajustamento no processo global de transição para a mobilidade elétrica, a eletrificação das frotas empresariais nacionais continua a crescer de forma significativa, sustentada nos seus habituais pilares: diversidade da oferta, autonomias mais confortáveis, rede de carregamento mais alargada e uma fiscalidade favorável que torna o TCO dos veículos elétricos e eletrificados mais apelativos que versões não eletrificadas.
Em Portugal, mais de 30% dos modelos comercializados já são de motorizações eletrificadas. Na Ayvens em particular, os veículos eletrificados correspondem já a mais de metade dos novos contratos celebrados, um sinal claro da competitividade perante modelos a combustão assim como da funcionalidade das motorizações elétricas para responder às necessidades das empresas.
Ayvens conquista troféu “Gestora de Frota” nos Fleet Awards Portugal 2024
Estudo Ayvens Mobilidade 2025 – Informação de apoio à decisão nas empresas
A este propósito, a equipa de consultoria da Ayvens acaba de concluir mais uma edição do seu estudo anual sobre o mercado automóvel e a transição para a mobilidade elétrica.
O estudo, que vai já na sua 6ª edição, pretende constituir um instrumento de apoio ao processo de decisão das empresas no sentido da sua própria transição energética, avaliando o comportamento da oferta e da procura no mercado e comparando os custos de utilização dos veículos dos vários segmentos, nas suas diversas motorizações.
Da análise feita (Quadro 1) resulta, sem surpresas, que os veículos eletrificados (100% elétricos + PHEV) são os que apresentam o melhor TCO em 86% das combinações de segmento/quilometragem anual (76%, se considerarmos apenas versões 100% elétricas) uma nova subida face aos já elevados 84% apurados no ano anterior.
Esta percentagem aumenta para 95%, se considerarmos apenas veículos de passageiros e não considerarmos o segmento dos pequenos furgões. Nestes, a combinação entre a dimensão da oferta, autonomias disponíveis e fiscalidade, ainda os mantém pouco concorrenciais com as motorizações a combustão.
Ainda assim, neste segmento, assistimos a um aumento de competitividade do veículo 100% elétrico, uma vez que, nos perfis de utilização acima dos 30.000 quilómetros anuais, a diferença para a motorização a diesel é residual.
Matriz de TCO Ayvens: motorização mais económica em cada segmento por quilometragem anual
Se recuarmos a 2020, a competitividade dos veículos 100% elétricos era muito incipiente com apenas 13% das combinações segmento/quilometragem a apresentar TCO menores. Passados cinco anos, e já desde 2023, esta motorização passou a ser a mais representativa em consequência da cada vez maior oferta em todos os segmentos, de preços de entrada mais competitivos e de condições comerciais praticadas pelas marcas progressivamente mais apelativas.
TCO Index Ayvens e o impacto das alterações fiscais 2025
A última medição trimestral do TCO Index da Ayvens apresenta uma nova descida dos custos totais de utilização para valores mais próximos de novembro de 2022, explicada por novas descidas dos custos com amortizações e juros mas, em maior medida, por um alívio fiscal significativo.
A redução das taxas de tributação autónoma em 2025 e o aumento dos limites dos valores de compra sobre os quais estas incidirão, representaram uma excelente notícia para as empresas, pela oportunidade de poder reduzir custos.
O Quadro 2 apresenta a medição mais recente do TCO Index Ayvens, no qual é bem patente o impacto da redução da parcela de impostos nos custos das empresas.
Estranhamente, e em contraciclo com a necessidade de redução das emissões poluentes, este alívio fiscal aplicar-se-á igualmente nos veículos a combustão o que, em conjunto com o alongar dos prazos dados pela CE aos fabricantes para cumprimento das metas de CO2, mencionados no início deste texto, contribuirá para o retardar da transição para a mobilidade elétrica por parte de algumas empresas.
No entanto, apesar do impacto positivo da nova fiscalidade nas motorizações a combustão, mantém-se a competitividade das motorizações eletrificadas pelo que, por este motivo, poderá resultar no moderar desse abrandamento.
Antes do Verão, voltarei ao vosso contacto com novidades e contributos que se justifiquem neste contexto de enorme volatilidade que poucos se atreveriam a arriscar apostar que se verificaria.